BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

terça-feira, 28 de abril de 2009

26 DE JANEIRO - 2006

DIA 26 DE JANEIRO DE 2006
UMA SEMANA DEPOIS DE CHEGAR NOS EUA,

Eu consegui me estabelecer na casa de uma antiga colega de minha mãe. O destino quis que ela fosse dona de um sebo no Brooklin e eu trabalhava para ela por casa e comida. Não tinha nada que me queixar, afinal começava a me sentir em casa, como a muito não sentia. Mas sabem quando tudo está tranqüilo demais?

Minhas “férias” tinham acabado... Isso amenizando muito a situação...

Depois de um dia “agitado” no sebo, entenda por mais de dez clientes num único dia, estava em meu quartinho, lendo o ultimo manual para bruxos iniciantes. Tenho um interesse óbvio pelo sobrenatural e tenho lido tudo que encontro a respeito. Nem tudo é válido, mas pode se tirar algum proveito às vezes. Tornou-se uma necessidade descobrir o que aconteceu comigo há 4 anos e nada além das artes ocultas podem me dar às respostas. Anna e os clientes habituais me chamavam de “aprendiz de feiticeira” devido a minha obsessão. Nunca me importei...

Adormeci com o pensamento feliz de não ter que levantar cedo no dia seguinte. Teria tempo para ler mais e conversar com algumas pessoas que tem a mesma fascinação pelo oculto que eu. Um bando de estudantes e suas teorias absurdas, mas essa era uma forma de me divertir. Dormi depois de um bom tempo, um costume herdado dos tempos de sonambulismo... Quem diria que eu até me esqueci que era sonâmbula, pois há muito tempo não acontecia. Aquela noite, O homem encapuzado apareceu novamente nos meus sonhos. Toda aquela sensação de medo e pavor voltava.

“Você é minha” dizia ele, “Está na hora de cumprir o seu destino”.

Estava tudo escuro e apenas ele e eu. Algum tempo depois um homem que nunca vi na vida, surgiu da escuridão de costas para mim. Uma vontade que não era a minha me deu uma faca e me incitou a esfaquear o homem a minha frente. Tentei resistir, mas esta influência maléfica era mais forte que eu. Ataquei o homem e esfaqueei uma, duas, varias vezes...

Foi aí que meu mundo desabou...

Minha única ponta de esperança era acordar e ver que nada disso era real. A realidade se mostrou ainda mais cruel. Acordei em uma lavanderia, de camisola, suja de sangue do homem que eu acabara de matar e a faca ensangüentada em minhas mãos. Só quando o frio característico do inverno em Nova Iorque me atingiu, que percebi a desgraça que acontecera... Matei um homem durante o sono. E me lembrava de tudo desta vez.

Foi como se minha cabeça explodisse e todas as minhas sinas retornassem de uma vez só! Meu passado voltara para me assombrar e dessa vez tinha consciência. Acabei matando um homem, mas não era eu! Estava desesperada em pensar que por causa disso iria para a cadeia, ou deportada ou ser mandada novamente ao sanatório de onde não deveria ter saído...

Saí correndo porta afora, para as ruas geladas querendo muito minha casa, minha cama, minha mãe... Mas estava numa cidade enorme e estranha, onde cada sombra ou movimento parecia ameaçador. Estava perdida e congelando de frio, não querendo olhar párea mim mesma, pois estava novamente banhada em sangue alheio. Vi-me cercada de névoa e sentia minha consciência se esvaindo. Logo não via nada além do vermelho vivo me cercando e me prendendo... O pesadelo retornava.

Meu pavor era tal, que meu raciocínio já não funcionava. Apenas reagia. Não percebia que eu estava dentro de uma cabine telefônica, Nua e banhada em sangue como naquele dia a três anos atrás. Não havia voz, movimento ou vontade de viver... Só o desejo de que aquele pesadelo sem fim acabasse. Subitamente a porta da cabine se abre e nada me ocorria, a não ser acuar no canto como um animal que acabara de ter o esconderijo descoberto. Vi-me diante de três homens que estavam tão assustados quanto eu. Isso não era tranqüilizador, pois parecia ter o mesmo olhar das pessoas que me viram decair em desgraça... Mesmo entorpecida, tentei me afastar, fugir mas me resignei quando me pegaram e me levavam... Agora nada mais fazia diferença.

Demorei em compreender que aqueles homens estavam ali para me ajudar. Ofereceu-me um casaco, bebida quente e um sofá para me acalmar. Minha razão voltava aos poucos e finalmente percebia o que estava acontecendo. Eles estavam de partida quando me encontraram ao que parece por uma indicação de alguém. Consegui por fim me apresentar para eles, quando a voz retornou. Contei tudo que tinha me acontecido e eles pareciam não estar tão surpresos quanto a historia. Finalmente podia avaliá-los melhor para uma primeira impressão.

Samuel era o nome do que parecia ser o mais velho dentre eles. Pele negra, cabelos no estilo rastafári, tapa olho ocultando um olho vazado que veria depois e de aparência cansada. Não era um sujeito muito simpático e falava pouco. Não senti confiança nele num primeiro momento... Talvez os olhares sérios e intimidadores tenham ajudado.

Peter, um homem loiro de olhos claros, aparentava ser mais jovem que Samuel. Parecia ser o mais simpático ali e o que mais conversava comigo. Ele disse que acreditava em mim, pois passara por uma situação muito parecia antes. Foi por ele que descobri que eu não era a única aberração sobrenatural naquela garagem num primeiro momento.

Victor, um tipo meio esquisito que não parecia estar aceitando bem aquilo tudo... Digo isso porque nesse sentido era o mais parecido comigo. Parecia bem assustado e sempre em alerta. Lembrava um pouco os indigentes que vivem na rua, com seu cabelo crespo e barba por fazer, cuja idade eu não conseguia dizer. Parecia obcecado por carros, em especial uma sucata que estava naquela garagem e não iria a lugar algum.

Percebi logo que não era a primeira vez deles num evento sobrenatural... Pelo menos para Samuel e Peter, que já planejavam o que deveriam fazer. Victor, como disse antes, parecia tão perdido quanto eu. Tudo que eu queria era me lavar daquele maldito sangue! Fiz isso e quando pensava no que iria vestir agora, Eles me indica um dos quartos, onde uma companheira antiga deles morou antes. O nome é Liana... Guardem esse nome, pois ele vai me perseguir por muito tempo. Não me sentia muito a vontade de usar roupas que não eram minhas, mas era isso ou nada.

Saímos a pé para a rua, que se revelou uma nova Iorque completamente vazia e cercada de Nevoa. Um cenário típico de fim dos tempos. Não havia uma viva alma além de nós, como se o mundo acabasse e só nós sobrevivemos. Eu não sabia se sentia medo ou alívio, embora continuasse bem próxima de Peter. Repentinamente ouvimos os sinos de uma igreja próxima e obvio que vários pensamentos assustadores me ocorreram no momento. Usando a lógica, alguém tocou o sino, então nos dirigimos para lá na esperança de encontrar outras pessoas.

A Igreja parecia tão assustadora quanto o resto. Nunca tive muita afinidade com o catolicismo, preferindo o estudo e a prática de religiões pagãs. Mas não posso negar que passava certo alívio aos outros, até a mim! Como todo o ambiente, parecia abandonado há muito tempo e não sabíamos o que esperar lá dentro. Eu devia saber que era um padre... Bem, um tanto fora de contexto, mas ainda assim um padre.

Os homens da comitiva pareciam conhecê-lo, por isso tentei ficar mais calma, apesar de ver o padre armado com uma escopeta. Acha isso estranho? Não mais que ele olhando para mim e me chamando de pecadora. Cismou comigo o tempo inteiro e isso estava começando a me assustar. Não saia de perto de Peter por nada! Meu instinto dizia que tinha algo muito errado ali. Em um ponto da conversa, aquele padre pediu (quase exigiu) que me confessasse. Eu não ia fazer essa coisa ridícula, mas os meus três “Heróis” pareciam fazer questão que eu aceitasse. Mais por provar que não tinha medo de “deus”, fui com o padre até o confessionário...

Será que os fieis da paróquia desse sacerdote consideravam justiça divina explodir a cabeça de uma garota inocente?

Aquele bastardo queria me matar!! Apontou aquela espingarda para mim, para minha cabeça!! Nunca senti a morte tão próxima e nunca tive tanto medo. A sorte estava comigo, pois Samuel atirou no desgraçado, me dando tempo para fugir. Fiquei aliviada em saber que eles não tinham nada a ver com a “confissão” e cumpriam a promessa de me proteger. Acham que isso tudo foi ruim? O pior veio depois! Aquele maldito padre, mesmo estando prestes a morrer, afirmava que eu estava possuída por um demônio e se realmente quisesse fazer um favor ao mundo, que me matasse! Sorte dele eu não estar armada naquele momento.

Como se o ambiente já não estivesse pesado o bastante! Agora eles desconfiavam de mim, tinha certeza! Não sabia se corria ou ficava... Até parece que eu tinha para onde correr. Um telefonema para Peter desviou a atenção. Parecia que uma amiga deles marcou um encontro em algum local próximo... Um antiquário, pelo que constatamos ao chegar. O local parecia ainda mais envelhecido e sombrio do que seria, mas me sentia mais tranqüila aqui. Dirigindo-nos a uma sala nos fundos,

Encontramos a amiga que ligou para Peter... E não podia ser uma figura mais profética.

Uma velha senhora cega em uma cadeira de rodas... Outra conhecida dos rapazes ao que parece. Ela tinha ligado e pedido por minha proteção. Fiquei receosa em me aproximar quando ela pediu, mas senti que devia confiar nela. Ao menor toque de sua mão, tive uma visão...

Estava num corredor de hospital, escuro e nada convidativo. Vi-me caminhando até a ultima porta ao final do corredor. Abri a porta e num piscar de olhos, estava numa cama dentro do quarto com um bebê em meus braços. Quando fui ver o rosto dele, já tinha retornado a realidade.

“Ela é a antagonista de Liana e trará ao mundo o inverso que nascerá de seu ventre...” Isso foi mais ou menos o que ela disse e todos ali ficaram assustados. Liana não era a mulher que ocupava aquele quarto de onde tirei as roupas que visto agora? Queria dizer que eu teria um filho logo, mas com quem? Era impossível! Samuel teve também sua cota de revelações. O que me deixava irritada é que não queriam me contar nada! Diziam que era o melhor para mim... Oras, disso quem cuida sou eu! Agora tinham a ver comigo e precisava saber... Mas nesse momento, o mundo voltava ao normal e todos concordavam que precisávamos imediatamente de uma cama. Eu não discordei.



Sebo onde Laura trabalhava
Laura se ve rodeada por sangue na cabine!

O padre que tentou atacar Laura.


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