BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

DIA 25 DE MAIO DE 2006

DIA 25 DE MAIO DE 2006




Logo o entreposto já não podia ser visto na escuridão profunda que parecia nos cercar. Os faróis do carro pareciam ser a única fonte de luz em quilômetros. Enquanto percorríamos a pista esburacada, cogitava aos demais as possibilidades de encontrar o espelho rapidamente. Parecia que a esperança de fazer isso não existia para eles. O espelho nunca estava nos locais óbvios e a minha esperança é que ela não estivesse na famigerada Usina nuclear. Lendo o mapa adquirido em Kiev pensava que poderia ter alguma idéia de onde começar a procurar quando subitamente o carro freia. Parece que alguém passou pela frente do carro e sumiu tão rápido quanto apareceu. Um mau sinal? Talvez, se considerar que estávamos em um distrito onde não deveria haver viva alma, mas não tiremos conclusões precipitadas certo?



Havia a preocupação de deixar dois espelhos juntos, pois se apenas um causava toda aquela destruição imagina dois. Olhava para ele de tempos em tempos para ver se reagia ao entrar na realidade “A”. Demorei em perceber a linha de ferrugem que se formou onde o espelho encostava-se ao carro. Aquilo sim era um mau sinal. Já estávamos no que parecia ser a rua principal da cidade e a escuridão só acentuava a desolação vista através das luzes dos faróis e agora também das lanternas. Chovia durante todo o trajeto e neste momento a chuva aumentava, aumentando nossos receios em seguir adiante. Logo o destino decidiu que não facilitaria nossa busca e o carro acaba por nos deixar na mão. O Motor estava totalmente enferrujado e inutilizado.



Saímos do carro e nos protegemos em um dos muitos prédios abandonados. Com a exceção do pobre coitado que trouxemos como refém, levamos tudo o que tínhamos inclusive o espelho.



Se perguntarem onde estava a minha humanidade por abandoná-lo, a resposta é: Ele não queria saber os nossos segredos? Logo ele iria descobrir. Entramos em um prédio diretamente em uma sala ampla que poderia ter sido um saguão antes da destruição. Havia de tudo espalhado pelos cantos. Brinquedos, roupas, utensílios e outras coisas velhas e quebradas. Algum de nós explorava o local e eu tentava traçar um plano. Peter que agora era o nosso especialista na parte cientifica, explicava sobre os efeitos da radiação na realidade “A”. A ironia é que bem no momento em que dizia que os efeitos poderiam ser mais fortes e conseqüentemente mais chances de nos contaminarmos, A sirene de emergência soou alta e clara por toda cidade. Peter constatou antes que o relógio parou as 02h36min e acabei por ligar os pontos... Finalmente a realidade “A” nos envolvia, mas o pior era lembrar que a usina iria sofrer o acidente no dia fatídico, exatamente as 02h38min.



Foi ainda mais terrível quando Peter verificou o relógio e viu que o tempo continuou a correr...



CHERNOBYL, REALIDADE “A”



Foram dois minutos muito longos... Eu não queria acreditar que acabaria tudo assim, sendo pulverizada por uma bomba nuclear. Não havia lugar onde se esconder. Esta seria outra provação, como teve em Bondie e Ouradur... A Pior de todas talvez. Não me restou alternativa além de me jogar ao chão atrás de uma parede e fechar os meus olhos.


E então a usina explode com um grande clarão que mesmo meus olhos cerrados puderam perceber e logo o impacto chega a nós destruindo tudo o que esta na frente. Encolhi-me o Maximo que podia, esperando virar cinza a qualquer momento. Momentos depois eu percebo que ainda estava inteira e me arrisquei a abrir os olhos e tirar as mãos dos ouvidos. Todos pareciam bem, menos Peter que não tivera tanta sorte... Ele estava cego.


Joseph e Samuel tentam acalmavam acalmá-lo enquanto eu olhei o lado de fora. O Cogumelo de fumaça pairava sobre a usina e a chuva agora tinha uma coloração preta. O espetáculo macabro absorveu minha atenção por um bom tempo até perceber Victor sair correndo para a rua, indiferente a chuva poluída e o circulo branco que pairava acima de nós.


Corri atrás dele para fazê-lo voltar e então vi na direção do que ele estava correndo. Era uma mulher que parecia estar completamente fora de contexto. Vestia o que parecia ser uma pele de animal apenas e estava notoriamente grávida, provavelmente no final da gestação. Em meu intimo eu já adivinhava quem era, embora só confirmasse quando Victor a abraçou e praticamente gritou o seu nome... Era Liana! Como ela chegou lá, eu não sei. É difícil explicar o que senti no momento... Sei que retornei ao prédio de antes e me mantive afastada enquanto eles se abraçavam. O grupo estava completo, então porque eu me sentia deslocada? Senti-me ainda pior depois da apresentação mal feita de Peter. Liana não queria chegar perto de mim e não a culpo. Foi um mau começo que precisarei reverter depois.


Foi apenas um momento de distração e a realidade nos lembrou onde estávamos. Uma criatura que um dia foi humano e agora era uma massa disforme, saiu de um bueiro e agarrou Samuel que no susto acabou por cair no chão. Com um chute, consegui fazê-lo soltar e Samuel terminou o trabalho com a espada. Retornamos ao prédio e vendo que Liana estava com trajes inadequados, entreguei as roupas dela que ainda estavam comigo. Feito isso, adentramos mais no prédio para descobrir o que seria o lugar. Em uma parte do corredor, apareceram muitas cadeiras de rodas e as janelas estavam gradeadas. Talvez um hospital ou sanatório, mas isso era o de menos. Foi impressão minha ou Liana estava perturbada ao ver as cadeiras de rodas?


Mais adiante outra surpresa... Ezequiel, o gato de Peter apareceu novamente. Como da outra vez, ele nos guiaria até uma pista ou situação. Foi necessário correr um pouco, pois o felino parecia apressado em nos mostrar alguma coisa.


Retiramo-nos do local que de fato era um hospital e seguimos o gato até uma área aberta, talvez uma praça. Vários metros adiante teriam uma nova provação. Na verdade, uma provação há muito tempo adiada. Em uma arvore quase tombada, estava um carro que parecia ter se chocado ali e estava bem destruído. Lembram-se do acidente, o dia inexplicável? Então lembram quando achamos o carro e havia corpos dentro? Aquele dia voltava para nos assombrar.



Samuel estava apavorado e se recusou a chegar perto. Peter cego nada podia fazer. Eu estava chocada demais para me mover, então Joseph e Liana foram até lá. Depois de algum tempo reunindo toda a minha coragem, fui até o carro. Eu precisava saber. Tremia e podia sentir meu coração bater depressa. Não sei como não desmaiei ao ver que havia quatro corpos ali... Os nossos corpos... O meu corpo. Eu não conseguia acreditar, na verdade não aceitava. Eu estava viva! Sentia a chuva pútrida em minha pele, minha respiração, meu coração... Aquilo não podia ser real, mas o acidente foi e nada podia explicar aquele dia. Percebi que havia um diário no corpo de Peter e lá estava Ezequiel para nos mostrar. Era o diário da mãe de Peter. Eu estava envolvida demais com o carro e os mortos. O que me chamou a atenção era que todos estavam feridos mortalmente. A Laura do carro não parecia estar ferida, ou eu não via nenhum ferimento. Tremendo da cabeça aos pés, fui até meu corpo. Foi muito estranho, pois era a antiga Laura ali... Ruiva, as roupas de Liana. Delicadamente ergui a cabeça e não tive a chance de verificar nada antes de ela abrir os olhos e me dizer:



Você vai morrer sua puta!



Tão rápido quanto ressuscitou, a antiga Laura volta a morrer. Com o susto caí de costas, mal conseguindo respirar. Joseph me levanta e tenta me tirar dali. Logo eu puxei meu braço dele e corri até Samuel, mas não consegui dizer nada... Apenas o abracei e chorei... Nada precisava ser disso. Há males que vem para o bem e depois de descarregar o peso de minhas frustrações, tentei entender o que realmente aconteceu ali... O que podia significar aquilo? Mais tarde eu contarei isso para Samuel e os outros. Agora havia outros assuntos.



Surge a idéia de ver o que o espelho refletiria daquilo, entretanto Victor deixara o espelho no hospital na pressa de seguir o gato. Quando voltamos, adivinhem o que aconteceu? O Óbvio, pois o espelho não estava mais lá. Erros e irritações a parte, eu não tinha certeza se queria ver o espelho Purgatório novamente. Acredito que estes espelhos tenham vida própria e se um deles nos seguiu antes, nada impede que eles sumam. Nisso concordo com Samuel... Se tiver que voltar, ele voltará. Nesta realidade “A”, tudo é possível. Por hora, Começamos a seguir um ruído em um dos becos que resultou numa porta entreaberta. Lá dentro mais ruídos de passos e de objeto grande e pesado sendo arrastado. Subimos uma escadaria e ouvimos outros ruídos, agora de passadas mais leves a esquerda e lá fomos nós. Entramos em uma das salas e vimos mais uma das criaturas estranhas que habitam a realidade “A”. Difícil descrevê-lo, entretanto imaginem um humano que anda encurvado e tem várias características de um rato... Um homem rato bizarro. Sorte nossa que ele parecia tão assustado quanto nós e fugiu. Não parecia ele o responsável pelo roubo do espelho, por isso voltamos para a escadaria e seguimos pelo outro lado. Aqui sim teria algo promissor...



Em uma sala encontramos uma mulher que estava em um estado deplorável... E olha que nós também estávamos Imundos, mas essa coitada que parecia ter sofrido muito. A Sala estava cheia de símbolos desenhados, muitas suásticas e algumas formavam o numero nove. O nome dela era Mary e a única coisa em comum que ela tinha era ser uma antiga amiga de Liana. A parir daí, a coisa fica complicada, mas farei o melhor possível para descrever as suas palavras, pois logo elas se tornariam seu testamento. Mary realmente conhece Liana e ambas eram boas amigas, até aí tudo igual. As diferenças começariam no tempo em que ela se situava. Ela achava que estávamos ainda na década de 80. A situação seguinte seria a afirmação dela de que Hitler ganhou a segunda guerra.



Estranho não? Tem mais... O tempo para ela parou em 1985 quando os nazistas venceram e estava ali desde então. Outro fato... Ela conhece Joseph por Russel e como um partidário nazista que substitui Hitler. Querem mais? Joseph teria perseguido Mary para matá-la... A razão? Ela sabia que Liana dormiu com Russel (Joseph), logo a criança era filho de Joseph com Liana. Coincidência? Seria Liana uma nazista também? Tudo isso parece sem sentido, entretanto não duvido mais de realidades paralelas. A pobre mulher só desejava se vir livre do tormento. Queria a morte, mas fomos cruéis... Queríamos saber mais. Descobrimos então um local: Quatro quarteirões a direita. Era lá que descobriríamos o que acontece aqui. Logo depois entregam uma arma para ela, pois ninguém teve coragem para uma execução. Eu não vi ela se matar, apenas ouvi o estouro que a mandaria para o outro lado, se tiver sorte.



O local indicado pela falecida Mary é um prédio grande e branco. Ao adentrar, percebe-se um prédio muito parecido com o anterior... Parecia ser outro hospital. Andávamos pelo corredor estéril, sem indicações ou placas procurando sabe-se lá o que. De súbito numa das passagens entre corredores, uma porta se fecha com um estrondo e através de um vidro sujo na porta podíamos nos ver. Era assustador... Fomos deliberadamente separados! De um lado, Liana, Joseph e Samuel... De outro Victor, Peter e eu. Enquanto pensávamos em como abrir a porta, o circo dos horrores começava do lado oposto onde eu estava. Criaturas bizarras, muitas delas, vestidos de médico com a roupa empapada em sangue se moviam rapidamente na direção deles. A reação foi rápida e tiros foram disparados, mas não tinham efeito algum sobre as criaturas. Do nosso lado, tentávamos abrir a porta para ajudá-los, mas as criaturas não pareciam interessadas em combater. Uma delas, com uma cara caída como se tivesse desmontado, gesticulava para que Samuel e Joseph se afastassem do caminho. Com muito receio, Eles cedem passagem, prontos para recomeçar a peleja. Logo ficou claro que era Liana que eles queriam. Uma das criaturas estendeu a mão para ela e como ela se recusou agarrou o braço e começou a puxá-la corredor adentro. Era curioso, pois as criaturas pareciam estar cercando Liana, afastando os dois homens que vinha seguindo logo atrás. Mais alguns tiros no trinco da porta e ela se abrem. Já estavam um pouco à frente e eu caminhava rápido para alcançá-los.



A única diferença neste corredor era uma janela que dava para uma sala escura. Havia um vidro que fechava ela, como aquelas salas de maternidade onde ficavam os bebês.



Começava a temer pelo que aconteceria a seguir e eu odeio estar certa nestas horas. Em um rápido movimento, as criaturas adentram em uma porta lateral que é fechada de imediato, sem dar chance aos dois homens próximos.



Esta cena parece familiar? Para os que não lembram, parecia uma reprise da cena vista através do grande vidro no sanatório em Billings, ocorrido no dia nove de Fevereiro. Aquelas coisas estavam para realizar o parto em Liana... Quando a luz se acendeu, Liana lutava contra as criaturas que tentavam abrir suas pernas e imobilizá-la. Parecia que nada podia ser feito, que o inevitável aconteceria. Os quatro companheiros de Liana lutavam desesperadamente, investindo conta a porta e o grande vidro. O que eu estava fazendo? Nada... Sentia-me impotente, ao mesmo tempo em que estava curiosa para saber o que iria ocorrer. Era como reviver um pesadelo e por um momento, eu vi a mim ali... E se fosse eu a próxima? Jamais me perdoaria como ser humano se permitisse que O destino fosse tão cruel com ela, mesmo estando destinada a ser sua rival naquele jogo doentio. Quando todos começaram a se organizar e a investir no vidro em conjunto eu me juntei a eles. Foram segundos que pareceram horas... Liana já estava nua e um bisturi enferrujado já ia de encontro a sua barriga, quando Victor urrando com toda a sua força, atinge o vidro e ele se estraçalha abrindo o caminho... As luzes apagam de súbito e nada mais pode ser visto.



O desespero atinge Samuel que começa a pronunciar palavras que nenhum de nós consegue entender. Estava possuído, era como se estivesse invocando algo ou amaldiçoando alguém. Os rapazes tentavam acalmá-lo quase a força quando ouvimos que alguém se aproximava. Quando o ser apareceu, podia sentir o suor frio descendo pela espinha... O homem sinistro estava se aproximando de nós. Dois metros e meio de altura, o capuz cobrindo o rosto e carregava uma grande lança em uma das mãos. Sua velocidade parecia a do pensamento, pois quando nos demos conta, estava dentro da sala de partos. Não podemos dizer que não tentamos lutar, mas admitamos... Este ser é uma entidade poderosa e faz o que quer. Balas não resolveriam. Ele agarrou Samuel pelos cabelos e começou a arrastá-lo para fora. Não restou muito a fazer... Samuel corta o próprio cabelo e corre pelo corredor. Nós começamos vagarosamente a nos dispersar. O importante era sair de perto do homem sinistro. Logo todos corriam pelo corredor nos afastando dele. Mas agora tínhamos um problema... Samuel.



Ele já havia corrido havia algum tempo, então não conseguíamos localizá-lo. Não se podia conceber este tamanho erro depois de uma vitória deveras amarga ao tirar Liana da sala de parto. Joseph encontrou um rastro e o seguimos. Encontramo-lo absorvido em algum tipo de ritual que mais parecia um sacrifício, pois seja qual fosse exigia mais sangue dele... Um sangue que ele não podia dispensar. E aquela língua... Não sou perita, mas eu não identificava aquela pronúncia estranha... Um pensamento rápido veio a minha mente...



Ele pensa que pode falar com os anjos...



Não lembro quem dos rapazes disse isso, mas estas palavras vieram, junto com toda uma conversa que tive com Samuel á tempos atrás em que mencionara que perdeu as suas asas. Logo tudo fazia sentido... Para alguém que realmente acreditasse naquilo. Anjo ou não, Samuel era tão mortal quanto nós e morreria se não fizéssemos algo. Conseguimos fazê-lo voltar à razão. Finalmente estando todos reunidos, era a hora de voltar ao objetivo. No momento nosso placar estava dois a zero para Chernobyl, pois viemos pegar um espelho e perdemos o que já tínhamos. É difícil reconhecer que eu estava perdida, sem saber onde procurar agora. O homem sinistro não nos perseguia, nem as criaturas bizarras que levaram Liana. O Silêncio só seria quebrado momentos depois, por alguém que estava passando pela rua batendo com algo metálico no chão.


Nós que precisávamos de algum objetivo, corremos para fora. Estávamos diante de um homem totalmente distorcido pela realidade em volta, com o corpo marcado com o que parecia ser pinturas



Tribais e uma lata em uma das mãos. Suas pernas não existiam mais para a função de mover o corpo, então o homem se arrastava usando as mãos e batendo a lata ao mover-se... Não pergunte onde estavam as pernas dele, pois nem eu mesmo saberia explicar direito. Quando nos aproximamos, não parecia surpreso. Calmamente nos olhou e pediu uma esmola.


Nunca os vi tão solícitos com um pobre diabo! Este eles não podiam ameaçar porque aquele coitado não tinha mais nada a perder. Curiosamente ele sabia quem eram Peter, Samuel, Liana e Joseph. Finalmente conseguiríamos algumas respostas... Resumindo as coisas:


Existe uma data próxima que seria o fim dos dias. Este dia estaria associado com uma entidade chamada Flauros, que retornaria ao mundo através de pessoas escolhidas especialmente para isso. Cada um deles teria uma parte de Flauros que seria revelada apenas no dia em questão. Até o dia, eles não poderiam morrer e nem matarem uns aos outros. Existe a teoria de que os espelhos estariam diretamente ligados a isso, mas nada ainda é certo. Já devem ter deduzido não? Samuel, Peter, Joseph e Liana seriam estes escolhidos e não conseguiram morrer até que Flauros retorne.


Havia ainda dois fatores estranhos naquela equação: Victor e eu. Quando questionei o homem se sabia de alguma história sobre uma força oposta a Flauros, ele afirmou que desconhecia a existência de uma contra parte, mas ficaria feliz se existisse, pois Flauros não poderia ser detido. Victor e eu estávamos fora desta situação, excluídos destes acontecimentos.



Não conseguia deduzir os nossos papeis nesse jogo, apenas teorizar. Eu, Laura, era a destinada a ser a antagonista de Liana e nossos filhos rivais um do outro. Até agora isso está comprovado se considerar o mal estar mútuo na primeira vez que nos vimos... Se considerar que o filho dela será Flauros em carne e osso, o que seria o meu? Se eu for a antagonista de Liana e ela é Flauros, então sou a inimiga de todos os quatro escolhidos? E qual o papel de Victor afinal? Um fator determinante nele é a fé... E não estou brincando! A fé dele teria nos salvado em Billings e agora teria salvado Liana de um destino pior que a morte. Outro fator é ele ser o único de nós que se reflete nos espelhos durante a realidade “A”... A teoria é que ele consegue existir em ambas as realidades ou Manter uma parte dele no nosso mundo. Seja como for, somos como trunfos escondidos que pode virar este jogo... Só é lamentável não conhecermos os jogadores.



Ele também sabia a respeito do espelho e nos contou sobre aquele que sabia onde estava. Um garoto que não deveria ter mais que dez anos, de vez em quando circulava por algumas áreas da cidade. Encontrando ele, provavelmente encontraríamos o espelho. Não perdemos tempo e seguimos as indicações do mendigo que nos acompanhava a duras penas. Chegamos ao que parecia ser uma praça, onde encontramos o garoto se embalando lentamente em um velho balanço. O nome era Jeremy, um menino de oito anos e era ninguém menos que o sobrinho perdido de Joseph. O garoto não queria chegar perto dele, tinha medo. Parecia que estava rabo com Joseph porque teria ido ali para matá-lo a mando de sua mãe. Eu pessoalmente estava muito desconfiada da saúde mental dele desde que apontara a pistola para a barriga de Liana esperando coagir a falecida Mary. Vi-me obrigada a interferir.



Jeremy pareceu ter simpatizado comigo, então tentei convencê-lo a nos guiar até o espelho. Apesar das muitas investidas de Joseph, o menino não cedia. O que esta acontecendo nessa maldita realidade, onde filhos matam mães e vice versa? Era obvio que a criança estaria assustada, embora ela demonstrasse uma maturidade que não deveria ter em alguns momentos... Jeremy e Joseph discutiam sobre verdades e mentiras, quando o menino foge correndo e se dirige a um prédio próximo. Corremos atrás dele e chego eu um quarto comum, onde ele estava nos esperando. Estava realmente mais sério e não parecia mais o Jeremy da praça. Ele nos mostraria o espelho sob uma condição... Samuel não deveria entrar no quarto onde ele estivesse. Feito isso ele abre a sala e de fato lá esta o espelho INFERNO... Junto com Gabriel o filho de Samuel.



Percebem a crueldade? Fica pior, acreditem. Faz algum tempo que ouvi dizer que o filho de Samuel era a reencarnação de outra entidade, um demônio como seria Flauros.



Então o garoto Jeremy também seria um deles... Ambos a favor do retorno do “irmão” através dos escolhidos. Eu estava imersa em meus próprios pensamentos e mal vi quando Peter entrou no quarto e se aproximava do espelho...


Pega de surpresa, não sabia se o seguia ou se ficava onde estava... Foi tempo o suficiente de todas as desgraças ocorrerem uma após a outra. Peter estava sendo levado por Gabriel e ele se aproximou demais, deixando a gente em desespero. Ele parecia ceder à influência e ao tocar no vidro, percebeu que o portal estava aberto... Podia se entrar no espelho. E Peter entrou... Junto com Gabriel.



Foi demais para Samuel! No impulso entrou correndo no quarto e selou o destino de Peter. “Você quebrou o acordo!”. Isso disse Jeremy antes do espelho tombar para frente, selando o portal de vez. Que droga! Por que estes homens foram tão tolos? Peter foi para um lugar desconhecido por não ser forte o bastante. Samuel não respeitou o pacto. O espelho estava ali mais de que adiantava? Perdemos um dos nossos e porque demorei a pensar... É lógico que Joseph e Samuel se lançariam no menino demônio, mas não conseguiriam matá-lo. Sem querer, fiz a pergunta que acabaria mudando o jogo...



Se eles são Flauros e eu sou a antagonista, o que aconteceria se eu tentasse matar um de vocês?”



Bastou apenas ver sua reação de auto defesa e sua cara de preocupação para entender a mensagem... O menino talvez não esperasse uma contra partida ou realmente ficou assustado. Eu pensei em usar essa teoria mais tarde, mas acabei por usá-la mais cedo que o previsto. Jeremy estava saindo e Joseph tomou uma decisão drástica... Agarrou o garoto pelo braço e não o deixou sair. Apenas um olhar de Joseph e entendi o recado. Não acreditava que ele estivesse pedindo isso! Por outro lado era uma chance de testar a minha teoria e com toda a frieza que consegui reunir, apontei o revolver para a cabeça do menino. Agora era certeza de que estava com medo... Parecia que acertávamos na mosca. Minha vontade era partida em dois... Eu não queria matar uma criança, mas como o Joseph mesmo estava dizendo, aquele não era mais Jeremy. Mas o que aconteceria se eu apertasse o gatilho? Onde iríamos parar? Fixei meus pensamentos no que ele realmente era e no fato de que se minha teoria fosse verdade, finalmente saberia o meu papel nesse jogo...



Respirei fundo, fechei os olhos e apertei o gatilho... Depois disso a escuridão.






















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