23/09/2005 – SEXTA-FEIRA

O ENCONTRO 10:21 PM

Estados Unidos da América, Boston, Paris St com Bennington St... Liana anda por cerca de duas horas com sua cadeira de rodas até chegar no endereço fornecido: um prédio de três andares repleto de rachaduras e avisos colados do lado de fora do governo alertando o mal estado de conservação da construção. Está frio, enquanto Liana espera que Joseph desça para abrir a porta do prédio ela pensa no que teria acontecido para que depois de tantos anos Joseph a contate. Joseph abre a porta do prédio e ao olhar para Liana os olhares se cruzam como se não quisessem acreditar que estariam juntos novamente, sentimentos indescritíveis de saudades e medo se confrontam dentro de cada um. Joseph não entende porque ela está sobre uma cadeira de rodas, mas a primeira coisa que faz é abraçá-la, um abraço com o calor de uma amiga que ele sabe não irá encontrar mais em nenhuma vida. Ele a carrega no colo até seu apartamento no terceiro andar, a coloca sobre uma cadeira de plástico e enquanto desce para buscar a cadeira de rodas Liana observa aparelhos eletrônicos desmontados, poeira e umidade cobrindo o chão e as paredes. Ao voltar, Joseph ajuda Liana a voltar para a cadeira de rodas, um silêncio mórbido preenche o ambiente, Joseph dá um passo, abaixa-se fronte a Liana e pergunta: - O que aconteceu? Como ficou assim? - Foi um acidente, um acidente de carro, fui atropelada. Respondeu ela. O silêncio é interrompido com o som do porteiro eletrônico. Joseph fica animado ao escutar a voz de Samuel, ele avisa a Liana de sua chegada e logo dá-se a presença de Samuel, Joseph corre e o abraça fortemente, um abraço de um irmão para outro. Samuel ao olhar para Liana fica estupefato e mesmo antes de cumprimentá-la pergunta o que aconteceu para que ela esteja sobre uma cadeira de rodas. Liana explica, diz que fora um acidente ali mesmo em Boston a mais ou menos dois anos, ela foi atropelada acidentalmente. Joseph a interrompe no meio da explicação dizendo que isso não poderia ter sido um acidente e que todos deveriam fazer alguma coisa para descobrir quem poderia ter feito isso. Mas Liana interrompe e repete dizendo que tudo não passou de um acidente, a pessoa que a atropelou a ajudou e depois de um tempo passaram a morar juntos como um casal. No entanto, no último ano ele foi morto por uma bala perdida durante um assalto em um shopping center. Novamente o silêncio se instala no ambiente... Samuel pergunta para Joseph o que aconteceu para que ele tenha chamado todos até ali depois de todos esses anos. Joseph explica que viu sua irmã em um "sonho" e que ela pediu que ele encontrasse seu filho e o devolvesse antes que completasse sete anos e sete dias. Caso isso fosse feito todos os três poderiam ter suas vidas de volta. Conta que passou os últimos cinco anos procurando por seu sobrinho, sem sucesso. Então decidiu chamá-los, pois sabe que as coisas vão voltar a acontecer fosse cedo ou tarde. Samuel conta que viu Gabriela (mulher com qual teve um caso em sua juventude e gerou um suposto filho) no reflexo do espelho em sua casa há alguns dias atrás. O fato de todos estarem juntos novamente parece trazer mais tristeza do que felicidades. Subitamente uma caixa de papelão é arremessada ao chão do aposento vinda de uma pilha de lixo, todos se assustam, Joseph e Samuel começam a procurar por alguma coisa que possa ter feito isso, mas o fato é que foi só uma confirmação das coisas que estão por vir. Enquanto Samuel desembainha sua rapier e vasculha a pilha de lixo da qual a caixa que voou fora arremesada, Joseph os chamam e mostra o que encontrara dentro da caixa: um papel escrito "ajude-me". Após ler isso Joseph leva as mãos a cabeça, sua mente está confusa e implora para que as coisas não comecem a acontecer agora! Um flash de seu passado não muito distante começa a bombardear sua mente. Joseph começa a gritar desesperadamente: - Quem está aí? Não adianta, não vai nos assustar! Se quiser alguma coisa fale! Samuel escuta ao pé de seu ouvido a voz de Gabriel (seu filho) em tons de choro dizendo: - Pai, me ajude... Samuel se desespera, o fato de nunca ter visto seu filho, pelo menos não como ele gostaria, é quase tão perturbador quanto a a idéia de nunca mais vê-lo. Logo em seguida Samuel retoma a sua racionalidade e pensa o que pode ser isso, um tijolo em um canto do aposento torna-se sua arma, ele o quebra e com um pequeno pedaço faz um pentagrama no chão, nele escreve em hebraico palavras que espera que protejam ele, Liana e Joseph. Subitamente a cadeira de rodas de Liana começa a andar sozinha, suas mãos não conseguem impedir que as rodas parem de girar, uma voz grave e desesperada ordena a Samuel,e somente a ele: "Saiam! Eu mandei sair!"!A cadeira de Liana vai ganhando velocidade em direção a porta quando Joseph a segura. Nesse exato momento Samuel vê seu filho próximo a uma parede e corre em sua direção, nesse momento os entulhos que tem como obstáculo começam a pegar fogo. Em um piscar de olhos ele perde Gabriel de vista, Joseph o alcança e ordena que todos saiam, pois há muitas coisas pegando fogo e seu apartamento não vai resistir. Enquanto Joseph coloca sua mochila e pega Liana nos braços Samuel pega sua cadeira de rodas e todos descem pelas escadarias. Uma ultima olhada para trás e Joseph vê uma criança parada entre as chamas como quem contempla sua vitória. Do lado de fora do prédio Samuel liga para o corpo de bombeiros e avisa do incêndio, enquanto isso Joseph entra no prédio e tenta resgatar alguma coisa de valor dentro de seu apartamento. Samuel e Liana esperam ansiosamente o retorno de Joseph, mas tempo passa rápido demais e a fumaça chega ao primeiro andar, Samuel serra os punhos e quando pensa em entrar para ajudar Joseph o vê descendo as escadas com os olhos vermelhos e ofegante, ele carrega uma mochila. Samuel pergunta: - E então, conseguiu recuperar alguma coisa? Joseph responde enquanto respira ofegante: - Não... Mas minha mochila guardava alguns dólares, algumas peças de roupa, minha identidade e minha pistola. Então Liana pergunta: - Para onde iremos agora? Samuel: - Nada vai dar certo de novo? O inferno voltou e não vamos conseguir sair disso? O hotel qual estou hospedado é daqui a quatro quarteirões. Chamam um táxi e enquanto o taxista observa pelo espelho retrovisor todos seguem calados até a entrada do hotel...

O HOTEL 01:11 AM

Ao chegarem ao hotel, Samuel pede para ir a um quarto com três camas, seu pedido é atendido. Ao chegarem ao quarto todos estão exaustos e aos poucos um a um vão se acomodando e preparando-se para descansar. Joseph se retrai a sua solidão enquanto desenha em uma folha de papel seu próprio rosto. Em seguida, enquanto todos estão no quarto, Joseph olha para a janela e vê um corvo que repousa no parapeito da janela, ou seria o corvo? Ele aponta para a ave, e Samuel e Liana olham na direção apontada. Durante breves instantes parece que a ave os encara e logo levanta vôo. Isso é só mais um sinal de as coisas não vão bem, pensa Samuel. Aos poucos todos deitam e esperam que o sono contemple sua tranqüilidade... algumas horas depois e Joseph acorda de sobressalto! Ao abrir seus olhos vê a mesma cena que tivera a anos atrás, sua irmã lhe pedindo para que traga seu filho de volta. Novamente abre os olhos! - Era um sonho? Pensa Joseph. Não, não era! Ele tem certeza de que não. Enquanto arruma suas coisas um turbilhão de sentimentos ruins o bombardeiam e quando põe sua última peça de roupa na mochila, decide ir a Filadélfia procurar por mais pistas de seu sobrinho antes que seja tarde demais. De acordo com seus cálculos se seu sobrinho ainda não fez sete anos completos, só faltam três meses para que o faça! Joseph ergue a mochila por cima do ombro e a acomoda nas costas certo de que só ele pode fazer alguma coisa para acabar com isso de uma vez por todas.

O APARTAMENTO DE JOSEPH INCÊNDEIA

O CORVO REPOUSA NO PARAPEITO DA JANELA