BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

2022

DIA 2 DE NOVEMBRO DE 2022

Este foi um amanhecer muito triste. Bem cedo, toda a comunidade se mobilizou para o funeral de Gabriela e do jovem vigia. A morte de alguém era sentida por todos, apesar de não ser incomum morrer nestes dias. Além de ser um braço a menos na comunidade, todos eram muito próximos. Éramos uma grande família afinal de contas.

Gabriela e o jovem que infelizmente não lembro o nome foram cremados a beira do poluído rio próximo ao nosso lar. Especificamente Samuel sentiu mais a morte de Gabriela... Eu seria hipócrita se não admitisse certo alívio no fim de sua vida já desgastada pela doença. Os meus sentimentos por Samuel poderiam ter algo a ver com isso? Talvez... Mas eu respeitava Gabriela. Lutou contra a morte até o fim... E me admiro que tenha durado tanto... O amor era a única coisa que a movia... O amor por Samuel. Esteja em paz Gabriela... Com certeza está bem melhor que nós. Eu ouvi Esperança chamar Samuel de pai e não soltou sua mão durante todo o velório... Era emocionante ver aquilo... O nome de minha filha não poderia ter sido outro.

A vida continua para nós e precisávamos de reposições para a comida, gasolina e outras coisas... Samuel, Victor e eu partimos para A comunidade de Loretto, que é uma comunidade como a nossa só um pouco maior e mais povoada. A relação entre as comunidades era pacífica e relativamente comum nossa constante permuta de quinquilharias. Dirigimo-nos direto a Martin, que certamente era o maior negociante de Loretto. Seu depósito era repleto de coisas das mais variadas. Era um homem com seus 30 anos que apesar de sua aparência repelente, era um bom homem na medida do possível. Sem ele eu não teria folha e caneta para registrar estes momentos... E até mesmo isso era artigo raro.

Negócios concluídos, retornamos a nossa comunidade. Eu pretendia falar com minha filha a respeito de sua suposta liberdade de ir e vir e também finalmente ter uma conversa sobre o destino e o futuro que foi reservado a ela...

Eu jamais teria essa chance... E essa conversa esta trancada em minha garganta até hoje...

O lugar estava na mais completa escuridão. Já neste sinal de alerta estávamos pensando nos bandidos do dia anterior... Mas a verdade era muito pior. Nós procuramos a fonte das luzes e ela estava intacta... Por isso nós voltamos a acender as luzes e era melhor não ter acendido...

Todos mortos... Pendurados e enforcados... Não escapou ninguém da comunidade... Minha filha não estava entre os mortos... Não estava em lugar algum... Ela tinha desaparecido.

Minhas esperanças de encontra-la escondida nas proximidades logo caíram por terra. As luzes voltaram a apagar e o ar a nossa volta se tornou denso e pesado. Passos vinham do túnel, passos de um ser grotesco e colossal que surgiu diante de nossas tochas improvisadas. Era como um gigante gordo e careca, com a pele cheia de pústulas e sangue. Ele veio dar um recado de Flauros...

Aquela eterna batalha tinha que acabar... A coisa nos levaria a Flauros que está com esperança...

Por um momento, um segundo que pareceu uma vida, toda a história que tive até aqui pareceu passar por meus olhos como um filme. Cedi lugar á dor e ao desespero, mas ela rapidamente se foi. Eu não desistiria tão fácil! Esperança estava em algum lugar, viva e lutando... E eu iria até ela! Nossa fé foi a arma contra o mensageiro grotesco de Flauros. Com grande esforço conseguimos dissipar a escuridão e a criatura se foi junto com ela... Mas a missão da criatura já estava consumada e o estrago já feito. Finalmente quando olhei a minha volta, senti a solidão esmagar o meu coração e a minha fé erguida a duras penas... Foi quando caí de joelhos e finalmente chorei... Pelos mortos, pelos vivos, pelos condenados... E por nós três novamente sozinhos.

Nenhum comentário: