BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

segunda-feira, 9 de março de 2009

25/01/2006

Samuel Marca com Alfredo na praça Do Panteão as 5 horas da tarde. Uma limusine escura para na rua em frente a praça. Samuel, Liana e Joseph estão separados em uma posição estratégica. Suas disposições formam um triangulo imperfeito e suas expressões são apáticas a tudo que ocorrem em sua volta, homens, mulheres, crianças, idosos, famílias, nada disso parece existir para eles... Todas sem rostos, todas alheias a realidade que as cercas. Aproveitando um lindo crepúsculo na Praça. Um homem vestido de preto, sem importância, sai do carro e em seguida abre a porta do mesmo. Um homem de idade avançada, vestido com um escapulário vermelho sai do carro de forma paciente, lenta e suave. O grupo reconhece como sendo Arcebispo Alfredo, Inquisidor Geral do Santo Ofício. O grupo se reúne e vai de encontro ao Arcebispo, Samuel se aproxima, fumando, fitando-o nos olhos. Com um semblante calmo, o Arcebispo fala:
Alfredo: – Senhor Samuel? – Diz enquanto lhe estende a mão.
Samuel: – Reverendo Alfredo. – Samuel retribui apertando forte sua mão. Joseph e Liana se aproximam com os braços afastados do corpo como tigres prestes a pular em sua presa.
Alfredo: – Onde esta Carla? Como ela esta?
Samuel: – Ela esta bem, não se preocupe. – Alfredo da um longo suspiro.
Alfredo: – Peço que me desculpem... Mas me sinto incomodado neste local.
Liana: – Nós entendemos. Esse seu incomodo traduz o espirito dessa conversa sr. Alfredo.
Alfredo: - Eu tenho uma proposta para fazer a vocês.
Samuel: – Finalmente.
Alfredo: – A natureza dessa proposta é de uma grandeza para a Igreja. Por isso não queria que ela fosse dada nessas condições.
Joseph: – Infelizmente é só o que temos. – Liana senta em uma das pedras naturais que compõem a paisagem do local. Por um momento, ela torna-se parte da paisagem quando finalmente acende o cigarro.
Alfredo – Bom, eu vou tentar ser o mais direto possível. Nós dois, vocês e a Igreja Católica possuímos informações que ambos buscam. Em nome da Igreja, estou disposto a negociar as minhas, as da Igreja, pelas informações que vcs possuem.
Joseph: – Que tipo de informações você tem e que tipo de informações você precisa?
Alfredo: – Quero saber tudo o que vcs sabem do Matemático, o que ele disse para vcs e a resposta para equação. Em troca, informo a vcs a localização de Gabriel, seu filho.
Samuel olha para Joseph de modo descrente e o mesmo devolve o mesmo olhar descrente. Em seguida Samuel diz:
– A informação precisa ser averiguada.
Alfredo: – Difícil. Não tenho como averiguar a sua...
Samuel: – Você tem o Matemático... Ou não tem mais?
Alfredo: – Resposta difícil de dar agora, mas isso não vem ao caso.
Samuel: – E o que você tem mais?
Alfredo: – Isso não é o suficiente para você?
Samuel: – Para mim, sim... Para os outros não.
Alfredo: – Sinto muito... – Samuel dá as costas para todos em um movimento repentino. Em sua mente, ele vê a possibilidade de encontrar seu filho novamente. Ele sabe que com isso, fica difícil negociar com o Arcebispo. Samuel tenta manter a lógica e a racionalidade, mas sua alma grita desesperadamente por seu filho...
Alfredo: – Eu sei que os Sentinelas caçaram vocês por anos nos Estados Unidos, mas eu garanto que assim que vocês passarem as informações, isso não vai mais acontecer.
Joseph olha para Samuel. Ele consegue decifrar toda a angustia e sofrimento pela face de Samuel. Samuel vai até a fronte de Alfredo.
Samuel: – O que vocês vão fazer com essas informações?
Alfredo: – Não sei como explicar... Isso entra em questões dogmáticas da Igreja.
Samuel: – Entendo, mas você também devem entender que por causa dessas respostas que temos, perdemos tudo, perdemos nossas vidas...
Alfredo: – E o que vc tinha, Samuel?
Samuel: – Tinha tudo, tinha uma vida, um futuro, tudo...
Alfredo: – Estou lhe dando a chance de recuperar sua vida de volta e esquecer tudo o que vocês passaram. É muito mais fácil para nós fazermos esse acordo do que ficarmos nessa caçada contra vocês... Como gato e rato
Liana: – Carla disse que você é a pessoa que mais sabe de nós.
Alfredo: – Sim, é verdade.
Liana: – E o que você sabe de nós?
Alfredo: – Muitas coisas... Sei que você é inglesa, por exemplo. Sei que ficou paralítica, sei que há uma nova vida em seu ventre.
Joseph: – Como você sabe dessas coisas?
Alfredo: – Vocês são constantemente monitorados, não só pelos agentes da Igreja. Devem saber melhor do que eu que há muitas Agencias e órgãos do governo atrás de vocês. Algumas vezes usamos os mesmos canais de informações.
Samuel: – E sobre Joseph?
Liana: – Sabe como me curei?
Alfredo: – Não...
Liana: – Como engravidei?
Alfredo: – Não, mas aconteceu com Maria também...
Liana: – Haahhh... Por Favor...
Alfredo: – Não ria...
Samuel: – E sobre Joseph? – Alfredo suspira longamente enquanto sua face fita o chão onde pisa. Alfredo: – É complicado... Eu tenho medo da resposta que ele possa encontrar para suas próprias perguntas... Você sabe disso, não sabe? – Pergunta olhando para Joseph.
Liana: – O que sabe dele afinal?
Alfredo: – Não sei tanto quanto vocês devem saber, mas sei que há uma missão que esta além de qualquer coisa terrena.
Joseph: – Você tem medo que eu possa encontrar
Alfredo: – A certa altura, eu chego a pensar que as coisas que estão acontecendo, que até o Senhor Jesus Cristo duvidaria de tais coisas... das coisas que estão por vir...
Joseph fita o céu laranja e inspira fundo o suave vento que sopra neste entardecer.
Joseph: – Lembro da primeira vez em que entrei em uma igreja, e olhei a imagem de Jesus. Naquele momento... Eu soube que Ele me devia alguma coisa. – Nesse momento, Alfredo caminha na direção de Joseph e para no seu lado. Joseph ainda contempla o céu, que escurece a cada segundo. Seu devaneio é quebrado quando ele sente uma mão em seu ombro. Alfredo pousa sua mão confortavelmente enquanto seus olhos encontram os olhos de Joseph.
Alfredo: – Joseph, você acredita em anjos? – Joseph olha para Samuel, que está com um olhar distante, em algum paraíso imaginário.
Joseph: – Não há como não acreditar.
Alfredo: – Muitos não sabem que são.
Joseph: – E muitos caem.
Alfredo: – Muitos escolhem o caminho errado. – Joseph baixa seu olhar para os próprios pés.
Alfredo: – Bom, fiz o que prometi, vim sozinho, de mãos limpas, e fiz minha oferta. Qual a escolha de vocês?
Liana: – Precisamos pensar a respeito de tudo isso.
Joseph: – O que você sabe?
Alfredo: – Sobre?
Joseph: – Sobre o Matemático?
Alfredo: – Eu sei que ele tem as respostas para tudo. Sei que tem ligação com vocês.
Liana: – São apenas números.
Alfredo: – Não são apenas números. Se fosse só isso, eu estaria na frente de uma calculadora, e não falando com vocês.
Liana: – E o que pensa a respeito disso?
Alfredo: – Não há o que pensar, apenas saber a resposta. Assim que eu souber do que se trata, eu e a Igreja tomaremos as providências.
Liana: – E o que pensa que pode ser?
Alfredo: – Eu já disse que não sei.
Joseph: – Sabe que existe uma data para o Apocalipse?
Alfredo: – Uma data? Nós controlamos o tempo através de um calendário, que se iniciou quando o Filho de Deus venho a este mundo com a Palavra.
Joseph:– Você acha que se acontecer em uma data certa, as pessoas devem saber disso?
Alfredo: – Talvez, aqueles que realmente crêem em Deus, sim. Os ímpios, não, mas quem tem Deus no coração, deve se preparar para o pior e fortalecer a fé enquanto há tempo.
Samuel: – Se passarmos essa informação para vocês, a Igreja terá um poder enorme nessa Terra. A Igreja é uma instituição mortal. Sendo ela assim, esse poder será corrompido pela mão do homem, pela mão de vocês.
Alfredo: – Você não entende a gravidade do problema. Não haverá mais homem, ou instituição.
Joseph: – Não saber a data, é a prova dos vivos, não saber a data é ser digno e valer alguma coisa pelo coração. Saber da data... É uma maldição.
Alfredo: – Está na Bíblia. “Felizes são os ignorantes, pois terão um lugar garantido no Paraíso”. Aqueles que sabem, tem um objetivo maior nessa vida. Pode ser uma maldição como pode ser uma benção, depende da maneira como você vê as coisas.
Joseph: – Só existe o hoje, só existe o hoje... – Ele fala enquanto balança a cabeça negativamente e começa a caminhar. Samuel aproxima-se de Joseph:
Samuel: – Negociamos as informações se ele souber do seu sobrinho tb.
Joseph: – Não importa, não importa...
Samuel: – Nós temos três informações.
Joseph: – Precisamos saber o que elas significam antes. – Joseph diz a Samuel, prevendo a sua reação. Samuel, numa mistura de fúria contida e frustração, afasta-se de Joseph e caminha até ficar isolado, ficando de costas para os três.
Alfredo se aproxima de Liana e senta a seu lado na pedra:
Alfredo: – Como foi que você recuperou o movimento das pernas?
Liana: – Isso é irrelevante agora.
Alfredo: – É um verdadeiro milagre.
Liana: – Tenho medo de saber quem pode ter feito isso comigo.
Alfredo: – Todos os milagres são de uma natureza divina.
Liana: – Se visse por quem eu fui levada, antes de voltar a andar, não diria isso.
Alfredo: – Mas voltou, não voltou?
Liana: – Sim.
Alfredo: – Isso não é o que importa?
Liana: – Não sei.
Alfredo: – E então? Joseph, Samuel? O que vai ser? – Samuel olha por trás de seu ombro, fitando a todos, e em seguida olha para o chão. Joseph fica a meio caminho, aproximando-se de Samuel.
Joseph: – Somente Samuel pode dar esta resposta. Mas como pode ver, você já sabe qual é. Precisamos de tempo.
Alfredo: – Tudo bem. Em nome da Igreja, eu declaro trégua. Quando decidirem, sabem onde me encontrar. Espero que tudo que vocês saibam, caiam nas mãos certas. Sabem aonde me encontrar. – Arcebispo Alfredo dá as costas e caminha na direção da Limusine. Finalmente ele adentra a mesma e sai em direção à avenida. Mesmo no vidro fumé, o grupo consegue ver os olhos do Arcebispo fitando-os, até sumir entre os carros. Joseph senta-se na pedra e coloca suas mãos entre a cabeça. Samuel acende um cigarro e continua frustrado. Liana sugere que todos voltem ao hotel.
Durante o caminho, o silencio imperou absoluto. Nenhum olhar foi trocado. Todos estavam convictos de sua própria vontade. Na chegada ao hotel, silencio. Joseph finalmente quebra a atmosfera de derrota, falando.
Joseph: – O que vamos fazer?
Liana: - Como assim? Está claro que não podemos entregar as informações pra eles.
Joseph: – Samuel? – Samuel acende um cigarro, dá uma tragada profundo expelindo em seguida uma nuvem de fumaça. Olha secamente para Joseph e Liana.
Samuel: – Para decifrar tudo o que o Matemático falou, vamos precisar de anos para pesquisar e, com sorte, descobrir realmente o que tudo isso significa.
Liana: – Não vamos entregar as informações sem antes saber o que significa. – Liana fita Samuel.
Joseph: – Concordo com ela. É muito arriscado.
Silencio. Samuel abre seu laptop e começa a digitar freneticamente, sem destino nenhum.
Joseph: – O que você acha Samuel? – Samuel encara Joseph nos olhos diz: – Não podemos concordar sempre, Joseph...
E o silencio impera mais uma vez até o amanhecer do outro dia...
Como sempre, nada é fácil... E mais uma vez o inimigo saíra vitorioso....


Praça do Panteão em ROMA



O céu Laranja de Roma

Bispo alfredo





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