BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

DIARIO DE SAMUEL

Diário de Samuel

Já faz alguns anos que não escrevo. Escolhi não mais escrever, pois todo o sofrimento pelo qual passei em décadas de luta pela sobrevivência e pela manutenção da pouca sanidade que ainda me resta não deveria ser exteriorizado para essa realidade. Hoje, com 36 anos de vida, sinto-me cansado. Meu corpo já não responde à minha vontade. Minha mente está cada vez mais nublada e a cada dia que passa sinto meu espírito morrer.

Muito tempo havia se passado. Eu abandonei meus amigos, abandonei minha luta. Essa “realidade” era convidativa quando tomei essa decisão. Um mundo onde poderíamos passar desapercebido, um mundo onde as pessoas precisam apenas lidar com o medo de perder o emprego, pois a vida, ou ainda, a morte era algo distante e inalcançável para os espíritos dessa era. Um mundo onde as possibilidades são confortavelmente finitas.

Encontrar meus antigos companheiros não fora fácil. O olhar de Vitor era de uma incredulidade perturbadora. Talvez, nesses anos de afastamento, ele finalmente havia encontrado a paz, mesmo que artificial, mas era suficiente para se agarrar com todas as forças e não deixá-la escapar. Quando seus olhos focaram-me pela primeira vez em anos, por um momento senti-me culpado por forçá-lo a enfrentar nossos medos. Vitor sempre fora o mais forte de todos nós, pois havia algo em sua essência que o mantinha em pé quando todos nós já havíamos tombado: a fé. Porém, confesso que nesse encontro, não pude perceber isso nele. Acho que ele abraçou demais esta realidade, fazendo com que sua fé se transformasse em certezas absolutas e fúteis. Acredito que isso seja temporário, preciso acreditar que isso será temporário...

Quando a vi, senti meus olhos umedecerem. Vendo sua forma, que nada lembrava as de antigamente, percebi que os anos longe de nós havia cobrado um preço muito alto para Laura. Não consegui olhar em seus olhos pois a culpa de tê-la abandonado ainda me assolava. Como um irmão, eu a abracei... Porém, tanto o seu corpo como o sua alma me repeliram. Era justo, era muito justo.

Porém, cá estamos, reunidos, depois de anos de “paz”. Reunidos em um mundo onde todas as coisas fazem sentido. Mesmo que um sentido deturpado, mesmo que um sentido onde nós devemos continuar sangrando e sofrendo, mas nada comparado ao que já passou e, com certeza, nada comparado ao que está por vir. Senti a necessidade de escrever porque sinto que o fim do sofrimento está próximo. O fim de nossa guerra eterna contra a insanidade das coisas que nos envolve como um manto de ferro e espinhos.

Nenhum comentário: