BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

DIA 13 DE SETEMBRO DE 2006

DIA 13 DE SETEMBRO DE 2006; NOVO MUNDO, 99º DIA

Nova realidade... Nada define melhor o que estamos vivendo. Não éramos mais cidadãos, não havia mais sociedade. Sobreviventes é o termo correto. Mudando de local a cada dia, errantes em busca de comida e local seguro para a noite... Eu estou bem apesar das circunstâncias. Os outros também. Por todo esse tempo éramos apenas nós três... E as criaturas das quais falarei daqui a pouco. Meu bebê esta muito bem obrigada, agora com seis meses passados de sua gestação. Faltava pouco mais de dois e ainda não me acostumava muito com a idéia. Imaginava estar casada com um bom homem, lá pelos trinta anos de idade, planejando estar neste estado depois de muito observar e considerar... Lembrava de Liana sempre que via minha imagem no espelho e mal me reconhecia... Roupas de gravidez, cabelos divididos entre o ruivo e o preto e parecendo uma guerrilheira daquele filme clássico chamado Mad Max... É eu preciso me acostumar.

Em um dia que prometia ser igual a todos os outros, as coisas mudariam bastante! Procurávamos o novo lar do dia, depois de fazer “compras” em um mercado do bairro. Victor viu luzes que piscavam como pequenas lâmpadas natalinas em um dos prédios. Alguém tentava chamar a atenção... Pessoas? Outros sobreviventes? Perguntava-me se haveriam realmente outros sobreviventes e não perderia nunca a esperança disso... Aquela luz reativou minha esperança adormecida desses três meses. Chegamos ao lugar em questão que parecia se tratar de um prédio residencial. A única forma de subir era a escada que estava entulhada de lixo e escombros... Visivelmente uma barricada. Como seria difícil vencer aquilo... Lembram? Grávida de seis meses! Eu valia por dois agora, inclusive no esforço físico. Pensava que era bom haver algum chuveiro lá em cima para me livrar de toda a sujeira que iria acumular ali...

Pensamento bobo não? Tudo bem, logo haveria um problema maior para ocupar a cabeça...

Um grito estridente atinge nossos ouvidos, e só depois que percebi e lembrar-se do crepúsculo que deduzi o que seria... Lembram as criaturas que mencionei antes? Esta era o que sobrou de uma mulher, pele como que rachada e cheia de feridas expostas, olhos vazados... Um zumbi, um monstro, uma alma condenada ao sofrimento... Enfrentamos algumas delas, mas não pareciam poder ser detidos por balas e só corremos deles... Agora vinha esta mulher querendo um pedaço de nós... E não estava sozinha. Subimos e não conseguia mais me mexer... O cansaço finalmente me atingia e meu filho fazia questão de me lembrar de sua existência com a dor em meu ventre. Não foi um confronto fácil, mas ao menos foi instrutivo... Agora sabemos que temem o fogo, graças ao molotov lançado pelo Samuel.

Eu sei, devem estar se perguntando sobre os responsáveis pelo sinal luminoso, mas já chego lá. Alguns tiros depois, derrubamos alguns com o auxílio do fogo e logo que pensava em descansar, surge um homem portando trajes e o escudo da tropa de choque. Sim, ele era humano. Seguimo-lo até um apartamento, aonde de relance vimos uma garotinha que se tivesse quinze anos seria muito. O homem, um sujeito grande e careca chamava-se Craig. A mocinha, filha dele, chamava-se Tamara. O homem parecia bem feliz em encontrar outras pessoas e o nosso sentimento era mútuo... Nosso primeiro contato humano depois dos acontecimentos do dia quatro de junho.

O Craig foi esperto sem duvida. Consegue a energia das baterias de carro, a água de outros apartamentos, assim como a comida. Eu havia esquecido de perguntar se ele já teria algum treinamento militar, mas naquele momento não importava... Era um homem que sobreviveu ao fim do mundo e sua motivação era a filha Tamara, uma menina que acredito que mal tenha vivido e já estava encarando a realidade mais cruel possível. Era como se eu soubesse que mais tarde, ela seria como uma irmã mais nova para mim... Nestes momentos, família é quem sobrevive conosco... Sangue é o de menos.

A vida nos pregaria outra surpresa. O homem parecia surpreso com o nome de Samuel... Parecia que havia escutado este nome antes... Alguém procurava por ele...

Samuel - Já ouviu meu nome antes?

Craig - Não... É que foi uma coincidência apenas.

- Como assim?

- É que havia uma pessoa procurando por um Samuel Jedah.

- Quem?

- Eu estou tentando lembrar o nome...

Laura - Era homem ou mulher?

Victor - Joseph? Liana?

- Não... Foi logo que aconteceu tudo isso... Ela disse que precisava muito encontrá-lo...

Será possível que...

- Gabriela?

- Gabriela! Isso! Uma moça morena e muito bonita...

Já podem deduzir a partir daí... A mulher de Samuel estava viva e procurando por ele! Samuel ficou exultante... Seus olhos exalavam vida como nunca eu tinha visto antes. Parecia embriagado com seu nome e prováveis pensamentos felizes. Eu fiquei feliz por ele, mas não explica o sentimento contraditório que tive...

Ela está viva... O amor da vida dele está vivo... Eles se amam... Mas como eu fico... Se os sonhos forem reais... Se o bebê... O que eu faço?

Que droga! Não era hora para isso! Não havia garantias de que a encontraríamos. E depois, porque eu estava tão incomodada por isso? Samuel é meu Irmão... Meu protetor e meu amigo... Eu devo ficar feliz por ele e estou... Mas porque este sentimento mesquinho de não querer que ela apareça? Ciúmes? Não! Não pode... É o meu irmão, e não tem porque ter ciúmes do irmão correto? Concentrei-me no rumo que a conversa tomou para esquecer isso... Havia uma freqüência de rádio transmitida pelo exército, chamando para um local seguro. Ainda havia organização e um local organizado. Nosso destino estava longe deste porto seguro, mas para Craig e Tamara poderia ser a salvação. Decidimos ir até lá no dia seguinte, levá-los até a base e seguir em frente...

Então porque eu estava me sentindo estranha? Porque estava com aquela sensação de que esta não era uma boa idéia? A velha história... É bom demais para ser verdade.




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