BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

18 DE NOVEMBRO DE 2022

18 DE NOVEMBRO DE 2022

Não foi difícil conseguir informações sobre Osvego... Era apenas seguir por uma interestadual para o norte e acharíamos o lugar. Também descobrimos a comunidade mais próxima de nossa posição atual... A comunidade de ìtaca, situada em um antigo shopping center. Se havia alguma relação com a cidade de Odisseu da tragédia grega, nunca descobri. Apenas tinha a teoria de que poderia ser também um fim de jornada, assim como foi para o herói da Odisseia... Mas foi apenas o começo da batalha de Odisseu... Veremos se este seria o meu caso.

A viagem não teve contratempos e nem mesmo a comunidade, já acostumada a receber estrangeiros e viajantes. O comércio lá era relativamente fácil, afinal ainda era um shopping certo? Consegui alguns remédios em troca do trabalho e os outros negociavam mais gasolina e utilidades gerais.

Duas as informações que se tornariam relevantes: A primeira é que ao questionar uma senhora, ela me afirmou que viu uma moça com a descrição de minha filha a cerca de um mês. Esperança estaria de passagem e a caminho de uma cidade ao norte... Pelo menos agora tínhamos uma direção... Eu considerava uma vitória

A outra informação foi quando mencionei a mesma senhora que me dirigia para Osvego. Ela me aconselhou a não ir para lá, pois tinha ouvido rumores e histórias que lá morava um vampiro e que até mesmo se chamava Drácula. Claro que pensei primeiro em devaneios de uma idosa, mas que poderia haver algo em Osvego eu não duvidava... Levaria seu aviso em consideração.

No dia seguinte partiríamos muito cedo para o norte. Osvego não estava longe e eu estava muito esperançosa em encontrar minha filha no caminho... Mas o sono não seria tranquilo e o despertar traria um negro alvorecer...

ALGUM DIA, EM ALGUM LUGAR

Sentia que estava retornando para mais um dia ao mundo dos vivos, então me espreguicei longamente e me surpreendi ao bater minha mão em uma superfície metálica que não deveria estar ali. Senti o cheiro familiar do velho F-10 de Victor e acordei de vez. Eu estava no meio do banco, entre meus dois companheiros que também dormiam. Despertei-os rapidamente... Queria explicações de porque não estávamos na comunidade e dormindo no meio da estrada, mas também não souberam responder isso. Victor olhou o medidor e viu que metade da gasolina que tínhamos tinha sido usado... Não era a primeira vez que isso nos ocorria, mas ainda assim não havia acontecido isso depois do fim do mundo... E não deixava de ser assustador.

Ao nosso redor, um grande vazio de entulho. A frente uma aglomeração assustadora de vigas de metal, como uma floresta macabra. Era noite, ou pelo menos estava escuro... Não havia sinal daquelas criaturas em parte alguma. Decidimos que seja lá o que fosse, deveríamos enfrentar. Saímos do carro e seguimos a pé para a floresta de vigas á frente.

A medida que estávamos nos aproximando daquele monumento, vimos que a coisa era ainda pior... As vigas pareciam sair do chão e em cada uma havia o corpo de alguém... Homens, mulheres, velhos e crianças... Todos empalados de formas cruéis ou pendurados pelo pescoço, braços, pernas, etc... Pareciam ter sofrido muito se considerar as expressões em suas faces. A partir dali o mundo parecia outro... Atravessamos alguma barreira ou fomos tragados para algum lugar. Depois de andar um bom tempo pelas vigas, nos deparamos com uma clareira entre o metal e uma casa simples de dois andares que contrastava totalmente com o ambiente em volta... E isso era ainda mais assustador. E podia ser impressão minha, mas podia jurar que os cabos e vigas se moviam depois de nossa passagem... E que agora estávamos cercados, impossibilitados de regressar. Fomos em frente.

Por dentro a casa parecia como varias outras do gênero...razoavelmente grande, paredes de madeira, dois andares, vários quartos... Mas estava abandonada a um bom tempo. O silêncio agora era total, assim como a escuridão que combatíamos com nossas tochas improvisadas. Vasculhamos o andar inferior e nada havia ali que nos interessasse. Preparamos nossos espíritos e subimos para o segundo andar. Após a escada um longo corredor que terminava em uma porta dupla fechada. Nada aconteceu durante o trajeto e abrimos a porta...
Era uma sala de jantar de gala... Uma longa mesa repleta de pratos variados, várias cadeiras, ambiente iluminado por velas, quadros estranhos nas paredes... E uma mulher sentada na cabeceira oposta a porta. Era fisicamente linda... Loira, olhos azuis, pele muito branca, usava um longo vestido negro de festa e não ostentava nenhuma joia, adorno ou maquiagem. Fitava-nos com um misto de curiosidade e seriedade. Será que nos esperava? Quem era aquela mulher afinal?

Mantivemo-nos em guarda, apesar dos convites velados para o jantar surreal... Nossas armas em punho não pareciam preocupa-la. Eu fui direta ao assunto:

- Que lugar é este?

- Todos os lugares e lugar nenhum...

- Aqui é Osvego?

- Talvez um dia tenha sido...

- Quem é você?

- Sou quem procuras... Sou o início e o fim de sua jornada...

- Flauros! Onde está Esperança? Onde está a minha filha?

- A esperança não existe mais... Eu cansei deste jogo... Sua jornada acabou.

Não tive nem chance de reagir... A mulher levantou-se lentamente e nos encarou mais uma vez. Senti-me derrotada antes da luta começar... Sentia que jamais eu poderia enfrentar uma entidade como aquela... Eu acreditava que minha filha era a escolhida e ela travaria esse duelo conosco... Mas ela não estava aqui... Descobri da pior forma que minha vontade de lutar tinha ido embora junto com ela. Pisquei uma vez e ela esta a minha frente me encarando com um leve sorriso. No piscar seguinte ela me beijou a boca e parecia absorver toda a vontade que me restava... Desmaiei naquele instante, ouvindo o grito de Desafio de Samuel e Victor, rezando para que fossem vitoriosos.

TEMPO E ESPAÇO TRÊS

Sabem aqueles momentos em que parece que você dormiu apenas alguns segundos e já amanheceu? Pois então, pareceu que meu desmaio tinha durado apenas alguns momentos e despertei subitamente para uma nova situação.

Fui acordada por uma comoção próxima... Gritos, passos apressados, portas abrindo e fechando... Em ato reflexo levei a mão onde estaria minha arma e nada encontrei... Alias, nem minhas calças eu encontrei ou minhas roupas habituais ou minha bolsa... Eu vestia um típico traje de interno e olhei a minha volta... A realidade mudara outra vez. Eu estava dentro de uma cela de sanatório e parecia ser uma interna... Uma volta aos velhos tempos ao que parecia, pois eu estava novamente com a aparência de 19 anos. Não tive tempo de sentir desespero, pois alguns gritos ali fora eram bem familiares...

A porta estava aberta... No corredor outra surpresa. Victor estava com uma faca e acabava de acertar um golpe em Samuel. Eles também estavam mais jovens, na idade que eu os tinha conhecido, com os trajes de internos. Meu coração quase parou quando Samuel caiu esvaindo-se em sangue. Corri para tentar fazer algo a respeito, mas fui segurada por um homem forte e uma mulher passou por mim com outros dois homens... Médica e enfermeiros ao que parecia. Fui praticamente arrastada para a cela e trancada lá. Só consegui ver pela pequena janela Samuel sendo levado de maca para algum lugar e depois Victor preso a uma camisa de força se debatendo como um animal.

Eu parei finalmente para pensar no que estava acontecendo. Que tipo de realidade é aquela? Não parecia sonho, era real demais. Desta vez não havia elementos de ser passado ou futuro. Eu me sentia estranha... Bom, para que entendam terei que explicar melhor certo?

Depois de um tempo a médica de antes veio me ver e fez as perguntas padrão de avaliação... Respondi automaticamente e ela se foi. Perguntei pelos dois companheiros, mas ela só disse o que eu já imaginava... Samuel na enfermaria e Victor na sala acolchoada. Percebi que eu teria que dançar conforme a música. Perguntei que ano era e a doutora me disse 2006... Fingi uma surpresa e um início de lucidez. Isso seria útil mais tarde... Embora tenha ficado surpresa por estar no ano anterior do apocalipse.

Se for Flauros quem criou isso tudo, estava muito inspirado em nos confundir. Lone ali era o psiquiatra chefe, Gabriela era uma médica, Tamara uma das pacientes mais debilitadas... Tudo a nossa volta nos fazia acreditar que Nossas aventuras, vida, hora negra, monstros... Filha e gravidez... Tudo produto de nossa insanidade. Eu estava lá a nove anos, mais da metade disso na ala dos mais perigosos, contando as mesmas histórias para todos la dentro.

Lembro que era o dia 05 de janeiro de 2006... Enquanto Victor penava na cela especial, consegui permissão para visitar Samuel. Ele estava tão perdido quanto eu, mas ao menos ele preencheu a lacuna de história que faltava depois de desmaiar. Ambos avançaram contra a mulher loira, vulgo Flauros, tentando flanqueá-la. Samuel avançou e errou o primeiro golpe. Logo atrás, Victor avança com um golpe perfeito, mas acerta o alvo errado! A mulher esquivou tão rápido que Samuel estando logo atrás é que acaba atingido pelo golpe. Quando se deram conta estavam ali, como internos de manicômio... E ele com uma faca cravada no corpo. Samuel comentou que vira Lone, no caso agora Doutor Lone e a Doutora Gabriela no dia anterior e parecia frustrado... Até quando essa mulher vai torturar Samuel com sua presença? Certo que aqui nesta realidade ela era médica de Samuel e pelo anel em seu dedo, casada e com filhos... Mas enquanto essa assombração estiver próxima, eu não poderei me aproximar...

Opa... Desculpem-me o acesso de ciúmes. Não é nenhuma surpresa que gosto dele e até mesmo temos uma ligação especial através de nossa filha... Ah! Isso me lembrou de que durante a estada neste sanatório, Esperança foi a única pessoa próxima de mim que não tinha uma versão nesta realidade. Ao questionar sobre a minha filha, os médicos foram enfáticos em afirmar que eu nunca estive gravida... Então porque a lembrança existe? Porque os meus instintos gritam que isso não estava certo? Eu estava confusa sim... Muito mesmo. A realidade a nossa volta fazia sentido, as explicações não... Eu tinha todas as lembranças, lembranças e sentidos de mãe e guerreira... Coisas que eu não aprenderia em nove anos de Sanatório.

Samuel e eu chegamos a um consenso... Esperaríamos o desenrolar dos acontecimentos e agiríamos de acordo com o cenário... Ao menos por hora. Havia muitos olhos nos observando, esperando a próxima loucura... Não daríamos mais razão para isso. A tendência era que assim fossemos transferidos para uma ala mais leve na vigilância... Ou talvez até mesmo sair deste lugar... Paciência era uma virtude que se pratica muito em Manicômios... Eu infelizmente era experiente nisso.

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