06/10/2005 - SEGUNDA-FEIRA

O PRIMEIRO CARRO 06:09pm

Joseph faz um lanche rápido e vai em direção as ruelas da Filadélfia onde o movimento é menor. Está muito frio, o sol já não aparece faz alguns dias, ele avista um Corsa sedan preto, deve ser ano 2000 ou 2001, não é o que Bola vai pagar mais, mas ele acha que já serve pra pagar a identidade e comer alguns dias. Joseph aproxima-se do carro, ele tem alarme, mas se for rápido o suficiente ninguém vai notar. Joseph pega um pé de cabra modificado, ele é bem menor e assim pode ocultá-lo. Com um movimento seco e preciso consegue abrir a porta quase sem danos, assim que o alarme começa a tocar ele arranca o fio que liga ao sistema de som! Droga! Demorou demais com uma pancada, consegue abrir o sistema de partida com o qual o carro é ligado e em poucos segundos Joseph liga o carro e sai do lugar!
Enquanto dirige em direção ao ferro-velho o simples prazer de estar em um carro confortável e dirigindo faz com que um suspiro de sua vontade de viver se manifeste. Ao se aproximar do portão buzina três vezes de maneira curta, esse é o código para abrir o portão rapidamente. Feito isso o portão abre e Joseph estaciona o carro dentro do Ferro Velho. Bola olha para o carro enquanto Joseph sai e caminha até sua direção:
-Gostou? Ta “inteirasso”! Diz Joseph.
Bola:
-É um carro barato, mas tá novinho sim...
Joseph:
-Ótimo, quanto me consegue por ele?
Bola:
-Três mil.
Joseph:
-Bola eu to numa pior, tu sabe que eu preciso de grana. Três mil não dá pra nada.
Bola:
-Te dou três mil cara, não se fala mais nisso.
Joseph:
-Bola, to precisando de uma identidade falsa, coisa simples, só pra fazer saque em um banco. A titular da conta existe, mas não pode tirar uma nova identidade...
Bola:
-Saquei, te dou essa identidade mais quinhentos.
Joseph:
-“Tá sacaneando” Bola...
Bola:
-Tá legal... Mil e não se fala mais nisso.
Joseph:
-Certo, me consegue uma foto antiga da pessoa, os dados e a assinatura que eu vou mandar fazer pra ti. Daqui a uns dez dias passa aqui que eu te dou o documento.

UM TEMPO DEPOIS

Liana tranca seu quarto enquanto os compradores vão a sua casa comprar o que ela oferecera. Durante tarde ela recebe uma mensagem em seu telefone celular pedindo para que mande sua assinatura, seus dados e sua foto para o endereço indicado. Liana providencia e envia pelo correio o que Joseph pediu.Ao final do dia já vendera quase tudo o que havia em sua casa: televisor, som, computador, mobília, ar condicionado, conseguiu quatro mil trezentos e cinqüenta dólares. A primeira compra de Liana após isso é uma nova cadeira de rodas elétrica, veloz, leve e ágil, mas o valor é de 6 mil dólares. Liana pega sua mochila com cinco mudas de roupa e vai para um hotel no centro de Boston com o resto do dinheiro.
Nove dias se passam, Samuel tira os curativos de seu olho, vê que seu aspecto não ficou nada bom, as marcas são irreparáveis e sua visão com o olho esquerdo quase não existe.Ele não vê nada além de algumas cores e luzes aleatórias. Samuel vai até o hotel de Liana e lá permanece até Joseph retornar ou dar notícias...

A BUSCA

Joseph passa todas as tardes indo de orfanato a orfanato, vai a casas de adoção e afins, mas nada leva a lugar nenhum. A cada dia perdido volta para o quarto do motel no qual está hospedado, na verdade lá ficam ele e outros insetos. Existem muitas crianças que poderiam ser seu suposto sobrinho, o problema é que há uma lei que impede que o paradeiro da criança adotada seja revelado e para verificar as centenas de crianças suspeitas demoraria talvez uma vida inteira. Joseph volta para seu quarto no nono dia após fazer o combinado com Bola, os planos de Joseph são pegar a identidade e voltar para Boston.
Ao chegar em seu quarto deita na cama e olha para o teto com o pensamento distante. O que fazer agora? Já sem esperança Joseph tira o blusão preparando-se para dormir, quando o faz seu pingente cai e rola para debaixo da cama. Joseph se abaixa, mas parece que ele simplesmente sumiu! Está cansado demais para preocupar-se com isso, amanhã é um novo dia, amanhã...
Joseph abre os olhos... Olha para o relógio digital ao lado da cama, há algo errado! O relógio marca em todos os dígitos o número seis! O silêncio é tão sinistro que não parece ser real.Ele levanta da cama e vai espiar a janela, lá fora as ruas estão vazias e há muita neblina. Toc! Toc! Toc! Alguém bate na porta do quarto, Joseph cautelosamente atende. Quando abre a porta vê uma criança pequena, um menino com o olhar sinistro, ele olha para Joseph e diz:
-Não adianta me procurar, eu já completei sete anos e sete dias. Na terra há coisas que você nem imagina, na terra há homens que você nem imagina, no universo há forças que você nunca vai conhecer... E ele disse: “Quem descobrir o significado interior destes ensinamentos não provará da morte.” Hahahahahah!
Joseph:
-O quê?
Menino:
-A manifestação de certas coisas acontece de maneira diferente. Você os conhece? Aqueles ali no final do corredor.
O menino aponta para o corredor lá no fundo em meio às sombras Joseph vê aquele mesmo ser do qual teve que fugir na cabana! Um frio faz suas pernas tremerem como se não suportassem seu peso...
Menino:
-Ele quer vocês Joseph!
Joseph abre os olhos! Era só um sonho... um sonho muito ruim... , mas um sonho.Olha para o relógio: são sete da manhã,não tem mais vontade de dormir. Irritado arrasta a cama e começa a procurar seu pingente. Em meio às frestas das tábuas Joseph vê o cordão do pingente, com algum esforço consegue levantar a madeira do assoalho, encontra seu pingente e um pedaço de jornal. O pedaço parece ter caído ali faz muito tempo por acidente, olhando de perto ele vê uma grande foto e parece ele mesmo! Mas na foto Joseph está com roupa de presidiário há policiais atrás na foto! Mas não é possível, pensa Joseph, pela foto nessa época ele estava no auge de sua carreira no FBI. Olhando mais de perto vê uma ferida na orelha, Joseph larga o jornal e corre para o espelho do banheiro. De fato a uma pequena cicatriz em sua orelha. Joseph veste o pingente e guarda o pedaço de jornal.
Durante o dia Joseph vai até Bola, pega a identidade e volta para Boston.