BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

DIA 24 DE MAIO DE 2006



DIA 24 DE MAIO DE 2006



Antes de continuar, quero relatar que a questão do tradutor foi o que chamo de erro necessário. Era óbvio que não poderíamos andar com um estranho por muito tempo, pois nós mexemos com coisas que nenhum mortal deveria ver. Sem mencionar que já não consigo interagir com uma pessoa sem temer que ela me reconheça ou aconteça algo bizarro. Não fosse a quantia generosa que oferecemos, ele não aceitaria ter ficado como nosso guia, pois tinha medo de nós. Sentia-me como se não pudéssemos mais fazer parte do mundo e estava destinada a solidão... Junto com outros parias. Apenas os amaldiçoados podem se entender afinal.



Questionamentos a parte, a Ucrânia é um país muito bonito. A capital em especial possui uma arquitetura diferenciada em muitos dos seus prédios, remetem a tempos antigos. Absorvi cada minuto daquele passeio turístico. Existia uma forma legal de visitar Chernobyl... Uma excursão guiada pelos arredores da cidade que partia de Kiev. Era necessário pedir uma permissão especial e nós o fizemos. As identidades falsas pareciam funcionar bem e tudo corria de acordo com o figurino. Às dez horas da manhã do dia seguinte, iríamos para a cidade, enganaríamos o guia e visitaríamos Chernobyl a luz do sol e com segurança. Instalamo-nos num hotel muito bom e finalmente tive algum tempo para aproveitar uma hidromassagem... Não muito, pois nós mudamos de hotel temendo que nosso tradutor talvez falasse mais do que devia depois que o dispensamos.



Estava uma noite fria e bastava um vento gelado para começar a tremer... Depois do ocorrido no dia 15 de março, o que eu menos desejava era sentir frio. Até mesmo pedi um chocolate quente no quarto, que junto com um monte de cobertores estavam fazendo minha noite feliz... Eu devia saber que não podia durar muito, pois felicidade é uma dádiva que parece não pertencer mais a nós. Quando bateram a nossa porta, eu estava quase dormindo... Nem isso pode fazer em paz? Pude ouvir vozes masculinas e quando senti a tensão nas vozes, me levantei rapidamente com o revolver em punho... Eram homens em sobretudos pretos que afirmavam ser agentes em nome do governo russo. Por que eles parecem todos iguais e só muda o país? Eles sabiam sobre nós e queria saber o que iríamos fazer no país Nós dissemos que estávamos de passagem, eles dizendo que estavam apenas observando... Havia uma tensão desagradável de uma negociação difícil, mesmo que não houvesse ações hostis imediatas. Aquela trégua não ia durar muito...



Quando percebi, estavam todos brigando no braço! Nenhum dos lados queria mortes, apenas subjugar. Sobrou até para mim, pois me vi obrigada a intervir na briga quando ela não nos favorecia. Com um tanto de sorte e alguns golpes bem encaixados, conseguimos ganhar deles. Logo teríamos um problema, pois aqueles homens eram apenas os mensageiros. Provavelmente estávamos cercados e sem saber por quantos. Não tivemos muito tempo para pensar no que fazer, antes do mundo vir abaixo... Geralmente é um erro dar uma arma a quem não sabe atirar e esse erro foi cometido com Victor. Ele foi incumbido de vigiar um dos agentes com uma pistola e evitar que ele se mexesse. Um mendigo contra um homem treinado para matar não é muito justo. Lógico que na primeira oportunidade, o agente tentou uma reação e num ato reflexo Victor atirou... E matou o agente.



Depois disso, nada mais importava para aqueles homens... Um agente havia sido morto e o outro acabava de ser baleado ao tentar esboçar reação. A única coisa em que pensava era que haviam estragado tudo outra vez. Estávamos agora na lista negra de outra agência governamental, a KGB. Mais dois homens estavam no corredor e o tiroteio foi inevitável. Ainda tentei ajudar aquele desgraçado que foi baleado no ombro e ele me arma uma armadilha. O tiro não passou do colete. No final das contas, ele tornou-se o nosso refém, sob a mira do meu revolver.



Jamais ganharíamos aquela guerra que se formou dentro do hotel, então uma fuga seria necessária. Alguns tiros de Samuel e Joseph para nos dar tempo de recolher tudo e a retirada. Pela saída principal comprovou-se que não seria possível da pior maneira, mas foi bom como distração.




Usamos o elevador de serviço que estava vazio e direto para a garagem. Samuel havia levado um tiro no ombro e respirei fundo para não me concentrar no sangue que escapava pela ferida... O mais angustiante era que provavelmente eu teria que cuidar daquilo, pois sou a única com algum conhecimento médico. Ironias a parte, Victor pegou na direção e disparou pelo estacionamento em direção a saída. Era claro que a CIA previa isso, mas não previa as manobras evasivas de Victor... Na verdade, nem nós mesmos. Se for um momento de inspiração divina ou sorte não importa, vieram em boa hora. Dirigindo o nosso carro a toda pelas ruas de Kiev, a KGB logo veio atrás. Novamente começava o tiroteio e vendo que não poderia ajudar Samuel ainda, tentava atirar nos carros do governo sem muita efetividade... Ao contrário de Joseph que nos primeiros tiros, acertava em cheio a cabeça do motorista. Sem dúvida a experiência de vida faz toda a diferença, pois o homem estava nessa vida a muito mais tempo que a maioria de nós. Será que vocês vão entender um sentimento contraditório? Ao mesmo tempo em que quero chegar a viver tanto tempo quanto Joseph e Samuel eu também não quero chegar ao ponto aonde eles chegaram... Bom, como conseguir explicar melhor? Pode ser resumido assim: Eu quero viver e não sobreviver!



Depois de escapar deles temporariamente, pegamos a estrada para Chernobyl. Paramos a meio caminho da cidade, pois Samuel precisava ser tratado. Era necessário tirar a bala alojada e isso levaria algum tempo... Tempo que os outros não queriam me dar. Deixando claro que não poderia fazer nada sob pressão, fiz Samuel deitar no banco traseiro e comecei a trabalhar.




O procedimento em geral era simples, mas não para mim... Suava frio e fazia um esforço muito grande para não tremer diante do sangue encostando-se a minhas mãos enluvadas duplamente... Sem mencionar que não sou médica. Neste ínterim, os outros interrogavam o refém que trazíamos. Não vou comentar as técnicas de persuasão, basta saber que o homem acabou com um tiro na perna. O objetivo real daqueles homens da KGB era nos capturar e usar como moeda de troca com a CIA. Quem diria que no final das contas, o tiro instintivo de Victor apenas adiantou o inevitável. Eu não via razão para manter o homem conosco, entretanto Joseph e Samuel cismaram em levá-lo. Era burrice, mas adiantava argumentar com a dupla de cabeças duras? Não! O tal Joseph estava intervindo nas decisões de Samuel e ambos estavam cometendo erros que jamais iriam admitir. Foi a segunda vez que meus instintos me alertaram em relação a Joseph. E os erros que ele junto com Samuel poderiam fazer, me assustavam... Eram erros que não poderiam ser cometidos no lugar onde estávamos indo.



Mais tarde chegávamos ao posto avançado que guardava a entrada de Chernobyl. Mais uma vez eu amaldiçoava o destino por conspirar contra nossos planos. Poderíamos estar tranquilamente visitando a cidade com o sol da manha, tendo que engambelar apenas um guia. Agora tínhamos dois soldados no mínimo para enganar e teríamos que enfrentar a escuridão novamente. Nenhum argumento foi bom o bastante para convencê-los. Mais uma vez o dinheiro falou e a ganância ouviu. Subornou os soldados que não parecia mais tão fiéis a pátria e nem tão preocupados em deixar um bando de malucos entrarem na cidade contaminada pela radiação. Ele fez questão que estávamos por nossa conta e risco e que se quisessem sair sem problemas, que voltássemos antes do amanhecer. Nós teríamos mais ou menos seis ou sete horas para chegar a cidade, procurar o espelho e sair. Parece fácil falando não é? Mas conosco nunca é tão simples... Nem com esses malditos espelhos.



Chernobyl, a cidade amaldiçoada pela radiação criada pelo próprio homem, estava diante de nós... E lá teremos que encontrar o INFERNO e voltar...



Que o destino nos seja favorável.

Chernobyl

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