BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

DIA 16 DE MARÇO DE 2006

DIA 16 DE MARÇO DE 2006

Não poderia dizer que estava consciente, mas passavam varias imagens distorcidas pela minha mente, como fotos ou rápidos momentos de minha vida. Deve ser verdade aquilo que dizem sobre a vida passar diante de seus olhos quando tu morre. Poderia jurar que estava fazendo a passagem, que nada mais poderia me atingir, que estava livre... Foi quando veio a primeira dor, que aumentava aos poucos e o frio que sentia não condizia com o que eu imaginava do paraíso... Talvez do inferno? Não era como constatei ao abrir os olhos...

Estava Viva em uma cama de hospital.

Na hora não sabia se as lagrimas que caíam eram de dor ou felicidade. Talvez os dois... Quando eles me perguntavam o que havia acontecido, não vinham as palavras. Estava óbvio demais, principalmente para Samuel. Diante deles escondia a totalidade do meu pavor, ao constatar que minhas pernas não mexiam. Lembro que sair daquele hospital na cadeira de rodas foi uma das piores sensações que já tive em vida, e os rapazes me acompanhavam nisso. Samuel parecia o mais afetado por isso, mas nunca me disse por quê. Não podia aceitar isso, então eu levantei e andei até o carro. Era notável a minha dificuldade e andava apoiada pro Peter, mas precisava provar a eles que não seria um estorvo maior, que era tão forte quanto qualquer um ali. Muitos chamariam isso de sofrimento, eu chamo de vitória.

Os rapazes me contaram o que houve durante minha ausência. Quando contaram que sumi sem deixar nenhum recado ou rastro, eu não me surpreendi. A parte ruim foi que os vídeos de segurança apontavam uma falha por volta das 04h30min, um corte de 30 segundos. Talvez nunca tivesse sido encontrada se não fosse Victor ouvir meus gemidos fracos. Encontraram-me dentro de um freezer, nua, coberta de gelo, quase morta por Hipotermia. Não consigo compreender estas entidades... Se me queria viva para gerar um filho, porque me matar congelada? Apenas mais um mistério em torno de nós, mas este eu tinha muito medo de descobrir.

HOTEL DE ESTRADA.

Depois de muito tempo na estrada, paramos em outro hotel... Não podíamos perder mais tempo, então seguimos viagem. Durante todo aquele dia eu revezava entre cochilos sobre muitas cobertas e tentativas de movimentar as pernas. O frio que sentia parecia nunca ir embora, mas isso teria que passar. Uma inválida não seria útil ao grupo e ficar para trás sozinha, era a ultima coisa que eu queria naquele momento.

Paramos em outro hotel típico de estrada, um cotidiano agora. Fiz questão de andar até o quarto que iria dividir com Peter, enquanto Samuel e Victor ficavam num quarto adjacente.

A única coisa que queria era uma noite sem sonhos, embora temesse fechar os olhos. Estava cansada, mas não com sono. Por isso comecei a conversar com Peter algumas banalidades.

Do nada, estouros característicos de armas de fogo ecoaram perto de nós... Perto demais.

Mas que droga! Não podemos nem convalescer em paz! Não podemos ter nem um minuto de conversas banais e piadinhas sem graça? É pedir muito? Havia passos do lado de fora e logo estriam em nossa porta. Sentada na cama, apanhei o revolver e o ocultei nas cobertas. Meu estado denotava incapacidade e contava com isso. Pensei até em negociação com o invasor para não haver mais mortes ou feridos, mas quando vi que era outra vez aqueles homens de preto do governo, subiu uma raiva que tempos depois parei para pensar de onde teria vindo. Quando ele deu as caras na porta, Deu a primeira olhada para Peter para concentrar seus esforços nele e me esqueceu por um segundo... Mais que o suficiente...

Atirei nele e pela primeira vez, sem receio ou medo de matar. Joguei-me para embaixo da cama e pude ouvir a guerra ao meu redor. Maldita invalidez! Quando derrubamos o que estava a nossa frente, Peter correu para fora para ajudar os demais. Tudo que podia fazer era esperar e ficar de prontidão para caso alguém entrasse ali. Algum tempo depois, Ouço meu nome gritado pelo Peter e resolvo sair. Quase me arrastando, usando de toda minha vontade, saí para a rua. Havia muita fumaça, como uma daquelas bombas de gás vindo do quarto dos rapazes. Ao parecia eram três homens e todos tinham sido abatidos. Cheguei ao furgão e me deparei com um pesadelo real. Samuel tinha sido baleado na perna e Victor com uma bala no tórax.

Não precisa ser dito o sangue escorrendo aos borbotões e meu pavor diante disso. Querem uma situação controversa? Quando era menor, fui escoteira e aprendi o básico dos primeiros socorros. Depois eu comecei a admirar o trabalho de médicos e enfermeiras, que considerava os verdadeiros salvadores de vidas e pensava em um dia me tornar uma médica... Bendita a infância não? Agora, não posso nem ver sangue e me sinto mal. Nunca cheguei a imaginar estar numa situação como aquela. Dois feridos e a única que pode fazer algo, não consegue chegar perto. Tentava dizer a eles como proceder, mas era muito difícil fazê-lo sem olhar e ainda por cima, se Victor Morresse eu nunca me perdoaria... Prendi a respiração, saltei para a parte de trás e fiz o que pude. A Situação foi amenizada a muito custo, mas um médico ainda era necessário. Samuel ligou para Antony que conseguiu dois médicos na cidade mais próxima.

Chegando ao local combinado, não pensava em mais nada além de tirar aquele sangue de mim! E vergonhoso dizer isso, mas não lembrava Victor ou Samuel, apenas de me livrar daquele maldito sangue. Depois de praticamente me esfolar por um bom tempo no banheiro, Subi até o segundo piso para ver se podia fazer alguma coisa. Os dois médicos, Um jovem e um senhor de meia idade, Parecia se esforçar ao Maximo e lutavam contra o tempo. Não demorou muito para eu sair e deitar no primeiro sofá que encontrei no andar de baixo. Estava nas mãos dos médicos de verdade agora e não havia muito que um aprendiz de enfermeira pudesse fazer...

CADEIRA DE RODAS

GRANADA DE FUMAÇA

Nenhum comentário: