BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

DIÁRIO DE JOSEPH 28/09/2005

Estava num bosque de árvores negras retorcidas, o chão parecia feito de cinzas, mas algo dava ao solo uma consistência estranha, como lama... Sentia frio, estava sozinho, olhando o céu só via nuvens negras, Deveria haver uma lua cheia lá atrás, porque havia uma estranha penumbra que lhe permitia ver um pouco, apesar da névoa que dançava assombrosamente através dos galhos secos. Ele estava nu, com cortes por todo o corpo, sua pele mesclava-se roxa, de frio, e vermelha, de sangue. " talvez seja um sonho, ou pesadelo..." e pôs-se a caminhar, o vento batia forte em seus arranhões e os rasgavam imbuíndo-lhe uma dor terrível. " Não pode ser sonho, estou sentindo muita dor..." Resmungou entre os dentes cerrados de raiva, da raiva que lhe subira da sola do pé até os nervos cranianos, assim que pisou num espinho finíssimo e comprido. Horas, talvez duas, três, quatro; ele mancava, sentia frio, não sentia mais os dedos dos pés e das mãos... Então um vulto apareceu à sua esquerda, de susto virou seu rosto, e nada enxergou. Como uma criança curiosa que não tem medo porque pensa estar brincando de esconder-se com seu pai, pôs-se a procurar, atrás dos troncos mortos. Olhando adiante, encontrou uma sombra que protuberava-se ao lado de uma das espécies moribundas de arvore, e parecia que havia alguém ali atrás, mas era alto e parecia ter uma cabeça estranha... Sem medo, como a criança que imagina encontrar seu pai, ele foi ao encontro do ser, e eis que a criança se assusta, pois o que havia ali não era seu pai, não era um tio distante, não era nem sequer um humano! Olhos negros como que vazados e uma pele de cadáver chamavam mais a atenção naquele ser magro e alto com três dedos em cada mão de braços alongados, e sua bocarra era enorme com dentes finos a fiados exatamente como o espinho que havia fincado seu pé, a expressão adiantava-se como a de um caçador com fome e a monstruosidade saltava-lhe as têmporas! Então as pernas de Joseph tornaram-se fracas, e tremiam, seu rosto misturava escárnio, medo e angústia, e quando pensou em sair correndo, não conseguiu. Simplesmente travou, ficando ali, como estátua de gelo na frente de uma platéia assustadora. Mais dois, três, quatro, cinco deles... Aproximavam-se vindos não se sabe de onde, enquanto o mais próximo mantinha sua face a um palmo da dele, encarando diretamente seus olhos... Nada do corpo do homem se movia, nenhum comando era obedecido, então ele soube estar apenas com sua mente naquele momento... Olho direito semi-cerrado, dentes crispando-se e rangendo, o corpo como uma bomba prestes a explodir... E nada se mexia, a não ser seus sentimentos corroendo tudo sem pudor, como vermes, exatamente como vermes! O medo, o desespero... Então seus olhos focaram a mão do ser bisonho, e sua boca mexeu-se no canto, então começou a rir! Seus olhos estavam dominados pela loucura, ria como um louco perverso sem escrúpulos, como se estivesse se deliciando com o estômago de uma vítima, talvez não fosse ele, talvez tivesse dado espaço a algo que lhe controlava, ou talvez naquele lapso de segundo houvesse encontrado quem ele realmente era, mas nenhum pensamento vinha naquele momento, e ele só podia agir... Pegou na mão do monstro, apertou forte e com a outra o trouxe para perto de si, com os olhos grudados nos olhos ficaram os dois por segundos como num combate que revelaria quem tem mais coragem... Joseph se sentia tocado por várias mãos de unhas compridas, que encravavam suas feridas abertas e abriam outras novas, ele não desviava o olhar porque o primeiro que desviasse morreria, ele sabia disto... Quando viu tudo se balançar e a face de um homem barbudo de dentes amarelos gritava ao seu lado sacudindo seu ombro, olhou em volta e pode perceber que adormecera no ônibus, e agora fazia sentido a voz do homem, "rodoviária de Boston! Ande logo, temos mais o que fazer..." Aturdido pegou sua sacola de roupas e saiu esbarrando no cobrador... Andando a esmo no meio da multidão rodoviária relembrava o pesadelo como num filme, e sua cabeça começou a trabalhar:" De tanto medo, parece que o medo não chega mais, como se o mecanismo que o controla tivesse pifado, e interligado ao medo, está a loucura, que expandiu em contra-balanço." " É isso, sou maluco, sou um maluco sem medo!" " as que espécie de louco sabe que o é?" Alguma coisa queria resgata-lo pra realidade comum, a mesma voz que habitava sua cabeça e sempre lhe avisava que estava indo longe demais, que deveria parar de se deixar levar senão jamais voltaria a si mesmo, desta essa voz, a mesma voz, resolveu mudar o discurso, então ele ouvia algo que parecia ser seu interior dizendo: "vá em frente, porque ir até o fundo é o único jeito de encontrares a ti mesmo." " A loucura? talvez seja a única aliada de um homem que quer se encontrar" Estava no centro da cidade, num parque, atravessando a rua movimentada com o sinal aberto, algo o protegeu e ele não percebeu nada, pensando em como deveria encontrar aqueles seres, e encará-los de uma vez por todas, porque fugir, era pra presa, e ele , agora, era quem caçava. Quando se deu conta, sua imagem refletia-se numa água turva no fundo dum chafariz que não estava funcionando, ela era pastosa, bolorenta, e seu rosto ali, não parecia bem... "É como estar tudo nos olhos, toda a verdade na percepção dos olhos! Eu vejo algo horrível, mas sei que é só uma água suja que reflete, na verdade o que vejo feio pode não ser, no fim...". " Ou, esta realmente seja a face verdadeira de cada coisa, e o espelho claro, apenas uma ilusão!" Devaneando novamente, através da velha superfície reflexiva... Quantos anos ainda até o fim de sua busca? Busca... Que busca era aquela, afinal? Os sonhos invadiam a realidade, a realidade misturava-se com a névoa dos imagens meio apagadas dos sonhos,(quando digo sonhos, me refiro a pesadelos), já não se podia separar o irreal do real, talvez fosse tudo mesmo uma questão de perspectiva. Mas o que? Pra que servia tudo isto? Pernas andando a esmo, errantes. Cabeça equilibrando-se na linha tênue entre o certo e o errado e abaixo o fosso da loucura. "Esquece tudo isso, te preocupa com Samuel e com Liana, eles no fim importam mais que tu mesmo" Referiu-se assim a si, em voz alta, e fechou o casaco, se dirigindo a um orelhão...
- JOSEPH

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