BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

sábado, 14 de julho de 2007

01/11/2005 II

O SHOPPING, PARTE II hora desconhecida




Samuel empunha sua rapier com a mão boa, o elevador sobe alguns instantes até que para e porta se abre. O que vê a sua frente é um corredor, parece de outro andar ainda dentro do shopping, Samuel espera alguns instantes dentro do elevador na esperança que ele desça novamente, mas vendo que isso não acontecerá ele sai, a escuridão é quebrada por algumas televisões ligadas em uma vitrine a alguns metros, nenhuma imagem a não ser o sinal de estática que emite o som desagradável de chiado. Samuel caminha até as televisões, sua, em meio aos tons cinza na tela da televisão um rosto conhecido se forma por alguns instantes seguido pela voz muito baixa que diz:
- Socorro!
Ao escutar a voz de Gabriela suas forças se esvaem e seu espírito grita dentro de seu corpo implorando o fim do sofrimento de Gabriela. Alguns instantes depois, com o fôlego retomado, ele observa sua volta. Há escadas rolantes desligadas a da esquerda leva ao andar inferior, a da direita ao andar superior. Em passos lentos Samuel vai até a escada que desce, ele põe sua espada na bainha presa a perna e pega sua lanterna. A luz a sua frente ilumina as escadas sujas, alguns metros antes de chegar no pavimento inferior Samuel vê uma cama de hospital bloqueando a escada, um lençol ensangüentado cobre o que repousa sobre ela. Ao chegar perto ele empurra com o pé a cama para desbloquear o caminho, a maca se move alguns centímetros, Samuel retira o lençol da maca. O corpo é de um homem branco, está nu, sua pele está tão retorcida que seria impossível imaginar como era essa pessoa em vida. Samuel suspira e evita olhar novamente para o corpo. Ele caminha desnorteado, seguindo pelo shopping.
Em outro lugar Joseph segue sua caminhada procurando por uma saída, enquanto passa pelos corredores algo no chão chama atenção de Liana, ela pára sua cadeira e se esforça para pegar do chão um livro. É um conto infantil ilustrado, nele é contada a história de um reino que fora atacado por um mal horrível, o Rei sem saber o que fazer chamou o melhor guerreiro do reino e pediu para que derrotasse o mal. O guerreiro foi enfrentar o mal, mas nunca mais voltou. O conto termina, pois estão faltando páginas no livro. Liana tem certeza que conhece esse conto, mas não lembra de onde.Ela guarda o livro e acelera sua cadeira até alcançar Joseph que está parado olhando para uma vitrine. Ela se aproxima e olha um estranho símbolo desenhado em vermelho, talvez tenha sido feito com batom ou algo parecido. O símbolo é um círculo, nas bordas dele há alguns simbolos menores que ela nunca vira, alguns outros pequenos símbolos no centro e três esferas. Joseph olhando para o símbolo tem certeza que já o viu em algum lugar, mas não sabe onde. Ao se aproximar da vitrine, o som de passos lentos e pesados vem de um dos corredores, os olhares de Joseph e Liana se voltam para o local de onde vem o som até que surge em meio a pouca luz um homem grande, com calças e botas, sem camisa e um com um capuz totalmente fechado de carrasco na cabeça, o homem é muito forte e deve medir mais de dois metros, em seu punho direito ele segura uma longa lança de metal. Joseph empunha suas duas pistolas uma em cada mão e mira no homem, ele dá passos lentos na direção dos dois e Joseph começa a disparar! Joseph dispara seis vezes contra o homem, três o acertam no tórax, seu corpo absorve a inércia como se fosse um soco, dos buracos de bala um fino sangue se esvai, ele segue caminhando em suas direção quando Joseph grita:
- Foge Liana! Sai daqui!
Liana dá meia volta e acelera sua cadeira o máximo que pode. O homem que antes caminhara começa a correr, seu corpo pesado corre, ele parece querer Liana. Joseph dispara mais três vezes com cada arma, mas erra todos os tiros, o homem parece ignorar Joseph e passa ao seu lado, a queima-roupa Joseph dispara contra suas pernas, alguns passos depois o ser cai de joelhos no chão, Joseph puxa o gatilho incansavelmente, os disparos acertam em cheio o tórax do homem até que ele cai de costas sem nenhum traço de vida. Joseph caminha até o corpo depois de chutar a lança para longe e retira seu capuz. O homem é careca, sua boca e seus olhos estão fechados e costurados, a visão é perturbadora. Ele levanta e corre na direção em que Liana foi. Alguns metros a caminhando e vê Liana em frente a um elevador aberto. Os botões vão de um a quatro. Joseph pressiona o botão 4 do elevador que se fecha, alguns segundos de subida e quando o elevador se abre, eles se encontram em um mezanino do shopping. No centro um enorme buraco que parece não ter fim, do outro lado do mezanino uma escada vertical parece levar até o fundo do buraco. Liana e Joseph preferem não arriscar, voltam ao elevador e descem até o segundo andar. A porta se abre, a luz que vem da porta do elevador aberta ilumina um lugar que parece ser um depósito de bonecos manequins. Liana e Joseph saem vagarosamente do lugar, ao andar em meio aos bonecos repentinamente a cadeira de Liana pára, ela olha para o chão, o pé de um dos bonecos está trancado na roda da cadeira, Liana empurra o boneco com seu braço direto e um dos braços do manequim segura sua mão enquanto uma outra mão tapa sua boca! Liana força suas duas mãos tentando destapar sua boca, o mínimo que ela consegue grita:
- Joseph! Me ajuda!
Joseph se vira e vê dois manequins segurando Liana, Joseph corre e salta em cima de um dos bonecos no mata-leão, logo muitas mãos seguram as pernas e braços de Joseph, ele começa a se debater, mas quanto mais ele se move pior fica! Joseph cai no chão e decide não fazer nenhum movimento. Parece que funcionou! Os bonecos pararam de se mexer, ele grita para Liana:
- Fique imóvel!
Liana desiste de livrar-se dos manequins e fica parada, o único movimento que ela faz é de sua respiração ofegante, os bonecos a soltam, a porta do elevador atrás dela se fecha e a única fonte de luz é extinguida. O barulho do elevador funcionando e a escuridão absoluta só pioram as coisas, Liana e Joseph ficam imóveis e mudos. Liana ouve o som do elevador, ele está voltando, a porta se abre a luz ilumina novamente e uma sombra em frente à porta, Liana não pode se virar para ver quem é, passos vão em sua direção até que escuta a voz:
- Liana?
A voz de Samuel tranqüiliza, mas por pouco tempo, Liana retruca:
- Não se mexa!
Samuel:
- Por quê?
Liana:
- Esses bonecos vão te atacar se você se mover.
Liana olha em frente e vê Dyana saindo do meio dos manequins, ela caminha em passos lentos, olha para o chão em direção a Joseph e para em frente a Samuel e Liana e pergunta:
- Vocês sabem quem são eles?
Todos ficam calados e imóveis...
Dyana:
- São todos aqueles que foram calados e silenciados em suas buscas pelas respostas.
Samuel:
- Porque eles nos atacam?
Dyana:
- Eles querem saber o que vocês sabem
Samuel:
- Não vale a pena saber o que sabemos.
Dyana caminha até Samuel e diz:
- Me dê a sua mão.
Samuel estende sua mão esquerda a Dyana, ela pega e aperta. Samuel sente um calor consumir seu corpo e em um piscar de olhos ele está em um quarto, a sua frente um berço, o sol lá fora ilumina pela janela um dia de primavera que ele sabe que nunca irá aproveitar novamente. Ele caminha até o berço, dentro um bebê negro, ele sabe que é ele mesmo, a porta do lugar se abre. Samuel dá um passo para trás, é seu pai que caminha até o berço. Seria uma visão do passado? Pensa Samuel, seu pai parece não notar sua presença, ele olha para dentro do berço com uma expressão de desânimo, como se soubesse de alguma coisa ruim, pela mesma porta surge Gabriela, Samuel fica confuso, “como pode ser Gabriela, não pode ser uma visão do passado, o que Gabriela está fazendo aqui?”. A expressão de Gabriela é séria, com as mãos postadas para trás ela olha a criança dentro do berço. Mais uma vez a porta se abre, sua mãe. Ela caminha direto para o beco e observa a criança com a mesma expressão que seu pai. O pai de Samuel pega a criança do berço e com as duas mãos a segura para o alto, alguns instantes e ele a coloca dentro do berço novamente. E quando Samuel menos espera todos estão com uma faca em punho, eles começam a apunhalar a criança dentro do berço! Samuel de longe só consegue ver o sangue que se espalha pelos braços e rostos daquelas pessoas que ele tanto amou em seu passado. Uma tristeza invade sua alma, a tristeza é tamanha que sua sensação é de que a qualquer momento seu coração vai parar de bater. Samuel ergue a cabeça, Dyana está na sua frente no mesmo lugar que estava antes, ele se move com alguns passos para trás.
Joseph no chão se arrasta lentamente até sair de onde os manequins o seguraram no chão, ele sai, caminha até Dyana e pergunta:
- Esse é o seu jardim do Éden? Esse circo dos horrores?
Dyana:
- Esse não é o meu ideal, não sou eu quem faz isso, são vocês!
Joseph:
- Claro que somos nós...
Responde ele ironicamente.
Dyana:
- Vocês não entendem?
Joseph:
- Não! Explique como se explicasse para uma criança!
Samuel:
- Isso tudo não tem sentido.
Dyana:
- Vocês passaram por muitas coisas na vida de vocês, sofreram muito. E aqui está o resultado do sofrimento de vocês. Mas as coisas vão melhorar, vocês sabem disso. E eu, eu sou a mãe de todos vocês.
Samuel:
- O que nós somos?
Dyana:
- Vocês são Flauros.
Samuel:
- Isso é ridículo.
Dyana:
- O espírito de Flauros não nasceu nesse mundo ainda, ele foi divido em quatro partes e três estão em vocês, cada um com uma parte. E logo vocês irão encontrar a quarta parte.
Samuel:
- Sinto muito, mas se depender de mim esse ser não vai nascer.
Dyana:
- Não depende de você.
Joseph:
- Se eu meter uma bala na minha cabeça?
Dyana:
- É uma escolha...
Joseph:
- Ele não vai nascer não é mesmo?!
Dyana:
- Talvez não, mas a morte não é o fim de tudo, é?!
Samuel:
- O que Deus acha de tudo isso?
Dyana:
- Que Deus?
Samuel:
- O criador, a Idéia.
Dyana:
- Tem coisas que vocês ainda não estão preparados para saber, vão entender quando for a hora certa.
Samuel:
- Quero sair daqui.
Dyana:
- Sinto muito, mas vocês criaram isso, não podem sair. Talvez depois que enfrentarem seus próprios medos.
Dyana caminha em direção ao elevador, com sua expressão séria passa ao lado deles como se tivesse acabado uma tarefa, ela entra o elevador que se fecha e sobe. Logo todos os manequins se desmancham em partes, cabeça, tronco, pernas e braços caem todos ao mesmo tempo. Joseph olha para sua pistola fixamente, suas idéias agora podem ser executadas, mas não terá volta.
Samuel, Joseph e Liana voltam ao elevador, ao pressionar o botão dois o elevador viaja e quando a porta se abre o lugar parece menos desagradável, ao longe se vê as portas de entrada do shopping todos, se sentem aliviados por verem isso. Enquanto caminham em direção à saída Samuel pergunta se não é melhor ir até a clinica onde o papel da mesa do Kevin indicava. Todos ainda estão muito abalados, mas concordam em fazer tudo de uma vez ao invés de ter que voltar a esse lugar. Pelo mapa que Samuel tem a caminhada será de uns trinta minutos. Ao sair do shopping a estranha escuridão dá a sensação de que não passou nem um minuto desde que entraram neste maldito lugar, a neblina densa nas ruas dá uma visibilidade curta e assustadora. Samuel segue em frente com Liana ao seu lado Joseph fecha sua jaqueta e em seus pensamentos a idéia de tirar sua própria vida é tão tentadora que é quase irresistível. Seus pensamentos são interrompidos com um vulto ao seu lado, seu pescoço vira e seus olhos encontram Dyana caminhando ao seu lado. Joseph não se espanta a permanece olhando fixamente para frente. E ela diz:
- Está confuso, mas quer realmente fazer isso? Talvez não seja uma boa idéia.
Joseph olha Liana e Samuel que caminha a frente por um instante e responde:
- Talvez não seja uma boa idéia mesmo... E a quarta parte?
Dyana:
- Quando for a hora certa. Talvez não estejam procurando no lugar certo. Há uma sombra de dentro de vocês.
Joseph:
- Que sombra?
Dyana:
- Uma réplica idêntica de vocês mesmos, com os mesmos anseios, desejos e vontades de vocês, mas com as virtudes inversas.
Joseph:
- Nós mesmos...
Joseph lembra-se de acontecimentos há muitos anos antes que parecem agora fazer sentido, mas mesmo assim diz:
- Não posso imaginar me encontrar fora de mim.
Dyana:
- Isso aqui é um reflexo real mas inverso ao mesmo tempo, assim como sua sombra.
Joseph:
- Como acabo com isso tudo?
Dyana:
- Você quer mesmo acabar com isso tudo?
Joseph:
- Eu só quero a paz pra eles. É isso que eu quero, não me importo comigo. Estouraria meus miolos por eles.
Dyana:
- Isso não vai trazer a felicidade deles. Foram vocês mesmos que começaram a criar o paraíso.
Da mesma maneira que Dyana surgiu ela desapareceu, Joseph mesmo sabendo disso continua a perguntar quais as razões para isso estar acontecendo. Logo ele se cala e continua a caminhar seguindo Samuel e Liana.
Alguns minutos mais e o grupo chega a uma construção média de dois andares, em cima de uma porta dupla o letreiro diz: “Clinica de Saúde de Boxford”. Suas duas portas duplas, felizmente não estão trancadas, Samuel toma a dianteira e entra. O lugar está revirado, afinal para um lugar que sofreu uma epidemia fulminante até que o lugar está em ordem. Samuel diz:
- Vamos começar a procurar nos arquivos, lá deve haver algum registro do nascimento da criança.
A clinica parece estar sem luz, Liana liga a lanterna e aponta para uma parede com um pequeno mapa do lugar e diz:
- Os arquivos e a administração ficam naquele corredor. Vamos pra lá.
Joseph permanece calado e pensativo enquanto Samuel e Liana caminham até uma sala repleta de arquivos de aço.
Joseph olha um interruptor ao seu lado dentro da sala e o liga, as luzes se ascendem. Samuel imediatamente liga os dois computadores que estão lado a lado em cima de uma mesa enquanto Liana procura nos arquivos. Joseph senta-se em uma cadeira dentro da sala e alguns minutos depois Samuel diz:
- Encontrei! Michelle Sullivan, foi à única mulher que deu a luz no dia dez de outubro aqui na clinica.
Samuel anota o endereço e todos os dados relevantes de Michelle. Enquanto Liana e Samuel olham atentamente a ficha da moça Joseph diz:
- Aquela mulher falou comigo de novo. Ela falou que cada um tem uma sombra, que se desprendeu de nós, acho que isso tem haver com o que está acontecendo.
Samuel guarda suas anotações e diz:
- Temos que fazer alguma coisa, até quando vamos viver essa maldição? Muitos já tentaram nos explicar, o que é a verdade afinal? São tantas as verdades.
Joseph:
- Dessa vez faz sentido, as peças se encaixam.
Samuel:
- Se o que ela falou é verdade o que vamos fazer?
Joseph:
- Pensei em... em matar a pessoa que tiver a quarta parte.
Samuel:
- Mas e se essa pessoa não merecer morrer? Se ela está lutando da mesma maneira que nós para sair disso.
Joseph pensa por alguns instantes e pergunta:
- Conseguiu alguma coisa da criança?
Samuel:
- Sim, o endereço e a ficha dela.
Joseph:
- Vamos para lá então.
Samuel:
- Estou com medo que a criança seja a quarta parte.
Joseph:
- E se for?
O medo e a culpa silenciam a boca dos três, até Joseph dizer:
- Vamos então. Pra que lado fica?
Samuel se levanta, ele desdobra o mapa da cidade que tinha posto no bolso enquanto caminha até a saída da clínica. A neblina que toma conta das ruas timidamente intimida o grupo. Pouco mais de 30 minutos caminhando e estão em frente a casa. Ela é muito parecida com a casa de Bob e com a maioria das casas de Boxford, a fachada da casa é reta e linear com o começo da calçada. Nenhuma luz dentro da casa, Joseph empurra a porta, ela está aberta. Ao ascender a luz enxergam móveis antigos, provavelmente a família é ou era humilde, algumas fotos em cima de um balcão na sala, uma jovem branca de cabelos negros esboça um tímido sorriso ao lado de um homem forte de pele bronzeada, ela por volta dos 25 anos ele deveria contar uns 30.
O grupo começa a investigar a casa em busca de alguma coisa anormal. Enquanto Samuel procura nas gavetas e Joseph nos armários e portas Liana vai até o quarto e encontra em uma escrivaninha uma pequena agenda, nela a data 16 de outubro está escrito: batizado de Ethan. Liana arranca a página da agenda, vai até Samuel e Joseph contar-lhes o que encontrou:
- Encontrei isso, está circulado no mínimo 20 vezes, esse batizado parece mesmo importante.
Joseph:
- Vamos até a Igreja dar uma olhada.
Samuel:
-Só há uma igreja aqui mesmo, o batizado só pode ter acontecido lá.
O grupo sai da casa, e caminha em direção a igreja, a fadiga física e mental já atingiu o limite dos três, Joseph e Samuel fazem um grande esforço para se manter em pé e todos ignoram a fome que é muita agora.

O SIMBOLO QUE JOSEPH SABE JÁ TER VISTO


O HOMEM QUE JOPSEH DERRUBOU NO SHOPPING


A SALA REPLETA DE MANEQUINS

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