DIA 3 DE NOVEMBRO DE 2022
DIA 3 DE NOVEMBRO DE 2022
Foi necessário deixar aquela noite maldita passar antes de fazer qualquer coisa... Não conseguiria dormir, por isso Samuel e Victor começaram a preparar tudo para uma partida definitiva e eu comecei a reunir os mortos para um funeral tosco, mas necessário. Victor parecia firme em sua fé e Samuel por mais que tentasse, não parecia tão forte como sempre foi... Perder a amada e a filha em dois dias foram golpes cruéis... E eu sentia sua dor, ainda maior em relação a nossa menina perdida. Todos nós tínhamos apenas uma coisa na cabeça... Partir e encontrar Flauros, enfrenta-lo e salvar Esperança... Mas não tínhamos a menor ideia de onde ir.
Eu achei entre os pertences de Esperança uma luva sem dedos de couro que ela usava com frequência... Fora um presente de Samuel e ela adorava aquela luva. Coloquei-a em minha mão e pensamentos sombrios permeavam minha mente... Eu a encontraria, nem que fosse necessário apelar para o ocultismo em sua essência... Em um mundo como aquele, bruxaria não era o pior dos males, embora fosse ainda mais perigoso do que de costume. Assim que o dia chegou, partimos no carro com toda a nossa tralha na caçamba rumo a Loretto.
Lembram que disse que éramos novamente três? Falei mais como sensação do que realidade... Tamara ainda estava conosco... Lembram-se dela certo? A menina que perdeu o pai para soldados inescrupulosos que só pensavam em sua sobrevivência. Que o inferno os tenha engolido! Ela estava conosco na caravana e por isso ainda vivia... Mas por quanto tempo? Foi muito difícil, mas convenci os outros a dissuadir Tamara de continuar conosco. Ela é uma jovem bonita e saudável agora, não teria problemas em sobreviver na comunidade... Mas seu olhar de mágoa me acompanha até hoje, em pensamento. Quero acreditar que fiz o melhor para ela... Mas agora já não tenho certeza disso. Ela sumiu e nunca mais a vimos... Pelo menos não nessa vida.
Procuramos Martin e negociamos quase todas as nossas tralhas restantes por gasolina e mantimentos... Contamos que não existia mais nada lá e que partiríamos rumo ao norte. Em breve nossa partida chegaria aos ouvidos do padre Ricky. O homem era como o líder local e ocupava a igreja que ainda estava de pé. Ele era um bom homem, que fazia o possível para que as pessoas não perdessem a fé em deus e em dias melhores. Ricky veio a nós e sabendo que não tínhamos rumo, sugeriu um trabalho. Não eram incomuns os peregrinos que levavam ou traziam mensagens de outras comunidades, havendo até mesmo aqueles que faziam isso especialmente para a igreja, que eram chamados de cruzados.
O trabalho era simples... Levar uma missiva até Boston para um padre chamado Paul. Claro que havia os perigos, os condenados comedores de carne, os salteadores, os mercenários... E nenhuma certeza de prazos ou entregas. O padre estava disposto a pagar o combustível e os mantimentos... Não tínhamos um destino certo, então aceitamos fazer essa entrega em Boston. A viagem levaria menos de uma semana se nada desse errado. Também seria oportuno, pois não sabíamos o que havia ocorrido mais ao norte ou mesmo no resto do mundo... Era a oportunidade de saber até onde foram os estragos. Irei até o inferno para encontrar minha filha se for preciso.
O padre levaria algum tempo para preparar tudo. A ideia era viajar para Boston, entregar a carta e continuar em frente, sem retornar para Loretto. A busca seria feita por toda a América do norte e mais além depois. Se surgisse outros trabalhos de entrega, seriam ótimos para manter nossa sobrevivência. Em cada comunidade, eu perguntaria por minha filha... Esperança é uma mulher que chama a atenção e dificilmente passará despercebida... Isso contando que ela esteja perdida neste mundo material. Era tudo com o que podia contar no momento.
Cada um aproveitou suas ultimas horas em Loretto do seu jeito. Victor até onde sei, levou o precioso carro até uma oficina local para eventuais reparos. Aquele carro era uma raridade, algo precioso naqueles tempos e necessitava de cuidados constantes. Victor praticamente o montou sozinho. Soube que até mesmo fez amizade com um jovem mecânico local chamado Ferrugem.
Samuel eu mal vi aquele dia, mas soube que esteve frequentando a igreja e o depósito de Martin. Houve um momento único em que Samuel mostrou seu tesouro... Um violino. Só nós sabemos o que ele passou para mantê-lo intacto. Ele tocou na praça central e todos na comunidade pararam para assistir. Nestes momentos sempre me lembrava de meus tempos de coral da escola... E sempre que Samuel tocava me dava vontade de cantar. Fomos à atração da cidade naquela tarde, pois nos tempos de hoje, qualquer tipo de arte parecia ser rara e bem vinda. Depois houve uma situação engraçada, onde Samuel aparentemente não conseguiu consertar um lap top encontrado nas sucatas de Martin. Discutiram por algum tempo até que Samuel venceu “a guerra de palavras” com Martin. Foi impressão minha ou Samuel que estragou a maquina de vez? Nunca saberemos.
Quanto a mim, passei quase o tempo todo no hospital improvisado que ficava na igreja, ajudando o pessoal de lá. Não havia muito que fazer, então aproveitei para conseguir coisas para o rito que planejava fazer... Giz, papel, velas, caneta... Não poderia fazer na igreja ou nesta cidade... Não sei o que poderei acabar atraindo... Faria isso na próxima oportunidade, longe de lugares sagrados e populosos... Não vou querer outros pagando pela minha ousadia.
Foi necessário deixar aquela noite maldita passar antes de fazer qualquer coisa... Não conseguiria dormir, por isso Samuel e Victor começaram a preparar tudo para uma partida definitiva e eu comecei a reunir os mortos para um funeral tosco, mas necessário. Victor parecia firme em sua fé e Samuel por mais que tentasse, não parecia tão forte como sempre foi... Perder a amada e a filha em dois dias foram golpes cruéis... E eu sentia sua dor, ainda maior em relação a nossa menina perdida. Todos nós tínhamos apenas uma coisa na cabeça... Partir e encontrar Flauros, enfrenta-lo e salvar Esperança... Mas não tínhamos a menor ideia de onde ir.
Eu achei entre os pertences de Esperança uma luva sem dedos de couro que ela usava com frequência... Fora um presente de Samuel e ela adorava aquela luva. Coloquei-a em minha mão e pensamentos sombrios permeavam minha mente... Eu a encontraria, nem que fosse necessário apelar para o ocultismo em sua essência... Em um mundo como aquele, bruxaria não era o pior dos males, embora fosse ainda mais perigoso do que de costume. Assim que o dia chegou, partimos no carro com toda a nossa tralha na caçamba rumo a Loretto.
Lembram que disse que éramos novamente três? Falei mais como sensação do que realidade... Tamara ainda estava conosco... Lembram-se dela certo? A menina que perdeu o pai para soldados inescrupulosos que só pensavam em sua sobrevivência. Que o inferno os tenha engolido! Ela estava conosco na caravana e por isso ainda vivia... Mas por quanto tempo? Foi muito difícil, mas convenci os outros a dissuadir Tamara de continuar conosco. Ela é uma jovem bonita e saudável agora, não teria problemas em sobreviver na comunidade... Mas seu olhar de mágoa me acompanha até hoje, em pensamento. Quero acreditar que fiz o melhor para ela... Mas agora já não tenho certeza disso. Ela sumiu e nunca mais a vimos... Pelo menos não nessa vida.
Procuramos Martin e negociamos quase todas as nossas tralhas restantes por gasolina e mantimentos... Contamos que não existia mais nada lá e que partiríamos rumo ao norte. Em breve nossa partida chegaria aos ouvidos do padre Ricky. O homem era como o líder local e ocupava a igreja que ainda estava de pé. Ele era um bom homem, que fazia o possível para que as pessoas não perdessem a fé em deus e em dias melhores. Ricky veio a nós e sabendo que não tínhamos rumo, sugeriu um trabalho. Não eram incomuns os peregrinos que levavam ou traziam mensagens de outras comunidades, havendo até mesmo aqueles que faziam isso especialmente para a igreja, que eram chamados de cruzados.
O trabalho era simples... Levar uma missiva até Boston para um padre chamado Paul. Claro que havia os perigos, os condenados comedores de carne, os salteadores, os mercenários... E nenhuma certeza de prazos ou entregas. O padre estava disposto a pagar o combustível e os mantimentos... Não tínhamos um destino certo, então aceitamos fazer essa entrega em Boston. A viagem levaria menos de uma semana se nada desse errado. Também seria oportuno, pois não sabíamos o que havia ocorrido mais ao norte ou mesmo no resto do mundo... Era a oportunidade de saber até onde foram os estragos. Irei até o inferno para encontrar minha filha se for preciso.
O padre levaria algum tempo para preparar tudo. A ideia era viajar para Boston, entregar a carta e continuar em frente, sem retornar para Loretto. A busca seria feita por toda a América do norte e mais além depois. Se surgisse outros trabalhos de entrega, seriam ótimos para manter nossa sobrevivência. Em cada comunidade, eu perguntaria por minha filha... Esperança é uma mulher que chama a atenção e dificilmente passará despercebida... Isso contando que ela esteja perdida neste mundo material. Era tudo com o que podia contar no momento.
Cada um aproveitou suas ultimas horas em Loretto do seu jeito. Victor até onde sei, levou o precioso carro até uma oficina local para eventuais reparos. Aquele carro era uma raridade, algo precioso naqueles tempos e necessitava de cuidados constantes. Victor praticamente o montou sozinho. Soube que até mesmo fez amizade com um jovem mecânico local chamado Ferrugem.
Samuel eu mal vi aquele dia, mas soube que esteve frequentando a igreja e o depósito de Martin. Houve um momento único em que Samuel mostrou seu tesouro... Um violino. Só nós sabemos o que ele passou para mantê-lo intacto. Ele tocou na praça central e todos na comunidade pararam para assistir. Nestes momentos sempre me lembrava de meus tempos de coral da escola... E sempre que Samuel tocava me dava vontade de cantar. Fomos à atração da cidade naquela tarde, pois nos tempos de hoje, qualquer tipo de arte parecia ser rara e bem vinda. Depois houve uma situação engraçada, onde Samuel aparentemente não conseguiu consertar um lap top encontrado nas sucatas de Martin. Discutiram por algum tempo até que Samuel venceu “a guerra de palavras” com Martin. Foi impressão minha ou Samuel que estragou a maquina de vez? Nunca saberemos.
Quanto a mim, passei quase o tempo todo no hospital improvisado que ficava na igreja, ajudando o pessoal de lá. Não havia muito que fazer, então aproveitei para conseguir coisas para o rito que planejava fazer... Giz, papel, velas, caneta... Não poderia fazer na igreja ou nesta cidade... Não sei o que poderei acabar atraindo... Faria isso na próxima oportunidade, longe de lugares sagrados e populosos... Não vou querer outros pagando pela minha ousadia.
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