BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

DIARIO DE LAURA - PRIMEIRA PÁGINA

Faz uma semana que cheguei na América, a "terra das oportunidades"...

É bem verdade que tenho uma vida difícil agora, mas nada comparado ao inferno que caí por anos preciosos na vida de uma garota. Não gosto de falar no assunto, então este diário é uma forma que encontrei de colocar para fora tudo o que aconteceu... Coisas que ninguém acreditaria... Assuntos que todos querem evitar... Perguntas que ninguém tem coragem de fazer... Respostas que ninguém tem... Um dia, quem sabe, Este diário pare nas mãos de alguém mais sábio que possa me entender ou nas mãos de um completo ignorante que vai pensar que são pesadelos de uma adolescente perturbada com um tino especial para escrever contos de terror. Quando isso acontecer, já não estarei mais nesse mundo, portanto não fará diferença alguma. Aqui existem apenas fatos reais. Acredite ou não, se continuar lendo, estará por sua conta e risco.
Vai continuar? Ótimo! Não diga que não avisei! Não vai poder se arrepender, pois não terá volta... Ultima chance de parar! Não vai? Então se sente, beba um chá, tente relaxar e faça bom proveito. Terá muita chance de me agradecer ou amaldiçoar depois...
Começo então a historia de minha vida, retrocedendo uns 10 anos no passado...

ANO DE 1996, FAZENDA MC`CLOUD, IRLANDA

Sou uma camponesa típica, uma garotinha de nove anos filha de prósperos fazendeiros na bela e velha Irlanda. Meu pai, Arthur Mcloud, herdou estas terras de muitas gerações anteriores e minha mãe, Mary Mcloud, uma americana que veio tratar de assuntos de negócios com o próspero fazendeiro e não foi mais embora. Uma historia de amor como muitas outras, mas que terá que ser contada em outra ocasião. Sendo eu filha única, tive uma infância permeada de mimos. Meu pai sempre desejou um menino, mas não se importou em me ensinar as coisas que deveria saber para um dia tocar a fazenda e o costume familiar adiante. Eu adorava tudo aquilo.
Então começou aqueles sonhos estranhos e assustadores. O primeiro eu nunca esqueci. Era o bosque próximo da fazenda onde eu andava entre árvores e arbustos, até chegar em uma clareira onde no centro havia uma grande estrela de cinco pontas desenhada com tinta vermelha. Sempre acabava por me postar no centro dela e via um homem muito grande, cujo rosto nunca conseguia ver porque estava de capuz, se aproximando de mim, chamando pelo nome com uma voz que sempre me assustou. Quando acordava, suando e ofegante, ele sempre chegava muito perto, mas nunca tocava. Muitos pesadelos como esses viriam, assim como minha nova crise de sonambulismo.
As coisas começaram a piorar a partir daí. Os pesadelos eram mais freqüentes e por causa do sonambulismo, acabava parando em vários pontos da fazenda em situações muito estranhas... E Simplesmente não lembrava como parava lá. Estas crises vinham, podia passar meses sem elas e depois voltavam. Não havia lógica, nem períodos exatos... Simplesmente vinham. Meus pais fizeram o melhor que podiam, mas a “doença” já durava cinco anos. Tentavam abafar ao Maximo as eventuais fofocas de empregados e vizinhos, mas alguma coisa vazou... Nada além de boatos e
Cochichos, mas nem por isso menos perturbador.
Finalmente o dia... Meu aniversário de 15 anos. Seria uma festa inesquecível e de fato foi... Para bem e para o mal. Meus pais não pouparam despesas, queriam que fosse um dia especial. Lembro que mal dormia nos dias que antecediam a ocasião, e não era para menos. Todos os vizinhos, amigos e toda a família foram convidados.
Um grande galpão que havia na fazenda tinha sido preparado para a ocasião. Não vou dar detalhes sobre a festa, mas posso resumir... “Foi à calmaria antes da tempestade”. Foi o ultimo dia realmente feliz da minha vida. Havia muita preocupação sobre as minhas crises, mas ninguém parecia se lembrar do assunto. Tudo correu muito bem... Até aquela madrugada...
A maioria tinha ido embora, ficando apenas os familiares que partiriam no dia seguinte. Eu estava exausta! Lembro de ter ido para meu quarto, tirei o vestido e deitei na cama, verificando os presentes que ganhara. O sono veio gradualmente e pouco antes de dormir, meu pai e minha mãe vieram dar o presente deles e um beijo de boa noite... Foi o ultimo sorriso deles que presenciei e até hoje. Eu lembraria isso nos momentos de angústia e dor que aconteceriam. Quando eles saíram, mal ouvi um clique de porta sendo trancada, pois não podiam arriscar um ataque meu com todos os parentes na casa.
Segundo o depoimento de minha mãe, ela foi acordada pela empregada em desespero. A menina Laura não estava no quarto e parecia estar machucada. Chegando ao quarto, de fato ela não estava lá. A cama estava com uma grande mancha de sangue e a porta parecia ter sido arrombada. Aos poucos o alarde fez a casa toda acordar e se perguntar o que acontecera. Ela e meu pai viram que havia um filete de sangue seco saindo do quarto e continuava pelo corredor. Seguindo o rastro, ele continuava para fora da casa e terminava na porta do celeiro. A porta estava trancada e meu pai as abriu... A cena era bizarra...
O sangue seco se tornara fresco e parecia estar por toda parte. Símbolos estranhos estavam desenhados como num filme de terror. Quando achavam que não podia ser pior, me encontraram no centro do celeiro... Completamente nua, Um punhal na mão, eu banhada em sangue no centro de um grande pentagrama, desenhado a sangue. Acordei naquele instante, com o fedor em volta e sem noção do que passava. Sorri quando vi meus pais, mas interrompi de súbito um cumprimento quando vi que estavam aterrorizados... Quando dei por mim, entrei em choque... Todos diziam que quando chegaram naquele cenário, os que tinham coragem de olhar por mais tempo viram que eu estava completamente fora do ar, como se estivesse em coma...
De súbito, comecei a gritar...
Um grito de dor, confusão, desespero, tristeza... Como se tudo que eu estava sentido na hora aflorasse naquele grito. Dizem que fiquei muito tempo gritando e ninguém tinha coragem de se aproximar. Vi o pavor em todos ali... E quando olhei para os meus pais, não agüentei sustentar o olhar deles... Desmaiei ali mesmo.
Acordei no dia seguinte, faminta e sedenta, numa cama de hospital. Demorou algum tempo para eu perceber que estava atada a cama. Logo tudo veio à tona como um raio e comecei a entrar em pânico. Segundos depois, entra um medico e uma enfermeira tentando me conter e me acalmar. Meus pais vieram em seguida. Apesar de tudo que fizeram para me tranqüilizar, eles não me soltaram... Podia ver o receio nas expressões de todos que passavam por ali. Descobri como eram as expressões de medo, todas elas... O pior que a humanidade pode oferecer. Sentia-me uma fera que daqui a pouco colocariam uma focinheira e prenderiam bem longe da civilização.
Aquele dia foi interminável e quando achei que não poderia ficar pior, na madrugada fui bruscamente acordada por gritos e discussão. A porta abriu-se e logo, homens com uniformes brancos adentraram o quarto. Estes tinham uma expressão neutra e começaram a vir em minha direção. Quando entrou um com uma camisa de força, comecei a entender. Podem imaginar o medo que senti, quando meus piores medos começaram a tomar forma? Não creio! Ninguém sabe como é, até provar... Tentei correr, fugir, lutar, chamar pelos meus pais... Nada podia evitar o que aconteceria e acreditem... Implorei para que me matassem e não me jogassem em uma cela acolchoada. Eu não era Louca, porque me tratar assim? Mas nada doeu mais que ver meus pais no saguão, me olhando com aquele medo que mencionei antes... Aquele olhar que fere como uma facada. Como se não bastasse, toda a cidade parecia estar lá, presenciando a minha desgraça. Se tristeza e mágoa matassem, Eu já estaria morta e no momento, parecia ser o desejo de todos... Inclusive o meu...
Foram três anos que pareceram uma eternidade! Não gosto de comentar sobre essa época, mas tentarei dar uma idéia. Seja internado num sanatório, como loucos altamente perigosos que necessitam cuidados constantes, remédios atrás de remédios, o branco interminável do ambiente, as “terapias” antiquadas que parece torturas medievais, a solidão, conviver com insanos da pior espécie... Some a isso o detalhe de que não estão loucos, em plena consciência de suas ações!
Se eu não estava Louca, ficaria em breve. A única coisa boa foi que os pesadelos e o sonambulismo sumiram... Eu disse coisa boa? Meus conceitos realmente mudaram muito. Não tenho orgulho de afirmar que cedi a sentimentos como ódio para suportar a estadia por lá... Ódio das pessoas que me puseram aqui, ódio de minha família que nada fez para me ajudar e nem me visitavam. Recorri a tudo o que conhecia para evitar ceder à loucura que me cercava...
Foram três longos anos...
Não me perguntem como eu saí... Um dia destes, fui levada ao diretor geral que me fez uma dúzia de perguntas e assinou o atestado de sanidade. Em mais ou menos duas horas eu estava do lado de fora dos portões do sanatório, completamente perdida e sem entender nada de como tinha acontecido. Primeiro senti medo e insegurança e queria voltar para dentro... Parece piada não? Mas depois senti muita tristeza e raiva por nem num lugar como aquele me aceitarem. Por ultimo a resignação de que estava sozinha e um mundo inteiro a percorrer. Não lembro o quanto eu andei até chegar em um restaurante e pedir um café, mas foi aí que passei a pensar no que fazer...
Não voltaria para casa... Aliás, para o rancho dos Mcloud, pois eu via tudo como um passado muito distante e não era o momento de enfrentá-los. Na cidade menos ainda! Verificando uma sacola que estava em meu nome na rouparia do sanatório, ainda estava lá o envelope que recebi de aniversário. Era uma passagem de avião que ia para os estados unidos. Parece que finalmente iria conhecer a terra de minha mãe. Não sei por que, mas preferi fazer um caminho mais longo. Vendi a passagem e com o dinheiro, atravessei uma parte da Europa, o oceano atlântico de navio até os Estados Unidos... Sentia que precisava me sentir humana de novo e este ano de estrada, acreditem ou não, Foram de grande ajuda.

A FAZENDA DOS MC`CLOUD


FESTA DOS 15 ANOS DE LAURA


SANATORIO









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