BEM VINDOS

Somos um grupo de RPG que está jogando uma campanha há 11 anos, o sistema de regras que uso é de criação minha e devido ao gênero de jogo a batizei de HORROR. Em todo esse tempo dentro do jogo aconteceram muitas coisas que gostaríamos de imortalizar e a melhor maneira que encontramos para fazer isso foi tranformar o jogo em uma história dinâmica. A história que começa nesse espaço é o inicio do quarto ano que começamos em 2007, a cada sessão de jogo transcrevemos todo o acontecido em forma de história para gravarmos em nossas memórias a angustia vivida pelas almas de cada um e compartilharmos com aqueles que apreciam o gênero. Ao lado direito da página na seção "cada dia uma angústia" a história começa no dia 23/09/2005.

terça-feira, 12 de maio de 2009

29 E 30 DE JANEIRO

MADRUGADA DO DIA 28 PARA 29 DE JANEIRO

Que conste neste diário o mistério do dia 28 de Janeiro, pois não tenho a menor idéia do que aconteceu. Soube por informações posteriores o seguinte:

Peter estava na direção na noite do dia 28. Estavam todos dormindo e ele estava a muitas horas na direção. Quando começou a pestanejar, pensou em chamar outro para a direção... Mas não antes de um deja-vu com o pai dele, Gaspar. Se for sonho ou não, não importa. Por conta deste sonho, Peter causa um desastre! Estava para bater de frente com outro veículo e desviou bruscamente para fora da estrada e não lembro de mais nada, pois perdi a consciência.

Quando acordamos é que foi o problema... Estávamos todos num caminhão, indo pela estrada de Montana em direção a Billings. Ninguém lembra como chegou ali e na teoria não deveríamos estar ali. Ao questionar Josh, o motorista, Ele afirmou que estávamos andando pela estrada quando pedimos carona. Era inexplicável, pois quando nos viu era noite ou quase do dia 30... O que houve naquele maldito dia? Eu ainda hei de descobrir, por mais que os outros não queriam saber.

CIDADE DE BILLINGS, DIA 30 DE JANEIRO. CASA DE PETER.

Finalmente chegamos à cidade. Estava muito frio e as roupas de Liana não eram o melhor para o clima. Tivemos que andar um bocado. Por isso percebi uma típica cidade pequena do interior numa noite de inverno. Eu tremia bastante e logo constei que não era apenas o frio. Uma sensação estranha me tomava, um arrepio, o frio na barriga e meu sangue pulsando com força nas veias me avisavam, mas não queria acreditar. Porém, quando vimos à casa da família de Peter e olhar em volta, passei a ter certeza... Novamente estávamos lá, na realidade alternativa.

Tudo indicava que aquele local estava abandonado há tempos. Perguntava-me onde estariam as pessoas da casa quando achamos à mãe de Peter. Estava na sala de estar, sentada numa cadeira de frente para uma lareira apagada. Tinha o olhar perdido e uma arma ao alcance da mão em cima das pernas. Peter foi até ela e me fez pensar o que eu faria quando reencontrasse a minha. Ela parecia realmente perdida. Não sabia por que estava ali. Ela sofria muito por estar lá sozinha naquele mundo cinzento e não a culpo pelo que pensava em fazer. Pretendia usar a arma para se matar, fugir, se ver livre do tormento. É claro que não permitimos e a retiramos de perto dela. Não seria por aquela arma que ela seria morta. Sei disso, pois ela passou a me pertencer. Meses passarão e será esse mesmo revolver o meu instrumento de defesa.

Algum tempo depois, o Telefone de Peter toca outra vez. Trata-se da amiga dela, chamada Margaret. Ela afirmava que tinha algo muito importante a dizer e que Peter devia ir ao Sanatório da cidade. Maldita realidade! Porque um sanatório? Pensei que era uma provocação direta a minha pessoa... Sim, comecei a ficar paranóica. Estava apavorada, mas eu não podia ficar para trás.

A Única coisa que me movia era o constante pensamento de que não era a mim este teste, mas ao Peter. Fora o fato de que precisava me mostrar útil, já que eu era apenas a garota que era necessária para salvar o mundo... Ou destruí-lo.

No caminho, uma amostra do que viria... Pegamos o carro de Gaspar e partimos. No caminho, uma mulher de vestido negro, cabelos desgrenhados, pálida, uma coitada andando pelo acostamento como um zumbi. Como não conseguia a atenção dela, Samuel parou o carro e foi até ela. Não podia ver o rosto com o cabelo na frente e quando levantou, se arrependeu. Era eu... Uma versão destruída e sem vida de mim! Grávida e completamente louca. Sabe o que é a sensação de ouvir seu próprio grito de desespero de algo que tu poderias se tornar? Não queiram saber! Não foi apenas esse o recado... Alguma coisa deixou as iniciais “G.M” no vidro úmido. Fantasmas, sombras, chamem do que quiser.

SANATÓRIO EM BILLINGS, NOITE DO DIA 30 DE JANEIRO

Acredito que sanatórios são todos iguais. Possuem a mesma energia negativa e destruidora. Se alguém quis construí-los para restaurar a sanidade de alguém, falhou miseravelmente. Um antro de loucura, caos e negatividade que afeta todos que trabalham e vivem ali. Agora imaginem um lugar destes na Realidade Alternativa, onde estas sensações são triplicadas. As pessoas lutam para se manter longe de um sanatório e nós ali, procurando uma entrada...

Não havia outro lugar possível além da porta da frente. Nesta realidade, somos obrigados a enfrentar os medos que tentamos ocultar. Separamo-nos por um momento, mas foi o suficiente para Peter desaparecer de nossa vista. Lembram que esta é a cidade de Peter certo? As provações que viriam, dizia respeito à vida dele. Cabia a nós impedir que ele se perdesse nas brumas de seus próprios medos. Entramos no local as pressas, pois Samuel temia que algo realmente ruim acontecesse. Escutamos gritos ao longe e corremos todos, com as armas na mão, esperando sempre as piores situações.

Chegamos a um dos quartos, que eram iguais a todos os outros destinados aos pacientes, com uma coisa diferente. Havia um prontuário ao lado desta, mas mal a vimos ao entrar no quarto. Lá estava Peter, amarrado a uma daquelas macas, gritando desesperadamente para tirá-lo, o que fizemos rapidamente. Depois de os ânimos se acalmarem, percebemos os detalhes e descobrimos que este seria o quarto de Peter. O Prontuário ao lado da porta descrevia uma criança altamente problemática, o que me surpreendeu, pois jamais imaginava Peter passando por este lugar... Realmente nossas Histórias pareciam cada vez mais próximas, e eu não gostava dessa “afinidade” com o grupo... Cada vez maior.

Adentramos mais o sanatório, procurando a amiga de Peter. Eu sabia que cedo ou tarde nos a encontraríamos, mas eu pessoalmente não queria prolongar meu tempo ali. Estava usando toda a minha força de vontade para não correr, gritar ou chorar. Meus sentidos estavam em alerta a qualquer movimento ou ruído, enquanto percorríamos os corredores. Finalmente percebemos uma presença em uma das salas e fomos verificar. Era uma sala grande, com varias camas e um fedor de morte pairando por tudo... Não era para menos, pois o local estava cheio de cadáveres! Enquanto nossos organismos processavam aquela imagem grotesca, vimos uma mulher de costas para nós, com trajes de paciente, de pé alguns metros a nossa frente. Seria ela a Margaret? Não me lembro muito bem quem tomou a iniciativa de se aproximar, mas a mulher ao se voltar parecia mais morta que viva! A pele cinza, olhos vazios e o estado em que se encontrava eram apavorantes. Atacou-nos sem mais nem menos!

Caiu em cima de Peter, como se quisesse devorá-lo! A mulher tinha uma força sobre humana, como em muitos loucos que já vi enlouquecer. São necessárias muitas pessoas para segurar alguém nesse estado e nesse caso não foi diferente.

Samuel e Victor se esforçavam em tirar a mulher e eu tentava atirar nela, mas tremia demais para ser uma atiradora efetiva, mesmo a queima roupa. Não restou muita alternativa e ela acabou morta... Era ela ou nós, como dizia a celebre frase.

Voltamo-nos para sair e nos deparamos com uma situação inusitada... Uma criança, provavelmente com menos de 10 anos de idade. Um menino loiro, pele branca, olhos azuis... Era Peter! O jovem Peter, não havia dúvidas quanto a isso! Se acharem estranho ver duas versões de uma mesma pessoa, imagina ver a criança que esta pessoa foi. As informações a seguir não são menos perturbadoras. Resumindo os fatos, a vida de Peter teria sido uma grande mentira. Tudo pelo qual acreditava ter passado, como a época de faculdade, por exemplo, nunca teria acontecido. Teria sido interno deste sanatório por muitos anos e foi lá que conheceu Margaret, que era uma funcionaria do local. Pessoalmente não prestei muita atenção na hora, pois era uma historia muito confusa. Não serão possíveis maiores explicações, pois desconheço a história de vida de Peter e dos demais. Quem sabe um dia...

O Peter criança, depois de ter seus desejos infantis saciados com a nossa ajuda, Nos levou até a sala onde estava Margaret. Era um escritório simples com o parecia ser uma janela para uma sala escura. Ela era uma senhora de meia idade, cabelos pretos, olhos castanhos. Ela confirmou a história do jovem Peter. Margaret era a mulher que cuidava pessoalmente de Peter, fazendo isso na longa temporada que passou no sanatório. Algum de nós questionou o porquê de ela saber tanto sobre nós e porque dava aquelas dicas. Quando ela se dirigiu a um grande botão vermelho e o apertou, instintivamente segurei a coronha do revolver com mais força, esperando outra coisa que nos atacasse....

Antes tivesse sido isso...

As luzes na grande janela se acendem e apareceu uma mulher, obviamente sentindo muita dor, algo comum em uma mulher dando a luz. Um médico sinistro, cujo rosto não aparecia devido a uma mascara para cirurgias, realizava o parto. A mulher parecia estar numa mistura de dor e medo, como se não quisesse ter o bebe naquele quarto bizarro mas não tivesse escolha. Quando olhei aos rapazes para ver sua reação, estavam paralisados com uma expressão de terror em suas faces. Momentos depois, estavam tentando quebrar o vidro e impedir que aquela tortura continuasse. Subitamente eu percebi quem era ela... Não lembro se os rapazes mencionaram o nome ou simplesmente juntei os pauzinhos, mas o nome veio como um raio pela minha mente...

Liana... Era Liana... A minha suposta Antagonista, a mulher cujas roupas agora eu vestia...

O bebe finalmente nascera e o médico o cobria com toalhas, impedindo a visão do rosto do recém nascido. Mas o médico ia nos mostrar... Saberíamos finalmente como é o bebê que salvaria o mundo... No ultimo segundo, tudo escurece. Não há mais parto, Liana, bebê... Nada. Apenas sombras. O desespero tomou conta deles que queria forçar Margaret a fazer de novo. Ela disse que nada mais conseguiriam ali e deveriam perguntar ao Gaspar para achar as respostas e que provavelmente o achariam no porão da casa de Peter. Acabaram por ferir a coitada e deixando ela inconsciente por causa de atitudes impensadas. Victor tentou apertar o botão para ver novamente Liana, mas viu apenas a si mesmo amarrado numa cadeira, sendo “tratado” pelo mesmo médico sinistro de antes. A dor que Victor parecia sentir era quase contagiosa, de modo que apertei o botão para desligar aquela visão. Minha teoria é que a visão que apareceria ali era diferente para cada um... Eu que não apertaria aquele botão.

PORÃO DA CASA DE PETER, NOITE DO DIA 30, REALIDADE ALTERNATIVA

Depois de deixar a pobre Margaret confortável e com alguns curativos, Nos dirigimos de Volta a Casa de Peter. Chegamos lá sem maiores surpresas pelo caminho. A Ansiedade era tal que mal me lembro de ter passado pela mãe dele e nos dirigido ao Porão. Chegamos lá e nos deparamos com um quarto cheiro de fotos, formulas e papeis preenchendo as paredes. Uma escrivaninha e uma cama compunham o resto do ambiente. Logo tive o prazer de conhecer o Gaspar... Era um homem que aparentava ser mais velho que sua idade real. Resumindo a minha impressão, ele me pareceu um daqueles estereotipo de cientista maluco, com direito a barba e todo o resto ou um mendigo se preferir. Aquele era o homem que de certa forma causou a atual situação em que nos encontrávamos, mas não senti raiva dele como achei que sentiria. O homem era tão vítima quanto qualquer um de nós com uma experiência que ninguém deveria saber. Mas a verdade é que alguém precisa terminar o que ele começou. E apesar de tudo, ele poderia ter respostas para os meus demônios e como tirá-los de minha vida.

Sua teoria é complexa demais e precisei me esforçar para entender o que ele dizia. Para que eu me faça entender, explicarei da forma mais simples que posso:

- A realidade alternativa, que passarei a chamar de realidade "A", segundo os estudos de Gaspar seria a verdadeira realidade, a original ou a origem. O mundo que conhecemos seria uma ilusão ou uma proteção que nos foi imposta por nossas mentes ou alguma outra coisa.

- A realidade "A" seria um reflexo dos nossos pensamentos e sentimentos. Nossos maiores medos ou desejos se tornam realidade palpável e pessoas aparentemente mortas no mundo real "ressuscitam" com todas as lembranças de antes da morte. Apesar de poder haver interações, as pessoas mortas só conseguem existir na realidade "A".

- Poucos podem acessar a realidade "A". Até onde posso comprovar, são pessoas com lacunas sombrias em seu próprio passado ou com contas a ajustar. Não existe um controle sobre a entrada ou saída da realidade "A". A pessoa entra e até que enfrente a realidade, seus maiores temores, seus segredos sombrios ou o que quer que o tenha levado ali, não sairá até resolve-lo... Ou morrer. Até hoje só posso corroborar, com grande alívio, a primeira parte.

- Gaspar afirma que em seus estudos descobriu como entrar na realidade "A", mas não como sair. Teria algo a ver com a sua cama. Na realidade tratava-se de outro artefato que contarei no devido tempo.

- Através de cálculos que não compreendi, teria se chegado a três datas específicas. Uma delas é o aniversário de Samuel. O Filho do mesmo seria um dos filhos do inferno. Ainda não sei o que significa.

Todos os acontecimentos até o momento não seriam por acaso e tudo estaria interligado. O filho de Samuel, a gravidez de Liana, a minha própria futura gravidez, os filhos de Liana e meu estarem destinados a estarem de lados opostos, os ETES... Ainda não encontrei a ligação. Gaspar podia ser um homem perturbador e foi quando olhou diretamente para mim e perguntou se estava preparada para ser mãe. Oras, estava tão assustada que concordei, embora no âmago do meu ser desejava que nunca passasse por esta provação.

Entendi que Gaspar aproveitava aquela oportunidade para passar todo o conhecimento para Peter. Tudo aquilo que descobrira e precisava passar adiante... Como ja tinha dito, alguém precisa terminar o que ele começou. Por causa de seu aparente abatimento, eu temia o que poderia vir a seguir sobre o destino que Gaspar escolheria para ele... Foi ainda pior! Pediu para aliviar a mãe de Peter deste sofrimento e a matasse. Pensei num protesto veemente que sairia de minha boca, mas acabei por me calar.

Este assunto era muito delicado para eu dar uma opinião e depois eu não me sentia a vontade naquela situação. Seria mesmo o certo? Matar a própria mãe? Este velho já perdera a muito tempo a noção moral e só via o ponto de vista pratico... Para não sofrer, se mate. Simples assim.

Eu odeio estar certa as vezes... Quando saímos do quarto, ouvimos um tiro de escopeta, um corpo caindo e estava tudo acabado. Velho desgraçado! Não só impôs uma escolha impossível para o filho e um fardo terrível, mas resolveu fugir da responsabilidade explodindo a própria cabeça! Mas sabem o pior de tudo? Peter aceitou... Acabou por matar a própria mãe. Não poderíamos ter tentado levá-la conosco? Não havia outra solução? Precisava ter chegado a esse extremo? Eu provavelmente teria sentido vontade de acabar com tudo... Um tiro na cabeça e adeus sofrimento. Pelo jeito que estava depois, não duvido que isso também tenha ocorrido a ele. A realidade a nossa volta, como que percebendo nosso sofrimento, Lamentou... Um lamento agudo de varias almas que talvez tenham passado pela mesma coisa e isso era demais para nossas consciências. Sentíamos dor, como centenas de punhais nos acertando, como a culpa atingindo todos nós. Victor de repente ajoelhou e rezou. Sua convicção era louvável, mas me perguntava se Deus chegaria até aqui... Logo tudo para. Os lamentos cessam, as aparições desaparecem, a névoa dispersa e a escuridão cedem lugar ao sol... Se realmente a fé de Victor que nos salvou, eu não sei. Porém é mais reconfortante pensar que foi. A ultima coisa que queria era que nós perdêssemos as esperanças.

CARONA NA ESTRADA

BILLINGS DESERTA


SANATORIO

CASA DE PETER
ARMA QUE MATOU MÃE DE PETER

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