BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

01/11/2005 - SEGUNDA-FEIRA

REENCONTRO 09:21 AM

Depois de vários dias juntos em um hotel em Boston Liana, Joseph e Samuel pensam que o melhor a fazer é voltar á Boxford e tentar recuperar os pertences mais importantes que lá ficaram. Todos concordam com a decisão, embora Liana no mais puro âmbito de sua vontade não queira mais colocar seus pés e rodas naquela cidade. Ela sugere que Joseph compre um carro com o dinheiro que ela conseguiu resgatar do banco:
- Não devem haver ônibus para Boxford devido aquela suposta epidemia, acho melhor comprarmos um carro, afinal podemos nem conseguir entrar na cidade.
Joseph:
- Tudo bem, quanto temos para gastar em um carro?
Liana:
- 10.000 dólares chegam?
Joseph:
- Claro, dá para comprar um bom carro com esse dinheiro.
Joseph pega o dinheiro, coloca-o no bolso de dentro de sua jaqueta e sai do hotel. Samuel vai comprar algumas coisas como: roupas (já que todas ficaram na fuga em Boxford), comida e novos telefones celulares, tudo com 15.000 dólares do dinheiro que estava na conta de Liana.
Liana pega um pequeno quadro que pintou nesses dias em que Samuel estava no hospital, a pintura é uma paisagem de outono que refletia sua depressão durante esse tempo, apesar do tamanho diminuto o desenho ficou ótimo. Enquanto Liana avança pela rua em sua cadeira o zunido do motor elétrico faz sua mente mergulhar em uma tristeza e solidão. Não é a primeira vez que se sente assim, mas agora parece saber o motivo: a distância de Samuel e Joseph. Parece que sua vida piora quando está longe dos dois. Liana entra em um atelier de arte a alguns metros do hotel, ela vende sua obra por 300 dólares e volta para o hotel.
Joseph caminha com a cabeça baixa e as mãos nos bolsos de sua jaqueta, ele sabe que a postura a ser adotada ao voltarem deve ser mais ofensiva. Uma hora depois de caminhar ele chega a uma loja de carros usados. Ele pensa que o ideal seria um carro forte, um 4x4 talvez, mas o dinheiro não será suficiente. Em meio aos vários carros que Joseph vê escolhe um Gol, ano 96, preto e em ótimas condições. Consegue comprar por uma pechincha de 6.000 dólares mais meio tanque de gasolina. Após pegar a documentação do carro ele dirige até encontrar uma loja de armas de fogo. Joseph entra na loja e procura por pistolas confiáveis, escolhe uma de calibre .45 e outra de 9mm. Ele fica aliviado quando o atendente confirma sua permissão de compra graças à licença falsa que comprou há algum tempo. Aproveitando os quatro mil dólares que sobraram ele compra três coletes a prova de balas e munição. Saindo da loja Joseph volta ao hotel.
Quando chega ao hotel encontra Samuel em pé olhando para a cama repleta de caixas e sacolas de compras, Liana está mexendo em um telefone celular.
Samuel:
- Comprei algumas coisas. Na verdade nós estamos com poucas roupas e não sabemos se teremos como comprar comida lá em Boxford. Comprei lanternas, roupas novas, malas, telefones, comida e um notebook pra mim.
Joseph entrega a Liana a pistola 9mm HK e diz que é melhor estarem seguros em Boxford. Enquanto Liana olha a pistola ele rabisca em um papel e mostra o desenho a Samuel: a imagem é de uma figura alta com olhos grandes e uma cabeça avantajada. É a mesma criatura que tiveram de enfrentar na velha cabana quando se viram pela última vez antes do reencontro no dia 23. Samuel olha e passa o desenho para Liana enquanto pergunta:
- Porque desenhou isso?
Joseph:
- Eu o vi em um sonho, enquanto eu estava na Filadélfia. No meu sonho meu sobrinho disse que eles estavam atrás de nós.
Depois que todos arrumam suas coisas a decisão de partirem imediatamente para Boxford é unânime. Joseph e Samuel ajudam a colocar Liana no carro. Depois que arrumam todas as coisas no carro o grupo pega a estrada.

A CIDADE PARTE II 5:30pm

O carro segue a estrada quase vazia todos estão calados, talvez porque estão nervosos e ansiosos para chegarem. Samuel olha para o espelho retrovisor e percebe que o carro acabou de passar por um homem de bicicleta, isso chama a sua atenção e o faz se inclinar para ver melhor no espelho. Enquanto a imagem se afasta aos poucos ele tem certeza: é o velho mendigo!
Samuel:
- Pára o carro!
Joseph:
- O quê?
Samuel:
- A gente acabou de passar por aquele mendigo desgraçado!
Joseph freia o carro bruscamente enquanto Samuel salta para fora. Joseph sai e olha na direção contrária da estrada, mas não vê ninguém.
Joseph:
- Não tem ninguém andando de bicicleta.
Samuel:
- Eu sei, eu estou vendo. Mas eu vi! Eu juro que vi!
Joseph coloca a mão sobre o ombro de Samuel e volta para o carro.
Após quase uma hora de viagem Samuel não consegue esquecer o que viu,o carro chega na estrada que dá acesso á Boxford, um cavalete bloqueia o acesso, sem hesitar Joseph desvia pelo canteiro e segue cidade a dentro. Cada rua e construção relembram o horror que todos passaram lá. O carro se movimenta lentamente pelas ruas, os olhos buscam por alguém, mas não há uma viva alma sequer na rua. Os postes de iluminação das ruas estão ligados, Joseph estaciona o carro a alguns metros do hotel. Antes de sair do carro ele verifica sua pistola já planejando uma abordagem violenta. Depois que Liana é ajudada a sair do carro o grupo vai até o hotel. A porta do hotel está aberta e as luzes parecem acesas lá dentro. Joseph entra na frente com a arma em punho, no hall de entrada o balcão está vazio e a porta que escondia uma carnificina está aberta. Ele caminha e dá a volta pelo balcão, ao entrar na sala da morte vê que todos os móveis foram removidos, a sala está vazia. Joseph avisa Samuel e Liana que é seguro e podem entrar.
Joseph volta para trás do balcão e começa a procurar por qualquer coisa que possa dizer alguma resposta. Enquanto tateia o balcão levantando os objetos ele encontra um velho caderno debaixo do telefone, ao abrir vê que a maioria das páginas do caderno foram arrancadas, porém entre as folhas a uma com uma longa lista de nomes e ao lado de cada um há “ok”, menos nos últimos três nomes que são: Phillip Thompson (Joseph), Liana Sulivan, e Samuel Jedah Seraf. Joseph não reconhece nenhum nome fora os três últimos. Sem entender do que se trata continua a virar as páginas, a maioria com rabiscos de desenhos sem sentido, mas na última página se repete o que havia no livro encontrado na loja de Frank, os três nomes de Arnold, Kevin, e Jordan com os telefones e endereços do lado. Joseph copia os telefones em um pedaço de papel e o mostra para Liana. Joseph pede para que Samuel fique vigiando a entrada do hotel.
Depois que Samuel percebe que não há perigo do lado de fora ele entra no hotel e avisa Joseph que vai investigar o quarto onde ficaram. Samuel empunha sua espada, a única coisa que ele não perdeu na fuga de Boxford. Ao se aproximar do quarto ele sente uma sensação horrível de que algo vai lhe acontecer. No corredor onde está, já avista a porta quebrada do quarto onde ficaram hospedados. Quando entra encontra as coisas da mesma maneira que estavam, Samuel ao ver seu próprio sangue seco no chão passa a mão sobre seu olho esquerdo. Com passos lentos ele caminha pelo quarto revivendo aqueles momentos ruins enquanto finge para si mesmo que está procurando por algo. Ao chegar perto da janela ele vê uma mulher ao longe, ela esta passando na rua, mas o que mais lhe chama atenção é que a mulher está de pés descalços, veste um vestido negro e seu cabelo é branco. Samuel desce correndo e gritando:
- Eu vi uma mulher lá fora!
Joseph:
- Aonde?
Samuel:
- Do lado direito do hotel!
Joseph sai do hotel correndo, mas quando chega do lado de fora não vê ninguém. Ele caminha lentamente no beco lateral do hotel, desanimado por não encontrar ninguém. Ao dar meia volta em direção a entrada do hotel Joseph escuta um forte barulho nas suas costas! Ele se vira e nota que o barulho veio de uma grande lata de lixo. Ao se aproximar vê que um par de algemas balança na borda da lata. Ele fica surpreso e pega as algemas na mão. Logo se lembra da foto que vira no jornal alguns dias atrás! Ele guarda as algemas no bolso de trás da calça e volta para hotel.
Quando Joseph chega ao hotel ele conta a Liana e Samuel que não encontrou nada e diz para irem para o endereço de Kevin que estava no caderno. Samuel arranca da parede atrás do balcão um mapa da cidade. Todos saem do hotel em direção ao endereço a pé.

O SHOPPING 6:46pm


Quase 30 minutos até o endereço de Kevin, pelo caminho a cidade deserta assusta e tranqüiliza ao mesmo tempo os que temem uma nova retaliação. Samuel pára e aponta para um prédio. Liana pergunta:
- É aqui?
Samuel: - Sim é o número da rua 112/301
Liana: -
Centro comercial de Boxford...
Joseph:
- Ele deve ser dono de alguma loja aí dentro, vamos entrar e ver o que descobrimos.
O vidro da porta dupla da entrada principal está quebrado e a porta aberta. Samuel toma a frente e entra no lugar: as luzes estão acesas, a maioria das lojas está com as grades fechadas, mas não há nenhum sinal de vida dentro do lugar. Pela numeração a loja de Kevin deve ser no terceiro andar, todos tomam o elevador que faz um barulho perturbador ao subir os três andares. A porta se abre, nada muda no cenário, grande parte das lojas está fechada. O grupo caminha até o numero 301, chegando na frente vêem uma grande placa sobre a vitrine: “Kevin’s Tech Store”. Olhando pela vitrine se vê peças de informática. Joseph pega seu novo Lockpick, mas parece que não vai conseguir abrir a porta. Samuel percorre o andar até as escadas de emergência e encontra uma caixa de incêndio onde pega um pequeno machado. Quando volta a frente da loja diz:
- Vamos tentar com isso.
Joseph:
- Não é má idéia, mas me deixe tentar mais um pouco.
Joseph fica algum tempo até que consegue! Custou danos ao Lockpick, mas a grade abriu. Assim que todos entram Samuel acende a luz e eles começam a investigar o lugar. Enquanto investigam pegam placas e peças que caibam nos bolsos, talvez possam valer algum dinheiro.
Joseph abre uma gaveta da mesa onde provavelmente Kevin atendia sua clientela, dentro há um papel que lhe chama a atenção. Parece um atestado médico, nele diz:
“A previsão para data do parto é para o dia 10/10/05”
O cabeçalho é da clinica médica de Boxford e há o carimbo de um doutor chamado Hernest Fursh. Blâm! Enquanto Joseph lê ouve-se o barulho de alguma coisa pesada que acabou de cair dentro da loja! Samuel vai em direção ao som e vê no chão um peso de papel. Logo a sua frente uma prateleira e nela um panfleto: Loja Esotérica da Madame Mei, centro comercial de Boxford, loja 113. Nas costas do papel anotado a caneta: pegar o elevador, primeiro andar, terceira loja à esquerda. Assim que todos lêem o panfleto Joseph mostra o que encontrou na gaveta da mesa e fica se perguntando quem seria essa criança. Mais algum tempo procurando por qualquer pista relevante, mas nada encontram. Samuel pega o machado que deixou do lado de fora da loja e diz:
- Vamos investigar essa loja esotérica antes de sair daqui.
Todos saem da loja e se dirigem até o elevador. Assim que entram o elevador se fecha e começa a descer, Joseph diz:
- Que merda é essa?
Ele procura, mas não encontra os botões, só a parede interna do elevador, quando ele avisa isso a Liana e Joseph o elevador pára e abre a porta. Na frente parece haver outro elevador bem antigo ao estilo gaiola, o tempo que demorou para o primeiro elevador descer faz parecer que a viagem foi maior do que três andares. O elevador da frente é todo em metal enferrujado e com as paredes sujas a vista, sem saída o grupo entra no segundo elevador que começa a descer bruscamente! Joseph dá o primeiro passo para dentro do segundo elevador, Liana e Samuel o seguem e assim que entram o elevador fecha a porta e começa a descer. Todos escutam o forte barulho de máquinas trabalhando, enquanto o elevador desce é possível ver em uma das paredes do poço um grande exaustor que gira lentamente, por trás dele se vê a silhueta humanóide de alguém franzino que observa a viagem do grupo. Joseph dá um passo para trás e aperta os dentes com força. Logo o elevador pára e a porta abre! O medo agora está vivo dentro de cada um dos três.
À frente os corredores parecem ser os da área comercial de dentro do shopping, a luz é muito fraca e parece que o lugar está abandonado a tempos. Joseph dá o primeiro passo para fora do elevador e toma a esquerda procurando pela tal loja esotérica, Liana e Samuel o acompanham. Na terceira loja há uma placa sobre a vitrine em tons de azul e branco com o desenho de uma grande lua e várias estrelas, está escrito o seguinte: “Madame Mei”. A porta está aberta, dentro da loja há uma mesa com uma bola de cristal sobre ela, mandalas, cristais e imagens, tudo bagunçado. Os três entram e procuram qualquer coisa que possa lhes dar uma pista de Kevin.
Joseph abre a porta de um armário de portas duplas, dentro há um grande papel dobrado que lhe chama atenção, ele desdobra e vê muitos pontos, linhas e números - parece ser um mapa astrológico. Na parte de trás do papel está escrito a caneta “oitava tentativa”, logo todos escutam passos vindos do lado de fora da loja onde estão. Todos ficam apreensivos e na porta da loja surge uma figura feminina com vestido negro, cabelos brancos e pés descalços. Samuel a reconhece imediatamente, é a mesma mulher que vira do lado de fora do hotel. A mulher aparenta ter por volta de 30 anos, não expressa nenhuma expressão no rosto, seus olhos azuis quase brancos focam o vazio. Joseph que apontava sua pistola abaixa as mãos lentamente enquanto a mulher entra na loja, Samuel pergunta:
- Quem é você?
Mulher:
- Meu nome é Dyana.
Liana:
- O que você está fazendo aqui?
Dyana:
- Só vim ver se estavam bem. Que bom que estão aqui e estão bem, eu estava procurando por vocês.
Samuel:
- Você está sozinha aqui?
Dyana:
- Sim. Vocês não lembram de mim?
Liana confusa diz:
- Porque deveriamos lembrar?
Samuel:
- Sinto muito mas não me recordo de você.
Dyana:
- Com o tempo se lembrarão de mim.
Samuel:
- Você ia nos dizer alguma coisa? Pode falar.
Dyana:
- Vocês sabem que não estão juntos por acaso, não sabem?Como está seu filho Samuel?
Samuel:
- Não sei, mas acho que não está bem. Como sabe do meu filho?
Dyana:
- Fui eu quem trouxe ele para cá.
Samuel diz apreensivo:
- Ele está aqui?!
Dyana:
- Não aqui.
Joseph impaciente:
- Quem é você?
Dyana:
- Já disse, meu nome é Dyana.
Joseph:
- Não perguntei seu nome. Perguntei quem você é.
Dyana:
- Eu estou aqui para trazê-los de volta.
Joseph:
- Quem?
Dyana:
- Flauros e seus servos.
Joseph:
- Para quê?
Dyana:
- Nascera novo Jardim do Éden.
Samuel:
- E o que temos a ver com isso?
Dyana:
- Isso só vai acontecer graças a vocês.
Joseph:
- Como assim?
Dyana:
- Cada um de vocês saberá como o que está acontecendo. Tudo em seu tempo. Vocês foram os escolhidos, ou foi apenas uma coincidência, mas vejo que estão bem.
Dyana dá alguns passos para frente até a cadeira de rodas de Liana e lhe estende a mão. Liana hesita por um instante, mas aquela mulher não parece querer fazer mal algum agora. Liana pega em sua mão e ela diz:
- Pode levantar Liana.
Liana mexe suas pernas, um sentimento de felicidade toma conta de sua alma, aos poucos Liana fica de pé e não consegue acreditar no que aconteceu! Joseph e Samuel se afastam.
Dyana:
- Quando o novo jardim do Éden for construído, é assim que sua vida será, não precisará mais de sua cadeira.
Samuel ri de maneira irônica e diz:
- Não creio que as coisas serão assim.
Dyana:
- Mas é assim que as coisas vão ser, independente do que você acredita.
Samuel: - Quem é Flauros?
Dyana com um tom de certeza e fé:
- Flauros? Flauros é o grande Deus.Samuel, cuide de seu filho. E você Joseph dê seu sobrinho.
Joseph:
-Como?
Dyana:
- Ele está bem, mas quando puder cuide dele.
Samuel:
- Sabe como está Gabriela? Onde ela está?
Dyana:
- Sei onde está Gabriela.
Samuel:
- Como ela está?
Dyana:
- Bem.
Samuel:
- O acordo ainda é válido?
Dyana:
- Acordo? Disseram que ela estava morta não é?
Samuel:
- Ela não está? Ela esta viva?
Dyana:
- Claro.
Samuel:
- Onde ela está?
Dyana:
- Um dia a encontrará de novo.
Samuel se aproxima de Dyana e implora para que ela diga onde Gabriela está, mas aproxima muito uma forte dor na cabeça derruba os três até que desmaiem.
Quando Joseph abre os olhos um flash de um velho quadro que vira no passado revela que é a imagem de seu sobrinho! Assim que Samuel acorda sua mente faz o mesmo com outra pintura de uma criança do seu passado, porém aquela imagem é a de seu filho que nunca conhecera. Liana abre os olhos, ela sente o cheiro da grama molhada e escuta o som da chuva forte, olhado para frente vê uma densa floresta e o crepúsculo obstruído pela forte chuva no céu. Liana abre os olhos novamente, está em sua cadeira de rodas na loja esotérica, ela olha para Joseph e Samuel que estão se levantando ainda tontos. Aos poucos todos retomam a consciência por completo. Joseph sai da loja, por um instante Joseph está sentado em uma cadeira com braços e pernas amarradas, seus olhos vendados. Ele escuta duas vozes desconhecidas que dizem:
Voz um:
- Ele vai sem lembrar de algo?
Voz dois:
- Nada da verdade.
Joseph volta a si. Ainda está no corredor, as paredes,o chão e o teto do lugar estão precários, parece que cada minuto que passa faz tudo piorar. Em pé ele pensa o que pode ser isso e o que seu passado ainda reserva. Ele repete aquela frase tentando guardar as vozes em sua cabeça para não esquecer. Samuel e Liana saem atrás de Joseph, alguns metros depois há uma loja cuja placa se refere a uma loja de arte que chama atenção de Liana, ela que está para trás entra na loja aberta, o espaço está vazio a não ser pelo balcão de atendimento e por 14 quadros de crianças pendurados pela parede, cada um com um número no canto direito inferior da pintura. Liana tenta manter a calma enquanto em sua mente o medo e a sanidade travam uma batalha árdua. Liana vira o controle de sua cadeira, vai até a entrada da loja e chama por Samuel. Ele se vira e volta até onde Liana está. Joseph escuta e também vai até ela. Quando chegam, Liana mostra as pinturas. Joseph e Samuel não falam nada, apenas observam boquiabertos as imagens penduradas na parede. Joseph caminha até o quadro que remete ao seu sobrinho, parado em frente a ele fica pensando o que significa tudo isso. Há um sentimento de que há alguma coisa naquelas imagens que os três sentem. Samuel pega a pintura de número um e rápidas imagens bombardeiam a mente de todos, carroças, pessoas vestidas de preto, uma bela jovem e uma criança que sumira, isso tudo aconteceu em uma comunidade Amish com Joseph a quase oito anos atrás! A sensação que todos tem é de que estão sonhando acordados, quando suas mentes retomam a autonomia e seus olhos se voltam para os quadros os flashes continuam! O quadro de numero 11, a única imagem de uma criança negra. Imagens dela brincando com Gabriela, com certeza é a imagem do filho de Samuel que ele nunca teve a oportunidade de conhecer. Os quadros cinco e dez, imagens de duas meninas gêmeas que morreram em Fortress em 1933 onde Samuel investigou a uns seis anos atrás. A imagem de número quatro é a mesma do sonho que Joseph teve quando foi para Filadélfia dias atrás, portanto só pode ser seu sobrinho. O quadro de número oito remete a terceira e a última criança que sumiram em Fortress a cinco anos atrás e o décimo quarto quadro mostra a imagem do atestado médico encontrado na mesa de Kevin, da previsão de nascimento para o dia dez de agosto.
Todos ficam confusos e sem saber o que fazer, Samuel tenta associar as datas que tem e se lembrar das datas que encontrou os quadros e das crianças que por um instante esteve presente. Ele desiste e vai até o balcão, quando chega encontra uma folha com quatorze números e em oito deles há nomes do lado:
1- Marbas
2- Cresil
3-
4- Eurynomus
5- Abaddon
6-
7-
8-
9-
10- Abigor
11- Faustus
12-
13-
14- Leviatahn
Olhando essa estranha lista Samuel, reconhece alguns nomes e diz:
- Olhem o que encontrei.
Joseph:
- O quê?
Samuel:
- Uma lista, só pode ser dos quadros.
Liana:
- E o que diz?
Samuel:
- Parece uma lista de demônios, cada um ligado a um quadro que conhecemos. Leviathan por exemplo é um dos lordes mais poderosos do inferno segundo a teologia cristã, Faustus é o que evita a luz, Abigor é o um dos generais do inferno, Abaddon é o destruidor, Marbas é um dos pupilos de Lúcifer, Erynomos, seu sobrinho, é o demônio da morte e Cresil o demônio das impurezas.
Assim que Samuel termina de falar os nomes ele larga o papel em cima do balcão e ascende um cigarro, nesse momento houve-se um som do lado de fora. Parece um choro ou gemido de criança... O som se repete, Joseph empunha sua pistola sai da sala. Quando chega do lado de fora vê uma figura humanóide do tamanho de uma criança de seis ou sete anos, sua pele lembra o mármore branco liso, sua cabeça não tem rosto nem orelhas seus braços pendem do corpo como se não houvesse força para mexê-los, a figura se aproxima lentamente de Joseph, ele empunha a pistola e dispara, o projétil atravessa a criatura, sangue verte de sua estranha carne, o medo assombra a mente de Joseph. Ele dá o segundo disparo que acerta em cheio o peito da figura! A estranha criatura cai inconsciente no chão, uma poça de sangue é seu leito eterno nesse momento. Samuel e Liana saem para ver o que aconteceu, ambos olham aquela “coisa” por alguns segundos como se não quisessem acreditar no que estão vendo.
Joseph:
- Vamos encontrar uma saída.
Samuel:
- Mas só há aquele elevador, e ele está sem botões.
Joseph:
- Viemos sem botões, vamos voltar sem eles.
Enquanto Joseph fica olhando para aquilo que ele matou, Samuel toma a frente e caminha em direção ao elevador. Joseph e Liana o seguem até chegarem ao elevador.Samuel entra e a porta subitamente se fecha! Joseph tenta abrir a porta desesperadamente enquanto Samuel grita por socorro. O elevador sobe lentamente com Samuel dentro...
Joseph se vira para Liana e diz:
- Vamos procurar uma escada ou coisa assim!
Liana não diz nada apenas segue com sua cadeira os passos velozes de Joseph. Ao seguirem os corredores do lugar em busca de uma saída Joseph vê com o canto do olho um vulto! Ao virar sua cabeça ele enxerga seu sobrinho dentro de uma loja através da vitrine. Joseph fica olhando para a criança, seus olhos só lhe inspiram o mais puro mal. Os lábios do pequeno garoto parecem se mover, Joseph presta atenção tentando descobrir o que ele quer dizer quando o vidro da vitrine explode em milhares de cacos! Liana pergunta a Joseph se está tudo bem com ele. Ele apenas olha para dentro da loja para onde o menino deveria estar.
- Ele sumiu! Merda! Apareça!!!
Joseph segue seu caminho pensando no que acabara de ver, em sua mente a razão luta para prevalecer perante a tudo o que está acontecendo, ele olha para o chão, seus ouvidos escutam apenas o barulho do motor elétrico da cadeira de Liana atrás. A sensação de impotência faz ele berrar pelo nome de Samuel em uma tentativa frustrada de encontrá-lo...

A ESTRADA VAZIA EM DIREÇÃO A BOXFORD

A LOJA ESOTÉRICA "MADAME MEI"

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