BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

MEMÓRIAS PERDIDAS... AS CONSEQUENCIAS DE NOSSAS ESCOLHAS.

MEMÓRIAS PERDIDAS... AS CONSEQUENCIAS DE NOSSAS ESCOLHAS.

Ficamos muito tempo contemplando a cidade da janela naquele quarto. Eu ainda digeria tudo o que havia acontecido. A batalha entre anjos, o terraço, Jeremy e sua escolha de entrar no espelho Inferno... Não havia arrependimentos das escolhas que fiz, mas não poderia deixar de pensar que poderia ter sido diferente. Logo acabo dissipando estas idéias da mente e lembro que não somos apenas nós três. Era hora de voltar para aqueles que esperavam ansiosamente nosso retorno. Ao sair do quarto e nos encaminharmos para a saída, sentia que a antiga Laura se desvanecia aos poucos... A menina que saiu da Europa e esperava uma vida diferente tinha visto e ouvido muita coisa. Samuel tinha razão afinal... Nunca mais seria possível recuperar nossas vidas ou nossos antigos conceitos que caíam por terra a cada passo para fora do prédio. Não temia mais o futuro ou o que nos esperava. Meu corpo é jovem, mas minha alma envelheceu... Não sei se fui clara, mas é como se tivesse me tornando uma mulher de trinta anos em um corpo de dezenove. Ao chegar à rua, o olhar que contemplava a nova realidade já não era o mesmo lá de cima. Meus sentidos pareciam absorver com mais intensidade cada momento, como se fosse o ultimo. Agora eu via a fé de uma forma diferente, pois acreditava que não estávamos sozinhos. Havia uma força oposta a Flauros e pude sentir um pouco dela naquele terraço. Nem tudo estava perdido, mas a batalha seria longa e difícil. As pessoas se lembrarão através de nós que a vida continua e que devemos nos unir em prol da humanidade que restou e acreditar em um futuro melhor... Recomeçar das cinzas e renascer, como uma Fênix.



Retornamos ao prédio onde a rede estava e lá estavam eles. Nenhum olhar havia me emocionado como aquelas duas mulheres que pareciam não ter saído do lugar onde estavam esperando seus maridos ou parentes retornar de uma terceira guerra mundial. Eu já não sentia ódio ou ciúme de Gabriela, que abraçou Samuel como se nunca mais fosse solta-lo. Meus sentimentos por Samuel transcendiam os antigos desejos... Mais que um Irmão, meu anjo da guarda, meu cavaleiro andante. Tamara também se agarrou a Victor e chorou como a criança que era... A irmã mais nova que nunca tive. Foi a ultima vez que a vi chorar daquele jeito. Eu os invejo, pois apesar de tudo, eles tinham alguém que esperava por eles, que dependiam deles e não apenas uma razão para voltar. Como eu queria poder voltar para a Irlanda, para a fazenda, para perto de meus pais e ver o nascimento de meu filho nas terras que pertenciam à família por muitas gerações... Tudo parecia ainda mais distante agora e me perguntava se um dia eu poria os olhos no velho continente outra vez.

A rede prosperava na medida do possível. Sobreviventes chegavam, informações circulavam de que havia outros grupos de sobreviventes armando defesas, rumores sobre as criaturas noturnas e supostas descobertas de suas fraquezas, dentre outras notícias trazidas em pessoa ou pelo rádio. A humanidade começava a reerguer alguma civilização e até mesmo já havia algumas sociedades e feudos começavam a nascer. Não havia noticias de além mar ou de fora do país, mal chegando novidades de outros estados.

Eu praticamente não saia das imediações do prédio onde morávamos agora. Havia sempre alguém comigo. Alguém da rede, ou uma das mulheres que escaparam do exército. Eu não me importava que Samuel e Victor saíssem sem mim várias vezes depois para caçar informações ou os sumiços de Gabriela e Samuel para um momento ou dois de intimidade. Foi um período de reclusão necessária, mas não fiquei parada. Eu devorava livros durante horas a fio... Qualquer assunto estava valendo... Arte, auto-ajuda, faça você mesmo, ficção, tudo. Quando não estava lendo estava esticando as pernas em algum lugar próximo ou conversando com o que eu chamava carinhosamente de “Grupo dos anjos da guarda”. Muitos foram às reuniões de Samuel, Victor, Tamara, Gabriela e eu para discutir e tomar decisões que afetariam o nosso futuro.

Quanto a mim, resta esperar o dia em que nasceria o meu bebê. Talvez o primeiro nascimento depois do fim do mundo, algo que tinha um valor simbólico para aqueles que resistiam, ainda mais pelo nascimento desta vida que estava carregada de dogmas e expectativas mesmo antes de nascer. Conto as horas, tremo de ansiedade... A contagem regressiva estava chegando ao fim e a espera iria terminar em breve.

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