BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

DIA 13 DE JUNHO DE 2006

DIA 13 DE JUNHO DE 2006; NOVO MUNDO, 9º DIA

Haviam se passado nove dias. Havia chegado o dia do encontro com Lone Dayle. Preparamo-nos como se fossemos para a guerra. Era justo, já que não tínhamos certeza de nada. O clima não poderia ser mais apreensivo. Liana e Victor conversavam sobre encontrar o filho de Liana. Samuel e Joseph trocavam o que poderia ser um ultimo abraço de irmão para irmão. Eu apenas me concentrava... Lembrava a mim mesma de minhas razões para viver e continuar.

O mundo estava destruído e nós indo até a biblioteca... Nada mais parecia o mesmo. Nem mesmo o cheiro do ar é o mesmo. Aqueles que ficassem na terra teriam que ser como os desbravadores dos séculos passados, pois aqui já era outro mundo. Segurava-me no ultimo fio de esperança, que era as respostas que Lone teria para nós... Uma citação, um objeto... Qualquer coisa para tentar reverter o problema, afinal não era para isso que estou aqui?

Depois de desviar de enormes rachaduras e uma meia hora de viagem por rotas alternativas, chegamos até a biblioteca municipal. O local estaria muito escuro e tirando uma pequena trilha de luzes de emergência preparada previamente, este lugar seria realmente assustador. E pensar que quando era menor, eu adoraria ter uma biblioteca como aquela só para mim... Que adianta todo aquele conhecimento e ninguém para dividi-lo? A trilha levava para os andares inferiores, mais precisamente a uma sala grande de portas duplas onde em uma mesa com vários livros espalhados, estava Lone Dayle e outro homem que eu não conhecia. Todos estavam ávidos por respostas e ver Lone com aquela tranqüilidade não causava o efeito de amenizar, mas era perturbador.

Lone - Bom... Eu nem sei por onde começar...

Samuel - Conta o que aconteceu. Onde estão as pessoas?

- O apocalipse... As pessoas foram julgadas e levadas.

- E porque não fomos levados também?

- Você deve saber.

- O que é isso agora?

- É o que restou do mundo Samuel.

Laura – existe alguma forma de reverter isso?

- Não... Nenhuma.

- Então o que vamos fazer?

- Eu não sei.

- E quem é ele?


Finalmente eu tive o bom senso de perguntar sobre o homem estranho na sala... O homem era Oliver Rance, O fundador da sessão 368 do FBI. Provavelmente uma sessão focada nos acontecimentos sobrenaturais. Outro antigo inimigo da equipe... O que já não faz a menor diferença.

- O que mais você sabe?

- Todas as teorias de Gaspar e eu... Concretizam-se aqui.

- E onde nós entramos nisso?

- Esperava que nos dissesse. Porque estão aqui ainda?

- Eu não sei. Se fosse por escolhas que fiz no passado, não teria o purgatório para mim.

- Deve ter alguma coisa a mais, não tem?

- Na verdade eu não me sinto morta...

- Claro que não. Ninguém aqui está morto.

- Flauros?

- Flauros... O que tem ele?

- Eu sou uma parte dele. Assim como Joseph e Liana.

Era impressão minha ou Lone e Oliver ficaram um pouco mais Evasivos ao Samuel mencionar a mim como antagonista de Liana? Talvez eu esteja vendo coisas ou apenas o que gostaria de ver. Chegava a hora de fazer algumas perguntas.

- Ainda não estão claros quais são os papéis de algumas pessoas aqui.

- Papeis? Que papeis?

- Você mesmo disse... Está-se aqui é por causa de alguma coisa. O fato de que eu encontrei uma velha senhora em uma cadeira de rodas que me disse que estava destinada a ser a antagonista de Liana, muda muita coisa não?

- Não parece claro? Você mesma quer ler?

Não é que o filho da mãe me indica a bíblia sagrada? Enquanto eu lia a parte “Armageddon”, a conversa seguia para assuntos mais científicos, dos quais passei a me interar recentemente. Estava dividida entre a bíblia e a conversa, mas o que lembro é o seguinte:

Oliver – Durante muito tempo foi feitas experiências com tempo e espaço. Joseph foi o primeiro humano que conseguiu atravessar o tempo e espaço, ao mesmo tempo duas vezes. Ele esta aqui... Mas também está aqui... Talvez vários dele estejam aqui... O Lone passou para cá porque morreu em outro lugar entende?

- Quer dizer então que existem mesmo várias realidades?

- Várias... Muitas realidades. Em uma você deve estar feliz com sua família, em outra você é gay, outra você é uma ladra... Muitas realidades.

- Isso não importa! Não podemos ficar querendo ir de uma realidade para outra, a nossa realidade é essa! Como vamos fazer para salvar isso?

- Não há salvação. Nossa realidade acabou.

- Onde entra o céu e o inferno nisso?

Pergunta interessante, que Lone respondeu que existem, mas não respondeu a pergunta. O que foi interessante foi quando expliquei a teoria dos espelhos e de Flauros...

- Um momento... Até onde sei vocês não poderiam nem acabar com a própria vida não é?

- Bom... Eles não poderiam morrer ou se matarem até...

- Agora podem. Vocês não possuem mais a essência dele em seus corpos.

- Quer dizer que Flauros esta na terra?

- Está.

- Mesmo não tendo cumprido a profecia e entrado nos espelhos?

- Quem disse que não cumpriram?

- Porque Gaspar queria isso? Aconteceu porque juntamos os espelhos na data certa?

- Não. Isso não tem nada a ver com os espelhos, aconteceria de qualquer jeito. A data é apenas o nascimento... Talvez Gaspar quisesse dar uma chance a vocês.

- Agora é um pouco tarde... Duvido que os espelhos estejam onde ficaram da ultima vez.

- O que são as pessoas monstruosas La fora?

- São os condenados... Aqueles que se deixaram levar pelos pecados...

Eu pessoalmente começava e me cansar. Toda aquela conversa de final dos tempos me deprimia. Lutava internamente para que as esperanças que tinha não desaparecessem. Não importa se era um novo mundo e um novo deus... Ou se seria necessário recomeçar tudo do zero. Onde há vida, há esperança e eu estava gerando uma no ventre...

Talvez o primeiro nascimento destes novos tempos e minha principal razão para viver... Realmente quando nos tornamos mãe, mesmo durante a gestação, mudamos a nossa maneira de pensar. Meu filho nascerá e terá um futuro... Este é o meu objetivo... Sobreviver!

Uma frase sábia do Victor me pareceu altamente irritante no momento...

Victor - A escolha foi nossa. Poderíamos ter quebrado os espelhos, mas não fizemos... Não podemos reclamar agora.

- Fale por vocês! Eu não queria estar aqui! Não tenho culpa de aos nove anos de idade ser acometida por pesadelos e...

Foi quando Lone colocou uma arma na minha frente.

- Então acabe logo com isso... Porque não tem outro jeito!

- Me recuso a aceitar...

- Porque você é fraca.

- Olha quem esta me chamando de fraca!

Queria sair Dalí rapidamente! Os lamentos e nostalgias daquele homem pareciam me enfraquecer e me fazer duvidar... Era a ultima coisa que precisava. Será que alguém ali poderia me dar uma solução melhor do que me tornar uma suicida? Eu não vou parar... Eu não vou desistir. Se eles quiserem cair no esquecimento que se danem! O problema foi quando Lone sugeriu tirar a vida de meu filho. Foi algo muito sutil, como um veneno passando por nós. Subitamente percebi que aquilo poderia ser o propósito daquela reunião... Passei a ficar preparada para qualquer movimento daqueles dois homens que cada vez mais destilavam palavras venenosas contra nossa vontade de viver... Malditos vendidos! Se este era o mundo de um demônio, para que ele sujaria as mãos se podem mandar asseclas fazer o serviço sujo e sem apertar o gatilho?

Lone se retirou do recinto, nos deixando com mais dúvidas do que antes. Oliver permanecia na sala olhando para nós. Havia certa tensão no ar... Era quase palpável. Quando percebi, Oliver fez o primeiro movimento e nós nos defendemos... Aquele homem queria me matar... Matar o meu filho que nem ao menos sabe de seu próprio destino cruel. Samuel reagiu rapidamente, como se também concordasse comigo. Sua espada atingiu Oliver com força e ainda assim ele tentava me matar... Mais uma vez, Samuel me salva desarmando o infeliz e se afastando após a derradeira estocada. Oliver foi derrubado. Estas foram suas ultimas palavras:

Lone não disse tudo... Flauros vai matar vocês...

Claro que não foram estas todas as palavras, mas estas eram as que gravaram na hora em minha memória. Lone e Oliver estavam com Flauros e desejavam nossa morte. Mas porque agora já que não tínhamos a menor utilidade? E porque agora todos se dedicam em matar meu bebê que ainda nem viu a luz desta realidade nefasta? Desta vez os assassinos de Flauros falharam... Então parece que viria pessoalmente. As luzes de emergência começavam a se apagar, nos deixando na total escuridão. Começamos nossa retirada com apenas as lanternas para iluminar o caminho. No calor do momento eu havia me esquecido completamente deles... Liana e Joseph sumiram de meu campo de visão... Eles haviam desaparecido.

Não tivemos tempo de pensar em procurá-los e uma presença enorme se fez presente diante de nós. Alguma criatura enorme se dirigia em nossa direção com seus passos ecoando como um trovão em meus Ouvidos. Fomos para um pequeno quarto de xérox para sair do caminho da coisa.


Tornamo-nos sombras e o silencio era apenas quebrado pela nossa respiração. Foram minutos muito longos, com a coisa chegando à frente da porta fechada por uma máquina. Meu único pensamento era em salvar o bebê... Estava pronta para enfrentar o que quer que fosse. Minha arma seria a minha melhor amiga... Mas os minutos passaram e nada acontecia.

Logo nós saímos da sala e só havia marcas de garra do lado de fora. Conseguimos finalmente chegar ao lado de fora e o sol começava a se por no horizonte. Deduzíamos os tipos de perigos que haveria na escuridão e nos apressamos para o carro e de volta a igreja... Olhei para trás ao lembrar-se de Liana e Joseph... O monstro os teria pegado? Teriam escapado como sempre? Apenas naquele momento eu começava a sentir a falta deles... Liana estava muito frágil e Joseph muito machucado... Só depois de muito tempo eu passaria a pensar que talvez eles já tivessem cumprido o seu papel...


Que talvez tivessem visto que na morte a paz que precisavam... Nenhuma teoria seria comprovada até então, pois eu nunca mais os veria neste mundo. Quem sabe eu tire minhas dúvidas ao chegar a minha vez.

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