BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

DIA 24 DE DEZEMBRO DE 2006.

DIA 24 DE DEZEMBRO DE 2006.


RENASCIMENTO

Como disse uma das mulheres que me fazia companhia uma vez, “A Criança esta com medo de nascer nesse mundo e não a culpo”. Já passara os nove meses e nada da criança nascer. Se isso era normal ou não era irrelevante, pois todas as circunstâncias desta gravidez são fora do padrão. Eu me sentia enorme, lenta, cansava muito facilmente e já não acompanhava ninguém a parte alguma. As pessoas começavam a comentar até que poderiam ser gêmeos ou trigêmeos. Não podia contradizê-las, afinal não podia mais contar com equipamentos adequados. Pensou-se em cesariana, mas era ainda mais arriscado nas atuais circunstâncias. Naquela manha, tomamos uma decisão que parecia adequada devido não só a mim, mas as outras que em breve também teriam seus filhos... Mudar para um Hospital.

Poderia ser um tiro no escuro, mas haveria mais chance de ter o necessário lá do que no local atual, que mal cabiam os novos sobreviventes que chegavam. A mudança logo se tornaria inevitável, então que se unisse o útil ao agradável. Tudo foi preparado às pressas e por volta do meio dia, Eu estava confortavelmente alojada no banco traseiro de um carro, amparada por Gabriela e Tamara, a caminho de um hospital.


Eu praticamente dormitava quando os carros pararam e acordei com um leve toque de Gabriela no meu ombro. Olhei pela janela e vi a entrada do Lenox Hill Hospital. O prédio cinzento ocupava todo um quarteirão e a destruição obviamente chegou aqui. Janelas quebradas, barricadas nas entradas, tábuas cobrindo as janelas mais baixas e lixo por toda parte. Era necessário agir rápido, pois já devíamos estar no meio da tarde e o local ainda precisava ser revisado. Permaneci praticamente o tempo inteiro no carro com as garotas ao lado, enquanto Samuel e Victor verificavam o prédio junto com os homens da rede. Sentia preocupação por não poder estar La dentro junto com eles como sempre era logo depois do fim... Mas sei que nunca me perdoariam se não fizesse o que me pediam. Só poderia então fazer deduções... Já havia se passado meses desde o dia quatro de Junho e provavelmente alguém pensaria em se abrigar em um hospital. Temia que talvez houvesse criaturas escondidas nas sombras ou pessoas não muito amigáveis.

Repentinamente ouvi gritos dentro do hospital, depois de quase meia hora de tranqüilidade. Gabriela estava em alerta total do lado de fora do carro e eu rapidamente senti meu corpo contrair... E senti como se algo finalmente se soltasse dentro de mim. É difícil explicar em palavras a sensação, mas a expressão “a bolsa estourou” me parece bem adequada. A contração veio em seguida e durou pouco, mas foi o suficiente para saber que nenhuma dor que eu sentira até agora poderia ser comparada com aquela. Não consegui sufocar um gemido que foi rapidamente percebido por Tamara. Deduzindo o óbvio, saiu do carro e alertou Gabriela que veio verificar a situação. Expliquei que era a primeira contração e a bolsa havia estourado fazia algum tempo. Quando ela me indagou porque não avisei disso antes, expliquei envergonhada que não queria ser um problema a mais, já que pareciam estar com problemas La dentro. Ela me olhou com aquela expressão de quem vai repreender alguém por uma travessura. Ela cochicha algo para Tamara que retira algumas coisas do bagageiro. Ela estava preparada para o caso disso acontecer! Eu devia saber que Gabriela teria preparado Tamara para isso, embora a menina estivesse mais nervosa que eu.

Difícil saber quem estava tranqüilizando quem. Eu estava calma apesar de tudo. Não me preocupava com o nascimento naquele momento. Sabia que ia demorar, sabia que as contrações deveriam vir num menor intervalo de tempo em breve, que a dor que senti a pouco ia aumentar, mas minhas preocupações estavam voltadas para as pessoas La fora. Foram longos minutos até ver Samuel, Victor e Gabriela saindo do prédio com armas na mão e em seguida os homens da rede empurrando uma velha maca levemente enferrujada. Era para mim. Todos me ajudavam a subir na maca e ficar o mais confortável possível. Olhava em volta e todos pareciam bem. Adentrando o hospital, vi que o saguão só era iluminado em algumas partes pelo sol das janelas, deixando grandes partes sombreadas. De relance podia ver corpos no chão por causa das luzes das lanternas... Zumbis provavelmente entocados nos subsolos deste lugar. Agora sabia de onde vieram os gritos e deixei de me preocupar. Eu devia ter lembrado que não seria pouca coisa que derrubaria os rapazes, mas a memória de Liana vinha a minha mente e temia que pudesse ter o mesmo destino.

O elevador aqui ainda funcionava bem, por isso subimos aos andares superiores. O elevador para no 9º andar e ao abrir as portas, eu podia ver aquele mesmo corredor pelo qual andei ao ter a visão com a velha cega, logo quando conheci Samuel, Victor e Peter. Parecia ter passado uma eternidade, como se fizesse séculos. Claro que não era exatamente como eu vi antes, mas eu sabia que era aquele corredor. O sol começava a se por e logo as sombras tomariam conta novamente. Cheguei a um quarto simples e fui colocada na cama. Olhava para quem havia entrado junto e vi muitos rostos desconhecidos, olhando com curiosidade. Era como se muitos tivessem esquecido como a raça humana procria, da vida nascendo diante de seus olhos cansados. Samuel e alguns homens da rede começavam a retirar as pessoas do quarto, permanecendo apenas os “Anjos da Guarda” e o que parecia ser o líder daquela pequena comunidade hospitalar, Um homem de jaleco de médico que parecia já ter passado dos 50 anos de idade chamado Jonh.



A noite veio e as luzes emergenciais foram acesas. As contrações voltaram com mais força e confesso que pensei que não resistiria. Não haveria anestesia e o único médico presente não era obstetra, embora fizesse todo o possível para ajudar. Samuel não saiu de perto de mim em nenhum momento enquanto Victor permanecia na porta do quarto e Tamara, Gabriela e o doutor Jonh preparavam o necessário para um parto normal. Era uma gravidez de risco, não havia dúvidas quanto a isso. O medico dizia que eu precisaria ser forte, que seria uma noite difícil e eu me irritava por ele me dizer o óbvio. O melhor conselho veio da própria Gabriela que era a única ali que já passara por algo semelhante:

“Laura, não segure nada, nos faremos isso por você! Sentirá dor então grite! Grite até cansar! Mas não desmaie e fique atenta ao que eu disser ok? Quando for a hora, eu vou avisar e você terá que nos ajudar! É seu filho que está vindo. Pense que logo ele estará com você!”

Ela olhava diretamente nos meus olhos e falava quase gritando. Samuel nada dizia, Victor olhava atentamente da porta e Tamara mesmo nervosa como estava não tirava seus olhos da cama. Eu podia quase ouvir seus pensamentos:

“Essa criança é o futuro da humanidade e vai precisar da mãe para guiá-la. Não desista!”

Nas horas seguintes, me entreguei de corpo e alma ao trabalho de parto. Não tenho muitas lembranças concretas, pois só lembrava a dor, os meus próprios gritos e as palavras de incentivo para empurrar e agüentar firme. Em algum momento lembro que a dor subitamente parou e meus olhos ficaram pesados demais para ficar abertos. A última coisa que ouvi foi um choro forte de bebê recém nascido e sinto lagrimas rolarem no meu rosto e um sorriso fraco antes de apagar completamente e não sentir mais nada.



Nenhum comentário: