BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

FRANÇA


CIDADE DE SANJONIR, FRANÇA


Depois de mais doze horas de viagem de carro por algumas belas paisagens e campos verdejantes, Chegamos a uma pequena cidade vizinha a Ouradur Sur Glane, a cidade que deveríamos visitar. Todos estavam cansados e agradeço a seja qual for à entidade que pôs um pouco de juízo na cabeça dos rapazes porque desta vez descansaríamos e partiríamos pela manha para Ouradur. Não cometeríamos o mesmo erro que na cidade de Bondie, então estava mais tranqüila.


Mas parecia que alguém tinha muita pressa e não estou falando de nenhum de nós...

Despertei com um choro de bebê bem próximo de mim e me deparei com o quarto escuro. O choro não parava e podem imaginar como isso foi perturbador, ainda mais para mim. Logo eu despertei os outros que também ouviram. Tinha alguma coisa muito errada e decidimos partir já para Ouradur. Saímos do quarto e as ruas pareciam desertas, sem uma viva alma. Ao chegar no carro, o espelho estava lá... Sim, aquele mesmo que trancamos no container! Era impressionante a sensação desagradável que o espelho passava quase como a sensação da presença de alguém que você não gosta e acabava de se deparar com ela. Eu via aquilo como um aviso. Algo como “Não pare! Juntem os malditos espelhos antes que seja tarde!” Sem sombra de dúvidas, estávamos novamente na realidade “A”. Sem demora, partimos para a cidade para acabar o mais rápido possível com o pesadelo.




CIDADE DE OURADUR SUR GLANE





Encontramos uma Ouradur diferente do esperado. Outro mistério relacionado à realidade “A” é o fato de que neste plano, o mundo parece ter parado no tempo em alguns locais, mais especificamente em locais de grandes desgraças. Deparamo-nos com uma cidade deserta e marcada pela segunda guerra mundial. Havia dois locais onde o espelho poderia estar se fossemos analisar pelas desgraças ocorridas. A Igreja, onde centenas de mulheres e crianças teriam sido carbonizadas ou o galpão onde centenas de pessoas haviam sido fuziladas. Nenhuma das opções era agradável, mas lá fomos nós a igreja... Porque sempre uma igreja?

Como quase todas as igrejas de cidade pequena, mais pareciam uma grande capela. O diferencial desta era a sua antiguidade e o fato de ser feita de pedra e não concreto. De resto, grandes bancos revirados e queimados, poeira e um altar tomado pela passagem do tempo. Não havia sinal do espelho numa primeira olhada, mas existia a possibilidade de ter algum quarto oculto ou passagem escondida devido à antiguidade deste local. Começamos a procurar sem muito sucesso e estávamos quase desistindo daqui e partindo para a segunda opção, quando a sirene soou...

Uma sirene de guerra soava de todos os lados, anunciando uma desgraça. Temia que aqueles ETES aparecessem novamente, mas logo percebi que poderia ser pior... E o que poderia ser pior do que aqueles monstros? Resposta: Estar presente no ataque nazista, em 1944 no olho do furacão! A porta fechou-se com um estrondo e podíamos ouvir a guerra acontecendo lá fora. Os tiros, os gritos da população, os bombardeiros... Mas o pior foi ouvir o desespero das mulheres tentando entrar na igreja para tentar se proteger. Estávamos presos, podíamos ser bombardeados a qualquer momento e lá fora não era um lugar adequado para um passeio no momento.

Eu estava com medo sim, mas ao contrário do que eu esperava, não estava histérica, não chorava e nem enlouquecia perante a situação. Surpreendi-me por eu estar pensando logicamente numa forma de escapar, pois eu não queria morrer ali. Eu compartilhava do desprezo da humanidade pelo nazismo, mas não podia dizer que sentia na pele o ódio por aqueles canalhas. Agora eu podia sentir o peso do sofrimento daquelas pessoas e o ódio estava me dando força para continuar. Era a única razão que conseguia encontrar para não estar aos gritos como aquelas mulheres lá fora.

Samuel encontrou a passagem que eu não encontrei e apesar da leve desconfiança que não havia nada ali antes, não era importante. Tínhamos uma rota de fuga e descemos as escadas para um túnel escuro, cavado toscamente abaixo da igreja. De lanternas em punho, escolhemos um lado para correr... O lado errado, pois ouvimos passos vindos na nossa direção. Pelo ritmo e pelos sons eram obviamente soldados. Retornamos pelo outro e mais soldados! Estávamos cercados e não restou outra opção além de voltar pela escada e achar outra saída.Não existe pessoa no mundo que esteja preparada para ver o que presenciamos na igreja...

Corpos carbonizados espalhados por toda igreja! Na grande maioria mulheres e crianças. Era como se o lugar tivesse sido incendiado com todas aquelas pessoas dentro. Já não bastava a situação ruim, Samuel começou a pirar! Parecia ter se entregado a insanidade e os corpos pareciam arrastá-lo para o inferno em que se encontravam. Eu lamentava muito por aquelas pobres almas, mas Samuel não seria tragado por eles! Apanhei a espada dele que caíra no chão e ataquei os infelizes carbonizados que não ofereceram resistência. Seus corpos se partiam como gravetos secos e só o fato de tirar Samuel dali é que me impedia de chorar por cada vida que eu precisava ceifar... Mal reparei numa mãe desesperada que nos estendia o seu filho, ambos gravemente queimados, para tirá-lo daquele inferno. Foi à única imagem que me fez pensar por um segundo antes de lembrar que precisava sair dali. Mais tarde eu entenderia por que.

Presenciamos todo esse inferno e a história estava longe de terminar. Não conseguiríamos sair sem o espelho e todos pareciam exaustos, física e mentalmente. Samuel então era o pior de todos. Fazia um esforço sobre humano para se manter presente e racional. Devolvi a espada a ele e continuamos em frente. Só restava o local do fuzilamento para verificar e do jeito que andava a nossa sorte era melhor que fossemos rápidos. Chegamos ao galpão e verificamos o ambiente. Escombros, lixo... Poderia demorar a achar o espelho, embora eu não conseguisse ver as razões para ele estar ali. Não houve tempo para procurar mais, pois a história iria começar...

O pelotão de fuzilamento da SS aproximava para fazer a sua parte. Ver aquilo de longe para alguém mais sensível é muito perturbador, mas o destino nos colocaria numa posição ainda pior. Saímos para verificar e quando percebemos já era tarde... Estávamos entre os condenados e seriamos fuzilados em nome da supremacia ariana. Todos nós levamos os tiros e não há o que descrever em palavras. Só sentir que a humanidade pode ter se rebaixado a tal ponto e a dor é o de menos. Pior para nós que saberíamos que essa história se repetiria por anos antes que a guerra terminasse. A pior sensação? Sentir-me apenas mais uma, morta como muitos outros que mereciam viver e foram jogados no limbo pela vontade de um bando de desgraçados que se julgavam melhores que os outros.

Por alguns momentos, deitada no chão crispada de balas, ouvia o pelotão se afastar havia perdido a esperança. Tentei lembrar motivos para não desistir, mas nada vinha. Foi quando olhei em volta, para meus companheiros ali deitados, pela minha promessa, pelo filho que eu tinha no ventre... Novamente subiu aquele ódio que não me deixa parar. Eu não ia me render! Comecei a raciocinar e lembrar que por mais terrível que fosse esta não é a nossa realidade. Levantei lentamente e mesmo estando baleada, podia me mexer. Depois disso comecei a pensar no que estávamos fazendo de errado... Onde poderia estar o espelho? Foi quando um dos homens fuzilados implorava ao Samuel que salvasse seu filho, foi que passei a entender...


Na hora é óbvio que não pensei, mas fizemos o que deveria ter sido feito antes. Voltamos à igreja, onde aquela mulher pediu para levarmos o filho dela. Samuel já quase não tinha razão, apenas o mínimo para terminar o trabalho. Ele apanhou a criança e correu para a casa que o homem tinha indicado como sendo sua. Era uma das muitas casas fumegantes e arrasadas da cidade, mas com algo mais... Encontramos o quarto da criança, onde ao lado de um berço, estava o espelho. Samuel deixou a criança na cama, onde ela descansaria em paz.

Só pensaria nisso dias depois... Se tivesse perguntado a mulher e o homem seus nomes, provavelmente descobriríamos que se tratava da família de Ardoin Martin. Isso talvez facilitasse a busca no momento, mas na hora não havia como raciocinar. Muitas lições foram aprendidas e muitas feridas ainda restam para fechar... Mas sobreviveremos. Apesar dos pesares, Agora o espelho PURGATÓRIO era nosso e faltava apenas mais um.



ORADUR

SOLDADOS NAZISTAS

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