BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

sábado, 20 de dezembro de 2008

24/01/2006 II




Torre Norte do Monastério São Miguel Arcanjo 24/01/2006 - 11:51pm


Depois do incidente nas escadas, eles continuam pelos corredores até chegar a porta que dá acesso à torre. Joseph pega suas ferramentas de arrombamento e começa a arrombar a porta. Alguns minutos, Joseph atinge seu objetivo. A porta se abre e Joseph percebe que uma de suas ferramentas foi seriamente danificada.
A porta revela uma escada que sobe. Joseph toma a dianteira com uma pistola em punho. No final da escada, revela-se uma porta diferente de todas as outras.
Joseph: - Acho que é aqui.
Aproximando-se da porta, o grupo escuta sons vindos de trás dela. Joseph percebe que uma luz ascende-se dentro do aposento.
Pela porta o grupo escuta uma voz masculina: – São vocês? Joseph?
Joseph: – Carlos?
Homem: – Não, não, não, não, não...
Joseph: – Nos deixe entrar. Estamos aqui pra lhe ajudar.
Homem: – Não, vcs não deveriam ter vindo está tudo certo
Joseph: – É você Carlos?
Carlos: – Vocês sabem quem eu sou. Ahhh meu Deus...digam que ela não está ai...digam...ahhh
Joseph: – “Ela” quem? Liana?
Carlos: - Naaaaaaaão. Vai embora.
Joseph: – Deixe eu entrar... Ela não está aqui.
Carlos: – Eu sei que ela está aqui, eu sei...vá embora... Ta tudo certo, meu Deus está tudo certo...
Joseph: – Carlos, você sabe que só nós podemos te ajudar
Carlos: – Mas ela está aí.
Joseph: – Deixe eu entrar, prometo que ela não vai entrar comigo, prometo.
Carlos: - Volta depois, volta depois, não agora...
Joseph: - Carlos, nós atravessamos um oceano pra te encontrar, enfrentamos os piores demônios só pra te encontrar. Não haverá “depois”. Deixe- me entrar agora.




Silêncio. A maçaneta começa a girar. A porta se abre. Ao fundo há um homem de costas. Joseph entra calmamente, vasculhando com os olhos todos os cantos do aposento, Há números escritos em todas as paredes. Carlos, agora mais calmo começa a falar:




Carlos: –Isso não é bom...isso não é bom...
Joseph: – Calma...estamos aqui pra te ajudar.
Carlos: – Vocês não tem como me ajudar... Os números estavam certos.
Samuel: – Nós estamos aqui pra mudar tudo isso.
Carlos: - Não tem como mudar nada...está tudo escrito.
Joseph: - Aonde? Nas paredes?
Carlos: – Em tudo...os números estão em tudo...
Joseph: – Se não há como mudar, temos que encarar tudo isso... Só você pode nos ajudar.
Carlos: – Não tenho como ajudar vocês, só vocês podem se ajudar.
Samuel: - Como?
Carlos: - Só vocês sabem as respostas.
Joseph: – Você está aqui porque é teu desejo. Você pode mudar isso. Venha com nós.
Carlos: – Eu não posso.
Joseph: – Por que?
Carlos: - Porque meu propósito não é esse.
Samuel: – Qual o seu propósito afinal?
Carlos: – Estar aqui esperando por vocês... E depois não... Eu tenho que descobrir... Eu TENHO que descobrir...
Joseph: – Descobrir o que?
Carlos: – AQUI...está aqui. [Carlos bate com a mão na parede indicando vários números desconexos] É isso...ou não é isso?!
Joseph: – Isso o que?
Carlos: – Esse número...esse número...Preciso mudar esse número.
Joseph: – Como?
Carlos: – Não sei...não sei... estou confuso...
Joseph: – Esse número dá nove?
Carlos: – Sim.
Samuel: – O que é esse número, afinal?!
Carlos – É o FIM...o FIM.
Joseph: – Quando é o Fim?
Carlos: – Esse é o número do Fim. Ou é esse? Eu não sei...
Samuel: – Quantas possibilidades você achou.
Carlos: – Três...em duas.
Joseph: – Como?
Carlos: – Esses números: um, dez, um, nove, nove, sete ... tenho que mudar esse número...tenho que mudar ele.
Joseph: – E como?
Carlos: – Eu não sei... esse aqui: quatro, seis, dois, seis.
Joseph: – O que representa isso?
Carlos: – É um Fim... Acho que é uma data. Meu Deus...Eu não agüento mais isso. Vocês sabem como eu soube que vocês viriam aqui?
Samuel: – Como?
Carlos: – Os númros me disseram. Eu calculei tudo. Eu sabia que hoje vocês estariam aqui. Não... NÃOOO. Não me obriga a fazer coisas que eu não quero...
Joseph: – É por isso que você está vivo...
Carlos: – Eu quero que isso acabe...
Samuel: – Vc acredita em Deus?
Carlos: – Claro que eu acredito.
Samuel:- Ele lhe deu um Dom...você não pode desperdiça-lo.
Carlos: – Isso não é um dom...É uma maldição. Vivi além do meu propósito...agora minha missão acabou. Esses números são vcs...eu não posso encontrar uma respostas pra eles...só vocês podem encontrar a resposta. Vocês são a chave pra tudo isso.
Joseph: – Nós não entendemos isso.
Carlos: – Eu também não entendo...
Joseph: – Você sabia que viríamos aqui esta noite?
Carlos: – Sim.
Joseph: – E POR QUE VC ACHA QUE VIEMOS AQUI? PRA IR EMBORA DE MÃOS ABANANDO?
Carlos: Vocês vieram aqui para ver esses númros.
Joseph: – ESSES NÚMEROS NÃO ME DIZEM NADA, ABSOLUTAMENTE NADA.
Carlos: – TEM QUE DIZER... TEM QUE DIZER ALGUMA COISA...
Joseph: – Então quais são os resultados?
Carlos: – Acho que é uma data....É isso, é uma data.
Joseph: – Quais são os números ?
Carlos: – Zero, um, um, zero,um nove, nove, sete.
Joseph: – É uma data... Mas ela já passou.
Carlos: – Zero, quatro, zero, seis, dois, zero, zero, seis.
Carlos: – Prestem a atenção em tudo que os cerca. Preste atenção em tudo que aconteceu na vida de vocês... Até vocês chegarem aqui. Está tudo nesses números. Esta tudo no Nove. Tudo é o Nove.
Liana entra no quarto e pela primeira vez fita Carlos nos olhos.
Carlos: – Por que ela entrou? Vcs disseram que ela não iria entrar. Por que ela entrou? – Carlos começa a chorar deseperadamente!
Joseph:– Acalme-se, ela não fará nenhum mal. Ela é nossa amiga. Nossa irmã.
Carlos: – Não, não... [Joseph pousa sua mão levemente na cabeça de Carlos.]
Joseph: – Por que você tem medo dela? Ou tens medeo do que via acontecer com ela?
Carlos: – Ela é sua amiga? Você a ama?
Joseph: – Claro que a amo. Ela é minha irmã. Não de sangue, mas de espirito.
Carlos: – E se você tivesse que fazer uma escolha? Se vc tivesse que escolher entre a vida dela...e a de todos nós....? Todos nós pudemos depender da vida dela.
Joseph: – Como assim?
Carlos: – Ela está grávida, não está?
Liana: – Sim. Explique-se.
Carlos: – Está nos números. Acho que pode nascer dela.
Liana: – O que vai nascer de mim? O que?
Samuel: – O Adversário?
Carlos apenas acena positivamente com a cabeça. Samuel baixa sua até seus olhos encontrar o chão.
Joseph: – E se não for ele?
Carlos: – Se não for...se não for, então é a nossa Salvação. Que horas são? Vocês precisam ir embora agora.
Samuel: – Venha conosco então.
Carlos: – Eu não posso. Você sabe que não posso.
Samuel: – Qual o próximo passo? Nossa jornada acaba em você.
Joseph: – Nós temos as datas. Vamos embora. Ele sabe o que diz. Há mais alguma coisa que possamos fazer por você?
Carlos: – Quero que quando vcs saírem, que apaguem todas as velas do corredor. Vão, rápido.
Joseph coloca a mão atrás da nuca de Carlos e faz com que sua cabeça encontre seu peito em um abraço fraterno. Joseph sai sem olhar para trás. Liana sai logo atrás de Joseph. Antes de fechar a porta, Samuel o olha pela última vez. Carlos está em pé. Sua cabeça baixa revela o destino que o aguarda. Samuel fecha seus olhos e fecha a porta. Em seus pensamentos, Liana torce pra que Carlos não morra. Esse é o destino dos escolhidos por Deus?




AS TREVAS...





As velas vão sendo apagadas, conforme a orientação de Carlos. Quando a última vela se apaga, um vento gelado é sentido por todos e uma escuridão total cobre o local. Eles começam a andar na escuridão. Percebesse que o chão mudou de forma, ele parece metal. Samuel retorna o seu passo com receio, a chama do isqueiro ilumina na escuridão. Samuel vê algo que não sabe o que é. Um movimento de Samuel faz com que a sombra se mova, a porta que antes havia naquele corredor não existe mais. Um grito de medo é ouvido! Samuel reconhece a voz, então ele chega até a porta e a chuta, ela não abre. Ele repete por mais duas vezes o golpe até ela abrir quando finalmente um fedor sai do local e os faz quase vomitar. O cheiro de carne podre é insuportável Samuel vai até o banheiro onde há luz elétrica esta acessa e Samuel vê uma mulher. É Gabriela ajoelhada com firidas abertas vomitando ao vaso fétido, ele se ajoelha e anda até ela assim se arrastando desesperado em sua direção. Ele a toma em seus braços...

Gabriela: – Pegaram meu filho. Pegaram nosso filho.
Samuel: – Quem pegou?
Gabriela: – Traga ele de volta pra mim.
Samuel: – Não, agora eu vou ficar aqui com você.
Gabriela: – Não, cuida do meu filho, por favor. Não pode ficar comigo
Joseph: – Vamos encontra seu filho.



Atrás de todos uma voz tranquila de uma jovem mulher ecoa:
– Não... Não mesmo Joseph.



Joseph olha sobre seu ombro, assustado com a voz que acaba de escutar.



Joseph: – Irmã?
Irmã de Joseph: – Não Joseph, temos que cuidar de meu filho, seu sobrinho.
Joseph: – E onde ele está?



Irmã de Joseph: – Esta em um lugar seguro, ele está bem...Por enquanto...
Joseph: – E onde é esse lugar?
Irmã de Joseph: - Não sei...
Joseph: – E quem sabe? Como você sabe que ele está bem?
Irmã de Joseph: – Você não pode salvar o filho do negro, você tem que salvar o seu sobrinho.
Joseph: – Vc está dizendo que é possível salvar apenas um?
Irmã de Joseph: – Sim...
Joseph: – Como isso é possível, por que não posso salvar os dois?
Irmã de Joseph: – Não sei... Não sou eu quem faz as regras.
Samuel: vira-se e pergunta – Quem faz então?
Irmã de Joseph: – Não sei... Deus?
Liana: – Que lugar é esse então?
Irmã de Joseph: – Aqui? Aqui é a realidade. O Mundo real
Samuel: – Meu filho está aqui?
Irmã de Joseph: – Eu acho que sim.
Joseph: – Onde?
Irmã de Joseph: – Eu não sei... Eu não sei... Não vamos entrar em detalhes. Saiam daqui, vocês precisam voltar, precisam voltar agora.
Samuel: – Gabriela, eu prometo que vou encontrar nosso filho e prometo que vou tirar você daqui. Esses demônios vão pagar caro por tudo que eles fizeram com nós...com nosso filho.






Samuel se levanta do chão e anda firme até a porta... Olha talvez pela última vez o rosto de Gabriela, um misto de terror e esperança, e sai enquanto esmurra a parede com um soco. Joseph vai até sua irmã e, em um movimento suave e ao mesmo tempo rápido, ele a abraça.




Joseph: – Como posso resolver essa situação?
Irmã de Joseph: – Faça uma escolha Joseph, você precisa escolher.
Joseph: – Eu não posso.
Irmã de Joseph: – Joseph, eu estou a muito tempo presa aqui, estou esperando que você faça a coisa certa, que você faça a escolha certa. Faça Joseph, apenas faça. As coisas vão ficar difíceis pra vocês.
Joseph: – As coisas sempre foram difíceis. Eu vou achá-lo.




Joseph sai do quarto sem olhar para trás. Liana o segue. Samuel vislumbra um céu vermelho em uma pequena janela no corredor. A fumaça de seu cigarro parece dançar a sua volta a cada baforada, uma dança triste. A sensação de mal estar passa. O céu fica escuro. Eles finalmente voltam. O silêncio volta a preencher o local. Samuel caminha em direção a porta principal. Eles avistam o carro escondido sob a grama alta onde haviam deixado. A chuva fina ainda cai delicadamente...

Carlos, o matematico

Gabriela

Saindo do local...

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