BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

DIA 02 DE JUNHO DE 2006

DIA 02 DE JUNHO DE 2006

Não me lembro da viagem anterior ter sido tão desagradável. Acomodamo-nos em um cubículo com beliches onde marinheiros costumam dormir, mas eu nunca fui uma dama do mar. E ainda por cima aqueles espelhos ali... Tudo o que desejava era que esta viagem acabasse o mais rápido possível. Percebi que tanto eu e Liana estávamos com um tipo de alergia... Provavelmente a mesma alergia. Não me preocupei a princípio, mas espero que não seja uma reação a presença da outra... Sei que parece paranóia, mas acredito que não possam me culpar por isso certo?

Eu tentava dormir quando a porta abre com força. Era Joseph, que havia saído e nem ao menos percebi. Quando ele disse que viu Peter no navio, não consegui mais fingir que tentava dormir. Poderia ser um sonho muito intenso ou até mesmo uma alucinação não? É uma pena que quando se trata desta “família” nada é simples. O mar La fora estava agitado demais... E não parecia mais alto do que antes? De repente um estrondo forte de algo batendo no navio. Agora sim que não dormiria aquela noite! Saímos do quarto e fomos até o andar superior para descobrir o que estava acontecendo. O capitão nos explica que por ser um navio velho são normais alguns ruídos mais altos e não questionei. Era ótima uma explicação comum e corriqueira para variar.

Voltando para o quarto, percebi um vulto à frente. Não era nenhum dos nossos e não parecia um adulto, mais uma criança ou coisa parecida. Quando tentamos segui-la, uma dor lancinante começou no meu ventre. Não é possível descrever de forma convencional esta dor, mas imagine que a vida que estou gerando do nada quisesse sair e não importava as conseqüências. Parecia que eu estava sendo destruída de dentro para fora e logo o feto abria caminho por entre minhas pernas... Já não pensava mais na situação ou na lógica dela, só queria que a dor parasse. Apenas a cabeça de um bebê saiu de mim e num lampejo de maldade dirige a palavra a mim:

“Você queria me ver? Quer falar comigo? Hahahah!”

Deduziram o que esta acontecendo não? Para os desatentos, A velha e desagradável realidade “A” se manifestava com toda a força. A soma da dor e do pavor me fez apagar. Quando acordei o caos já começava a aparecer. Apareciam mais vultos pelos corredores e ao retornar ao quarto onde dormíamos, verificamos que nossa janela adentrava demais para o fundo do mar e a ferrugem tomava conta do cubículo por causa dos espelhos. Água começou a invadir os corredores, confirmando que afundávamos rapidamente. Rapidamente voltamos à escada, mas não havia nenhuma saída... Estávamos presos e condenados a afundar junto com aquele navio.

Lembro que minha forma de desespero era gritar para o vazio com aquelas criaturas que pareciam nos cercar coisa como: “O que vocês querem? Porque isso esta acontecendo?” De nada adiantava os esforços de Victor em encontrar coletes salva-vidas ou qualquer outro. Pior que a morte rápida e indolor, só a vida passando diante de seus olhos quando pressente a vinda dela lenta e cheia de sofrimento. Meus últimos pensamentos iam para a família que eu nunca tive a chance de procurar... Pai... Mãe...

A ILHA

Tudo que via e sentia era a escuridão e o vazio e logo em seguida, meu peito doía e um enjôo que me fez vomitar água salgada até a exaustão. Senti a Areia em minha pele e o corpo me lembrando que eu ainda estava bem viva. Vi um dos rapazes em cima de mim que logo que viu que estava conseguindo respirar, correu para outro corpo. Finalmente entendi a situação e corri para o corpo de Liana, temendo por ela e pelo bebê. Logo estavam todos acordados e vivos, mas Victor tinha sentido mais o baque que os outros, pois parecia mais fraco que de costume. Visto que todos estavam bem na medida do possível, Passei a olhar ao meu redor...

Eu estava inexplicavelmente viva em uma Ilha sem sinal aparente de civilização.


A descrição é bem simples... Uma Ilha das grandes, com praia a perder de vista que provavelmente circunda toda a ilha. Logo a frente uma mata fechada, uma muralha verde que parecia ocupar a maior parte do terreno e podia ser vista a ponta do pico de uma montanha que parecia ficar bem longe, no centro da Ilha. Já não fosse essa uma surpresa bem grande, Liana veio com a notícia realmente bombástica...

“Eu conheço esse lugar... Foi nessa Ilha que eu estive antes de encontrar vocês.”

Uma ilha totalmente deserta em plena realidade “A”... O que se passa aqui afinal? Primeiro ela nos mata, depois nos salva? E porque aqui agora? Muitas perguntas e nenhuma resposta... Essa rotina esta me enlouquecendo, ou pelo menos deveria estar. Muita gente já teria desistido, pirado... Mas eu estou cada vez mais ligada, mais disposta a chegar até o fim. O que dizer? Talvez eu esteja mesmo maluca em não reagir como uma pessoa normalmente agiria, mas prefiro não pensar nisso. Liana se tornou a nossa guia local pelas razões óbvias. Primeiro se fez necessário um abrigo para quando a noite viesse...



Sim, aqui tem dia e noite segundo a nossa guia. Buscamos uma caverna próxima e fomos incentivados por um rugido colossal no melhor estilo parque dos dinossauros! Se for um tiranossauro não me interessava, a idéia era ele lá longe e eu no extremo oposto... Todos pareciam compartilhar dessa opinião.

O que dizer da caverna? Boa o suficiente para nos abrigarmos por uma noite. É engraçado quando percebemos a dependência que nos temos da vida moderna. A noite foi a mais escura de toda a minha vida. Nem com a luz da lua podíamos contar e ainda por cima aquela caverna fechada... Sorte minha não ser claustrofóbica ou ter medo de escuro! O problema maior foi às criaturas que ouvimos do lado de fora. Quando os olhos se acostumaram à escuridão, Percebiam-se apenas as silhuetas. Joseph iniciou uma tentativa de comunicação jogando pedras pela entrada que eram devolvidas da mesma forma. Uma hora jogaram um animal morto para dentro da caverna... Um convite para o jantar? Presente de boas vindas? Intimidação? Eu diria que éramos tão estranhos para eles quanto eles para nós. Eles não tiveram coragem de entrar e nem nós de sair... Ficou por isso mesmo.

O dia parecia que demorava uma eternidade e acabei me entregando ao sono. O dia seguinte reservava surpresas para nós. Na praia, o mar trazia destroços do navio afundado e junto os nossos pertences. Muita coisa estragou naturalmente, mas as armas ainda podiam ser usadas. Depois dos encontros da noite anterior, era a coisa que eu mais me preocupava em salvar. Logo o problema da comida e água seria nossa maior preocupação. Depois de conseguir algumas bananas e eu conseguir improvisar uma tocha com galho e trapos que me admirou ter funcionado, seguimos mata adentro a principio na direção do monte no centro da ilha. Havia uma enorme trilha de destruição causada por algo muito grande. Apesar de parecer burrice, seguimos por ali pela facilidade de locomoção. Impressionante era a agilidade de Liana com aquela barriga enorme e parecia não cansar... Fiquei perto dela por via das dúvidas. Apesar da sede e do cansaço, eu estava agüentando bem... Aquele ano de viagem pela Europa teve as suas vantagens afinal, pois nem sempre eu conseguia carona, entendem?

Tempos depois, escureceu novamente... Mas a noite não veio rápida demais? A realidade estava brincando conosco e procuramos outro abrigo. Dirigimo-nos para um declive onde havia algo parecido como uma marquise de rocha. É La que ficamos e achamos algo interessante. Havia pinturas rupestres naquelas rochas, varias delas. Não prestei muita atenção a principio... Queria manter a fogueira acesa, cuidar dos mantimentos que havíamos encontrado e cuidando um pouco de mim... Quando parei para olhar os desenhos, parecia algo como homens enfrentando algo grandioso que vinha do céu. Aqueles desenhos eram muito antigos, então isso acontecia desde tempos imemoriais? Aquilo seria um aviso? Lembre-se que na realidade “A” nada parece acontecer por acaso. É esperar que seja algo ao nosso favor... Mas a quem estou enganando? Nunca é...

Mais um dia naquela Ilha maldita, sem respostas e sem água. Para piorar Samuel estava estranho comigo outra vez. Parecia querer me evitar e eu não me lembro de brigar com ele desta vez. Joseph disse que havia tido um pesadelo e provavelmente eu estava nele. O que será que eu fiz? Temia que talvez pudesse ter sido algo a mais do que apenas um sonho... Teria algo a ver com os meus demônios interiores? Em um momento mais oportuno ele vai ter que me contar. Liana também parecia preocupada com alguma coisa... Mas ela deve ter suas próprias batalhas para enfrentar. Lembram da trilha de destruição do bicho enorme? Não tinha mais... Era como se nunca tivesse existido ou a mata tivesse crescido durante a escuridão. Finalmente Liana começava a sentir o cansaço e estávamos bem devagar em nosso avanço.

Um pouco de sorte para variar! Finalmente um filete de água potável. Esbaldamo-nos feito crianças! Dois dias na mata e já retornávamos aos instintos ancestrais... As necessidades mais básicas que é água, comida e um lugar seguro para dormir. Não fosse a situação dos espelhos, Flauros e a minha maldição, até poderia ser feliz aqui, longe de tudo e todos aqueles que me magoaram e em chamaram de louca. Sem perseguições, medos, mágoas e demônios me atormentando... Melhor eu parar de me iludir não acham?

Continuamos a caminhar, até que uma luz chamou nossa atenção. Não era de tocha, era elétrica. Será que finalmente encontraríamos alguém? Todos correram excitados com a expectativa, mas eu fiquei mais para trás... Depois de um tempo nessa vida, começou a vir em minha mente um ditado popular que ouvi há muito tempo atrás: Quando a esmola é demais, o santo desconfia.
Poderia ser bom demais para ser verdade e todos viam naquela luz o que mais desejavam, mas eu não conseguia deixar de desconfiar. Depois de um bom tempo, a mata tinha acabado e estávamos na praia outra vez. Não havia mais sinal daquela luz... Ela havia entrado no mar, podíamos ver isso! Os rapazes se aproximavam mais e eu começava a adquirir alguma confiança para fazer o mesmo...

Logo depois o mar se agitou e a luz refletida na água ficava maior... Seja o que for, estava emergindo. Eu comecei a recuar, pois repentinamente os desenhos rupestres e a trilha de destruição na mata começavam a formar imagens terríveis em minha mente... E elas se concretizavam de forma ainda pior...

Um gigantesco ser metálico de três pernas, enormes tentáculos metálicos e com holofotes enormes emergia do mar e parecia nos encarar. Aquela visão alienígena era apavorante demais... Como um garoto e uma lupa se preparando para queimar uma pobre formiga... Aquilo estava lá por uma razão... Nós!

Não havia mais nada além de medo na minha alma e corri sem olhar para trás. Parece egoísmo? Vai parecer mais ainda! Corri de volta a mata e me encolhi o Maximo possível em algum lugar onde acabei por ver tudo... Ver Liana e Victor serem capturados pelos tentáculos metálicos, Vi Joseph e seu esforço heróico para salva-los e sua queda para a morte certa, Vi a coisa se afastar com os nossos amigos para dentro do mar... Ouvi o grito de Samuel chamando o meu nome em desespero para ajudar Joseph... Corri até eles... Vi Joseph quase morto e Samuel em lagrimas... Senti as minhas correndo pelo rosto... Um cansaço enorme... Minhas pálpebras fechando... E a inconsciência como ultimo presente do corpo á minha mente despedaçada.



O NAVIO

A ILHA

Nenhum comentário: