DIARIO DE PETER
Acredito que já são mais de três anos que estou preso nesta clinica, já não tenho referência de dia ou mês. Oficialmente, eu estou num processo de desintoxicação, mas óbvio que nenhum tratamento dura tantos anos, nem contempla programas não controlados de eletro-choque, de isolamento do mundo externo, de remédios tarja-preta, nem o afastamento dos familiares e internações em salas solitárias. É claro que estou aqui por interesses desconhecidos e eu já havia desistido da luta. Porque essa burocracia sem cara me habituou a viver sedado num quarto sem janela.
Tão surreal quanto o sistema hospitalar, foi a carta que encontrei embaixo de minha porta. Ela anunciou minha libertação, estava assinada por um “J” anônimo. Logo então, recebo um telefonema confirmando minha saída, horas depois meu quarto é destrancado por um sujeito estranho junto a uma das enfermeiras. Eles me levam ao pátio onde um carro desgovernado arromba o portão. Se aquilo não era mais uma alucinação, então era a grande chance de pular fora. E foi o que eu fiz.
Correndo pelas ruas de NY, eu fugi junto com dois homens e uma moça até um hotel de esquina. Samuel, Laura e Victor eram seus nomes. Com exceção de Victor, os demais pareciam ser pacientes da clinica assim como eu. Victor era o único com uma sanidade mental razoável, mas olhando bem para seu rosto, notei que ele é igual ao Mr. Hilton, meu cliente no Hermman Brothers. Posso estar transtornado, não estou acostumado com a viver no mundo externo, porém, me parecia claro que eu estava diante de meu ex-cliente milionário. |Senti medo disto, devo estar enlouquecendo.
Não compreendi minha libertação, também não consegui compreender os três “libertadores”. Eles falavam comigo como se já me conhecessem de longa data, num mundo paralelo repleto objetos místicos, espelhos, portais e outras coisas. Samuel demonstrou interesse nas equações de Carlos, fazia muito tempo que eu não falava sobre elas com alguém e sobre o que eu sabia de física e conspiração. Não consegui falar muito com ele, Samuel me pareceu um sujeito triste com muita dor e angustia. Foi a criatura mais infeliz que já conheci.
Já Laura teve mais paciência para me contar sobre o que eles conheciam do mundo. Suas palavras relatavam algo imaginário misturado com coisas reais envolvendo espelhos, matemático Carlos, mundo paralelo, misticismo científico, fim do mundo e seres zumbis. Laura estava visivelmente alcoolizada, porém, os sóbrios davam crédito a tudo o que ela dizia. Isso sim me deixou mais pasmo. Mesmo assim, concordei com o que eles diziam.
Passei a madrugada pensado em fugir, mas desisti. Seria muito covarde de minha parte abandonar aqueles que me salvara, ainda que eles sejam tão debilitados quanto eu. No outro dia pela manhã, informei que eu tinha uma grana preta na estação central. Fomos até lá um carro roubado e, usando a mesma senha de 4 anos atrás, nós recuperamos a mala com o dinheiro. Fugimos até um prédio abandonado no Bronx. Descobri que meu ajudante anônimo se chama Joseph e ele vinha auxiliando a todos nós, seu ultimo feito foi deixar um bilhete dentro da mala: “Procurem o Local Indicado”. Horas depois, deciframos o código, ele se referia a cidade de Ester no Alasca.
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